segunda-feira, 13 de junho de 2016

O HOMEM E OS BICHOS

FERNANDO AZEVEDO

Morreu no dia 5.6.16 JOSÉ SOARES DE AZEVEDO, nosso papagaio com mais de trinta anos. José

nasceu em Goiás e me foi presenteado por Dulcineia e Guilherme Dourado. Nessa época

morava na minha casa da qual guardei 100m2 para mim. Antes 1.500m2 de terreno onde de

tudo plantei e de tudo colhi e comi. Minhas bananeiras davam as primeiras bananas aos

sabiás. Na grama os canários da terra comiam as rações que espalhava que me lembravam das

cores brasileiras que aprendi a ver no gramado do Náutico, eu ainda criança. No mínimo cinco

pastores alemães nos faziam companhia, guardavam a casa e ensinavam aos meus filhos esse

sentimento d e compreensão que deve haver entre os homens e a natureza. Foram os

cachorros que ensinaram amor, sexo, reprodução e amamentação a todas as crianças que

viviam na nossa casa. Na minha memória vem Tupã o fox-terrier da minha infância. Casei com

uma cachorreira uma verdadeira apaixonada por bichos e assim foi nossa vida. Eu me adaptei

a apartamento, ou melhor, não tive alternativa, mas José não conseguiu. Sentia saudade da

goiabeira e dos cachorros a quem dava ordens de sua gaiola. Tinha voz humana e quando

gritava “Fernaaaannndo” eu jurava que estavam me chamando. Quando me mudei

provisoriamente até que o prédio onde foi minha casa ficasse pronto, a tristeza tonou conta

dele. Mudo, bico enfiado no peito, nada melhorava sua profunda depressão. Falei então com

meu filho Rodrigo que o levou para sua casa em Apipucos e lá ele renasceu pois o ambiente se

assemelhava pela presença de crianças , de cachorro e de plantas. Por problemas de segurança

meu filho mudou-se para um apartamento e José ficou bem pois conversava com os pedreiros

da obra vizinha. Os anos no entanto pesaram e ele nos deixou. O sentimento de luto do

homem para o bicho é muito grande. O choro convulsivo que tomou conta em nossa casa

começou em Janeiro com a perda de Pink cadela de minha filha que mora em São Paulo. Já

veio doentinha. Acho no entanto que o animal deve morrer antes do homem. Muito pior é o

bicho perder o seu dono, pois dificilmente alguém o adotará e a tristeza e o abandono levá-lo-

a ao desconsolo que é muito maior que o do homem que é uma categoria muito inferior em

sentimentos. Não temos mais idade para ter um cachorro ao lado. Ficará de herança no caso

maldita, mas é muito bom viver com eles. No “meu governo” haveria uma lei para que cada

criança recebesse um animal de estimação de presente. O mundo seria mais doce e mais dócil,

a criminalidade menor e as pessoas mais honradas.

Um comentário:

  1. ah Dr Fernando,quanta sensibilidade nas suas palavras,faço delas as minhas,amo os animais,incondicionalmente!!!!!

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