segunda-feira, 31 de agosto de 2015

ROTINAS, DISCIPLINAS E MUDANÇAS SOCIAIS.



FERNANDO AZEVEDO 

Uma das queixas mais frequentes no consultório de um Pediatra é a do sono das crianças. O primeiro ano é complicado e sorte das mães que tem filhos que dormem a noite toda. Explica-se pela velocidade de crescimento que é intensa e a criança tem fome de madrugada. Mamando se acalma e volta a dormir. É cansativo realmente e, sobretudo pelas mudanças que acontecem socialmente. Rara a mãe hoje que não tem uma vida puxada de trabalho competitivo e estressante. Como seria bom que dormisse um sono reparador. Acontece que ao chegar precisa conviver com a criança que praticamente não vê durante o dia e ai justo na hora de acalmar o ambiente com um banho, um quarto em penumbra e a disciplina de um horário para formar esse hábito, faz tudo ao contrário. Com isso o sono fica agitado, interrompido e lá vem o outro dia de fadiga e mau humor. Criança com noite mal dormida vai para o berçário ou escola também sem as horas de sono necessárias para seu repouso e há com isso repercussão no apetite, no humor e mais tarde no aprendizado. Qual o remédio? Medicamentos nem pensar chás calmantes também surtem pouco efeito. A única e difícil forma de se melhorar isso é disciplinar a casa e sei que é difícil pelos motivos citados no início. Criança pequena deve dormir em torno de dez a doze horas por dia somando a noite com as sonecas do dia e a rotina da preparação do dormir deve ser imposta. Faça isso que vai se dar bem. Não nos culpe por não ter um medicamento que resolva, mas remédio tem: organização na vida da casa.

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

CONVERSANDO E CONCLUINDO: ESTOU CERTO

FERNANDO AZEVEDO

Na tarde de hoje (20.8.2015), recebo a visita da neta que mora somente 4 andares longe de mim. Nossos horários não combinam, pois levanto de madrugada, almoço tarde e eles estão fora de casa e à noite exaustos dormem cedo. Tomo uma sopinha às vezes na casa dela e assim vamos vivendo tão próximos e distantes ao mesmo tempo. Fins de semana que poderiam ser de encontros são ocupados pelos relacionamentos do casal e das crianças próximas. Hoje ela desceu e me deu um saudoso abraço. Perguntei: Julia o que fez hoje? Ela deixa o abraço de lado, da um pulo para trás e grita: NADA. O ÚNICO DIA QUE NÃO FAÇO NADA. E eu apoiei e me convenci apesar de pra la de convencido que na infância não se tem que fazer nada mesmo a não ser brincar, brincar e brincar e ter coisas prazerosas pra fazer. Assim está se plantando a semente da felicidade futura. Tenho a absoluta certeza que basta a escola para atividades. Aprender a escrever e ler. Gostar de ler, ouvir estórias muito mais que história que fica pra depois. Duvido da necessidade de aulas de inglês. Aprendem só umas palavrinhas e mais nada. Não há sequencia e não se aprende língua sem praticar a língua. Escolas biligues é outra historia. Esportes que deem prazer, artes em geral que geram cultura e bom gosto e dadas de uma forma agradável, estimulante. Um bebê está indo para o berçário aos 4 meses por falta de quem cuide. Segue-se a escolinha e essa é a hora de cultivar o prazer da convivência e o prazer de ter seu lar para brincar com seus brinquedos e suas fantasias. Isso é o que criança pequena gosta e não se aboletar num automóvel e sair por esse trânsito infernal diariamente na cata de atividades quase que impostas pelo grupo social ao qual pertencem. Tirar a tarde para NÃO FAZER NADA é importante. Tomar um sorvete inesquecível e comer pipoca. Passear com seu cachorro outro elemento muito útil na convivência infantil. Largar TV e os i-phones e tablets assunto de blogs anteriores que só atrasam o desenvolvimento pela passividade e desestímulo à criatividade. Cada fase da vida deve ser esgotada de prazer. Sou fruto dessa semente. Esgotei os prazeres da infância, adolescência, vida adulta e desfrutando hoje do chão azul do velhinho corcunda e de bengala estou muito bem. Nessa idade eu quero fazer tudo, pois não se pergunta quantos anos um velho tem, pois ele é que questiona quantos anos terá.

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

LEITURA PARA CRIANÇAS

FERNANDO AZEVEDO

Na conceituada revista Pediatrics da Academia Americana de Pediatria (Setembro/2014), um trabalho sobre a leitura para crianças pequenas pelos pais. Escrevi no Pediatria e Arte uma recomendação que desdobrei em 4 publicações por questões didáticas onde a mesma Academia Americana de Pediatria e a Academia Canadense de Pediatria faziam críticas ao uso de eletrônicos por crianças, sobretudo nas faixas mais baixas de idade. Nesse artigo há o destaque justamente ao contrário. Enquanto os eletrônicos (TV, tablets etc.) atrasam o desenvolvimento cerebral, a leitura favorece, alem de fortalecer a relação pais e filhos, e incrementar habilidades na criança, fortalecimento da linguagem, leitura e atividades sócio educativas QUE DURAM TODA A VIDA.
Hoje em dia há um material muito interessante para crianças em qualquer livraria. Espaços infantis, contadoras de história etc. Resta aos pais que chegam cansados à noite arranjarem um tempinho para essa atividade. Se à noite não der, explore os fins de semana, arranje um tempinho para esse investimento e não caia na tentação de preferir o silêncio dos i-phones por essa oportunidade de trocas emocionais.

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

MÃE CHATA (2)


MÃE CHATA (2)
 
FERNANDO AZEVEDO
 
Estou aqui no Recife-Brasil porque meu bisavô que era português não quis ser padre, profissão determinada pelo seu pai. Fugiu num navio para o Brasil e piratas atacaram a embarcação e o destino foi o Recife. Falando fluentemente inglês numa época na qual os ingleses dominavam tudo, tornou-se um intérprete de negócios e ganhou bastante dinheiro, deixando uma boa herança que meu avô torrou. As profissões eram impostas. Passam-se mais de cem anos e a coisa continua assim. Se não chamarmos de imposição não podemos deixar de chamar de “sugestão”. Acreditam pais que só o vestibular salva e não é assim. As crianças e adolescentes têm direito de procurar os seus caminhos e os pais a sensibilidade de apoiá-los, aconselha-los, lógico que com a experiência como mais velhos, mostrar exemplos. Uma vez há muitos anos atrás fui convidado por um grande colégio do Recife para falar sobre a vida de um médico. Foi interessante pela participação da plateia. Não imaginem ser uma profissão fácil. Se não existir realmente uma vocação será um tormento, daí muitos médicos infelizes e viciados em drogas como se isso resolvesse. O exemplo é aplicado para todas as profissões. Escrevi uma vez no Diário de Pernambuco um artigo sobre os Concurseiros. Conseguem um emprego que lhe dará remuneração perene, tudo bem, mas se não gostarem do trabalho e se forem lotados num lugar inóspito vão padecer. Tive três empregos: ambulatório do Instituto dos Bancários e com a união dos institutos depois, transferi-me para o Hospital Barão de Lucena onde ensinei durante 25 anos. “Carimbador” de contas de convênios de hospitais com o INAMPS, torturante, com demissão pedida em pouco tempo e Professor da Faculdade de Ciências Médicas onde exerci uma coisa que adorava que era o ensino, mas também pedi demissão após 10 anos quando as turmas duplicaram de tamanho e dava aulas práticas para mais de 20 alunos, um engodo. Também pedi o chapéu sem arrependimento. Herdo então do meu bisavô a procura pelos meus caminhos acordando diariamente com disposição para mais um dia de trabalho, acreditando nos meus ideais. Cantar sempre, tocar meu violão escondido de tão mal que está minha performance e tocar um pianinho medíocre para incômodo dos vizinhos. Uma criança tem que ser estimulada, sobretudo a ler coisas interessantes que a despertem para o conhecimento geral, para formar seu patrimônio cultural. Leituras interessantes, aprazíveis não esse monte de besteira que está na grade escolar obrigatoriamente. Não tive mãe chata felizmente, apesar dos meus “pedidos de demissão” de alguns colégios.

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

MÃE CHATA, FILHOS BEM SUCEDIDOS.

FERNANDO AZEVEDO

Li recentemente na página da UOL um matéria sobre MÃE CHATA. O estudo foi feito na Inglaterra, Universidade de Essex e o título do artigo: MÃES CHATAS CRIAM FILHOS BEM SUCEDIDOS. O trabalho envolve 15.500 adolescentes entre 14 e 15 anos e diz na conclusão que os filhos de MÃES CHATAS se dão melhor na vida comparados a crianças mimadas. O estudo não é detalhado na publicação, sua metodologia etc. O conceito de MÃE CHATA também fica no ar. A comparação com crianças MIMADAS também é uma comparação desigual, pois a superproteção que envolve o conceito de criança mimada traz danos e insegurança. Recebi o depoimento através do facebook de uma cliente de 15 anos que faz sua análise como filha a respeito do artigo. Na próxima semana farei então uma análise sobre esse assunto que tenho desenvolvido em vários escritos sobre ser “bem sucedido na vida” com inteira concordância com essa minha adolescente.
““ Devo acreditar que o meu senso crítico não me deixou aceitar essa matéria calada... kkkk. A questão do sucesso é relativa de cada um para cada um, e nessa matéria a maioria dos pontos positivos são materialistas... Falam sobre obrigar seus filhos preocupados com os futuros salários (“tinham mais chances de entrar em uma boa faculdade e receber salários mais altos”), Claro que estudar é essencial, engrandecedor, longe de mim discordar disso, o conhecimento é o que nos difere. Mas também queria perguntar se todas essas pessoas bem sucedidas estão felizes com o que fazem, se não sofreram pressão psicológica pra escolher a “melhor profissão” se sofrem/sofreram estafa, vivem uma vida estressante. Acredito que cada um deveria fazer o que lhe faz feliz, seja estudando para o melhor salário, seja correndo o mundo num circo (pq não), seja vivendo de música (sem muita segurança, mas felicidade).
Mães deveriam apoiar seus filhos, conversar com eles, ter um relacionamento de amizade. Tenho a sorte de ter uma mãe de mente aberta, que debate comigo sobre os mais diversos assuntos e sinto pelos adolescentes pressionados em casa, sem voz, vivendo num a ditadura... Sinto também pelas mães iludidas que vem se vangloriando acreditando que impor o estudo como obrigação e ordem vai fazer os filhos delas gostarem mais de física ou história... Perguntem se os seus filhos estão felizes hoje, como andam as amizades. “Claro que não estou julgando quem compartilha, pois sei que a cobrança é essencial, mas não faça disso um sufoco para seu filho.”