terça-feira, 30 de junho de 2015

NADA SERÁ COMO ANTES

FERNANDO AZEVEDO

Dia 25 de Junho de 2015 recebo esse e-mail que me perturbou o dia e me fez dormir com a base de um tranquilizante tal a minha tristeza: “Prezado Fernando. Me desliguei da Oncologia Pediátrica do IMIP no dia primeiro de Junho, foi uma honra e um privilégio muito grande trabalhar com você em benefício da criança portadora de câncer. A vida é uma estrada que não sabemos por onde nos leva, quando e onde termina, o que sei é que ela me levou a essa instituição IMIP onde fiquei 25 anos, a qual sou muito grato por permitir trabalhar dando dignidade e oportunidade de cura às 3.300 crianças atendidas. Você indiscutivelmente faz parte dessa história. A luta continua” Francisco Pedrosa.
Explico porque estou sangrando. O Hospital Barão de Lucena foi durante muitos anos uma referência na assistência médica pública. Fiz parte do staff da Pediatria e iniciamos a Residência Médica com um grupo excelente de Pediatras. Começamos a alcançar um conceito elevado a ponto de ser a residência médica mais disputada do Recife. Francisco Pedrosa, hematologista de formação e depois onco-hematologista com especialização nos Estados unidos entra em nossa equipe para a instalação da Oncologia numa ala de oito leitos. Passo a fazer parte dessa equipe com a colega Lúcia Veríssimo numa simbiose perfeita em relação à troca de informações entre um onco-hematologista e dois pediatras. O serviço começa a alcançar resultados e o trabalho entusiasma. A direção do Hospital fornecendo todas as condições e atendendo a todas as exigências. Oncologia é uma luta contra o relógio. Nada pode ficar para depois. A quimio e radioterapia têm dias e horas marcadas, não pode sofrer adiamentos. Começa a formação de residentes em rodízios inicialmente e depois em especialização. Sofre-se uma pancada forte: o INAMPS corta a hospedagem das famílias que vinham do interior e se instalavam em pequenos hotéis, pois as crianças não podem fazer todo o tratamento internadas em enfermarias. Francisco Pedrosa contando com inestimável colaboração de Gustavo Krause idealiza e realiza a criação do NAAC (Núcleo de apoio a criança com câncer) que todos vocês conhecem. Não existiam verbas regulares para sua manutenção. Me propus a produzir shows beneficentes para ajudar e assim nasceu o ESTÃO VOLTANDO AS FLORES. Vocês não imaginam a alegria dos músicos que fiz contato para participarem do evento. Reinaldo Oliveira cedeu gratuitamente o Teatro Valdemar de Oliveira por duas vezes, a Prefeitura outras duas vezes o Teatro do Parque e o Governo do Estado o Teatro Guararapes. Pedrosa era o camelô que vendia todos os ingressos, repito TODOS OS INGRESSOS. E assim o entusiamo aumentava, o NAAC se mantinha até que tornou-se uma entidade organizada graças à garra de Arly Pedrosa, esposa e guerreira de uma causa.
Começa a decadência do Barão de Lucena. A Oncologia não tem mais condições de continuar e o Prof. Fernando Figueira abre as portas do IMIP e novamente a chama reacende. Teleconferências internacionais, resultados semelhantes em sucesso às maiores referências de serviços de oncologia no mundo. Formação de jovens médicos que fundaram outros serviços em hospitais privados, difusão de conhecimentos.
De repente essa triste notícia. O IMIP também tem crise financeira e o alvo atingido é aquele galho fraco chamado criança. Sai Pedrosa! Não vale aquela frase que todos são substituíveis porque não são. Pernambuco hoje tem oito Faculdades de Medicina, cinco só no Recife.
Fabricar alunos é fácil e se tiver 10 faculdades as salas estarão cheias. Não há escola, no entanto de fabricação de líderes. Esse entusiasmo que contagia equipes, essa garra de buscar resultados, de prestar serviços responsáveis sem enxergar nenhuma vantagem financeira pertence a raros. Por isso digo que continuará ainda presente a Oncologia no IMIP, mas NADA SERÁ COMO ANTES.

segunda-feira, 22 de junho de 2015

VACINA CONTRA O MENINGOCOCO B

FERNANDO AZEVEDO

Circula em e-mails e WhatsApp a indicação para as pessoas vacinarem seus filhos contra a Meningite causada pelo meningococo B. A vacina contra o meningococo C é feita de rotina e faz parte do calendário vacinal sendo aplicada aos 3 e 5 meses, seguindo-se mais uma dose aos 12/15 meses, 4/6 anos e uma ultima dose aos 11 anos. Esse é o esquema recomendado existindo em clinicas privadas a chamada quadrivalente (A, C, W, Y). Na década de 80 houve uma grave epidemia meningocócica provocada pelo meningococo B. Recorreu-se a uma vacina cubana para bloquear a epidemia, mas os índices de imunização foram muito baixos e a durabilidade da imunização pequena. Ficou desacreditada mundialmente e saiu de qualquer esquema de vacinação. O Meningococo B continua provocando doenças graves e com alta mortalidade e mais presente nos países onde o frio é mais intenso e o confinamento das pessoas aumenta. Também em creches, entre profissionais de saúde, alojamentos militares etc. Foi licenciada uma nova vacina contra o meningococo B, mas as informações sobre resultados ainda não são muito convincentes. Pode ser aplicada em qualquer idade e na criança começa aos dois meses em série de três doses. Relatam-se reações vacinais fortes embora sem relato de mortes nos grupos estudados, e devem-se esperar orientações oficiais do Ministério da Saúde e OMS para o seu uso rotineiro. Quem assistiu como eu epidemias de sarampo, poliomielite, difteria, coqueluche, os casos permanentes e crescentes de tétano em recém-nascidos e crianças/adultos, epidemias terríveis de meningite pelos tipos C e B torce sempre que essas doenças sejam extintas. Para isso é necessário uma ampla cobertura vacinal e a população deve aderir o que não está acontecendo com as vacinas contra gripe e HPV. Vamos, portanto com calma em relação à aplicação dessa nova vacina e devem parar essas comunicações eletrônicas que trazem um ambiente de certa insegurança. Sabemos e vemos todo dia que a assistência médica no Brasil está um horror, mas no capítulo de doenças imunopreveníveis não. Vamos aguardar orientações melhores.

segunda-feira, 15 de junho de 2015

LISCA DOIDO (PELO NÁUTICO)


FERNANDO AZEVEDO

Tenho setenta anos de Náutico, Sempre fui do social e do esporte amador sendo o basquete o meu xodó e o esporte que me proporcionou muitas amizades e as sonhadas viagens tão difíceis naquela época já que além de atleta do clube, pertencia sempre às seleções pernambucanas para jogos nacionais ou norte-nordeste. No futebol era apenas torcedor, nunca me aproximei, nunca entrei num vestiário, embora fosse amigo de muitos jogadores, pois apenas um muro nos separava. Conheci Cabelli, Palmeira, Alfredo Gonzalez, Ricardo Diez, Gentil Cardoso, Duque, e por ai vai. Seguiram-se dezenas de técnicos que rodavam para o Sport ou Santa Cruz. Fico impressionado é com esse nosso Lisca, o doido, mas o que ele é mesmo é um apaixonado pelo que faz, um DOIDO pelo que realiza e um DOIDO pelo Náutico. Como disse acima não sou ligado a dirigentes do futebol e nem os conheço, só pela imprensa, mas cabe aqui o elogio a quem descobriu esse iluminado. Homem de família tradicional gaucha, família Cirne Lima que nos deu até um ministro ilustre no tempo em que havia ministros decentes e o Lorenzi que traz o passado dos imigrantes italianos que tanto desenvolveram o Rio Grande do Sul. Tem berço, tem educação, e poderia ter tomado outros rumos se não lhe apresentassem uma bola um campo de futebol e um livro de estratégias futebolísticas. Foi aí que começou a doidice. Não se liga em marqueteiro nem a empresário mas conquistou uma simpatia pela torcida que se perpetuará . O título de campeão em qualquer das competições vai dar a coroa tão desejada a esse técnico apaixonado. Ele realmente merece. Todas as indicações que faz para contrato de jogadores, são precisas, são realmente úteis, muito diferente de outros “professores” ligados a agentes que nos mandam jogadores bichados que passam um ano no clube e não entram em campo.
Meu caro Lisca, não nos conhecemos pessoalmente, mas isso vai acontecer em breve. O Presidente Gustavo Ventura está sabendo disso. Esses exemplos devem ser exaltados para que sejam copiados. Até qualquer sexta feira dessas num terraço gostoso. Leve sua bomba de chimarrão pois a bomba lá é outra.

segunda-feira, 8 de junho de 2015

A HORA DA REFEIÇÃO

FERNANDO AZEVEDO

Foi-se o tempo em que uma família sentava-se à mesa para uma refeição calma, botando a conversa em dia, comentando fatos, sabendo e comentando a vida dos filhos e vai por ai. O mundo mudou e não tem retorno. Pais ausentes nessas horas, almoçando pelos restaurantes perto do trabalho e depois de um trânsito infernal voltando para casa impacientes para tentar talvez no jantar se reunirem. As crianças com babás desinteressadas e ignorantes esse é o padrão. Tornam-se inapetentes ou de paladar caprichoso e repetitivo. Não tem exemplos e fast foods caseiros tipo mamadeiras resolem o problema e não chateiam as babás. Vem a queixa e solução através de remédios. Não tem solução. A criança desde cedo deve participar das refeições dos adultos que por sua vez tem que dar exemplos. Se os pais não tem hábito de comerem frutas, verduras, esperar o que das crianças? As refeições para crianças de creches e horário integral são mais variadas e orientadas sempre por nutricionistas, mas falta o estímulo e o exemplo, Os dois primeiros anos da criança são geralmente ótimos em relação ao apetite e aceitação de dieta. Após os dois anos há uma inapetência fisiológica, pois a velocidade de crescimento não exige tanto alimento e ai começam os problemas. Adulações e aviãozinho, TV, e outras artimanhas onde a criança engole o que lhe dão sem nenhum prazer. O problema está complicado e os vícios começam a fazer parte do cardápio geralmente com alimentos calóricos, “não saudáveis”. Mudar esse estilo é difícil porque a estrutura familiar não se recompõe nem no fim de semana onde com razão os pais precisam relaxar. A obesidade, a carência de ferro, de vitamina D e outros nutrientes causam realmente preocupação. Não culpem as crianças, pois o erro vem de cima.

segunda-feira, 1 de junho de 2015

ENTREVISTA

FERNANDO AZEVEDO

JULIA- Vovô, no seu tempo de criança tinha televisão.
FERNANDO– Não Julia. Quando a televisão chegou ao Recife eu já era estudante de medicina, já tinha 20 anos.
(Para recordar a TV no Brasil foi trazida por Assis Chateaubriand e inaugurada em 18/9/50 – TV Tupi- SP e em Janeiro de 1951 a TV Tupi Rio- Em 1960 foi instalada em outros estados brasileiros.).
JULIA- No seu tempo de criança como as pessoas se comunicavam
FERNANDO– Fazendo visitas aos amigos e com os que moravam longe, através de cartas e telegramas
JULIA – Hein?
FERNANDO- Era assim Julia, a gente escrevia cartas, colocava no correio e se o assunto fosse mais urgente usava o telegrama que era mais rápido.
JULIA – E o telefone?
FERNANDO – Só algumas casas tinham Julia.
JULIA – Hein?
FERNANDO – Isso mesmo Julia, era muito difícil conseguir um telefone e se pedia a quem tivesse um o favor de telefonar para dar um recado urgente.
É um problema para uma entrevistadora de 9 anos conversar com um dinossauro de 74. Anotou tudo, mas não sei se entendeu. Acho que nunca viu uma carta ou um telegrama. Da mesma forma não vai conhecer uma cadeira na calçada para conversar com um vizinho. Não vai conhecer a solidariedade que havia entre os moradores de uma rua, pois num edifício poucos se conhecem e raras são as respostas a um BOM DIA num elevador.
O mundo é de mudos que usam a ponta dos dedos para externarem sentimentos, Cessa o riso, o olhar, a lágrima a um afeto e discute-se se é melhor um I-phone ou um smart-fone.
Continuo atrás de um bom papo, olho no olho, som de vozes e faces de emoção. Assim é melhor.