segunda-feira, 29 de agosto de 2011

A CONSTIPAÇÃO INTESTINAL (PRISÃO DE VENTRE)


A CONSTIPAÇÃO INTESTINAL (PRISÃO DE VENTRE)

FERNANDO AZEVEDO

Criança alimentada com o leite materno exclusivo até completar os seis meses é o sonho de consumo do Pediatra. Finkelstein um Pediatra alemão dizia “criança alimentada ao peito não adoece e se adoecer não morre”. Grande verdade. As fezes com o leite materno são no primeiro mês muito ralas e freqüentes provocando muitas vezes  pequenas assaduras sobretudo depois da invenção da maravilhosa fralda descartável. No entanto, a partir do segundo mês às vezes o bebê defeca em intervalos maiores chegando a 7 dias sem fazer cocô. Isso não é prisão de ventre nem se deve usar nada. Com leite de lata, qualquer deles, pode haver fezes endurecidas e evacuadas com esforço o que caracteriza a constipação. Se não defecar todo dia as fezes vão se tornando empedradas e ai aumenta o desconforto. Após o sexto mês quando a criança já está com uma dieta mais ampla comendo frutas, carnes, verduras temos que prestar sempre atenção à consistência e umidade das fezes. Qualquer esforço maior e com dor a criança vai retendo as fezes, fazendo cocô  em pé às vezes com enorme desconforto. Vai se instalando também um quadro de megacolon funcional que é um aumento do volume da parte final do intestino e a evacuação torna-se muito dolorosa , às vezes entupindo o sanitário em caso de crianças maiores. Muitas vezes apresenta-se o escape fecal que é o borramento da calcinha ou cueca no esforço de não defecar, confundindo a mãe. Muitas vezes as mães dizem que “isso é de família”, mas constipação não é doença hereditária. Os hábitos alimentares errados da família é que fazem com que muitos apresentem o problema. Sabemos da resistência das crianças a comerem frutas e verduras e muitas vezes o “deixa pra lá e da o leitinho” é a causa. Hoje se entende que um bom funcionamento intestinal é profilaxia para muitas doenças futuras incluindo o câncer. Em crianças maiores, conscientizando-as consegue-se algum resultado embora amigas nutricionistas desistam de trabalhar com elas pela pouca adesão ao que propõem. Crianças menores fazem birra, não comem mesmo, vomitam etc. Temos então que entrar com medicamentos tipo óleo mineral, fibras vegetais, maior hidratação etc. Preste atenção então a esse fato observe a consistência das fezes dos pirralhos e veja se há algum mal estar. Nos maiores, mais independentes o pudor muitas vezes falseia a informação, mas se notar aquele “toletão” vamos cuidar de mudar os hábitos. Quando treinar a criança para fazer cocô no peniquinho? Após estar andando quando tem a liberdade de não sentar e sair quando quiser. Nas maiores quando usar o redutor do assento lembrar sempre de colocar um banquinho para apoio dos pés, pois a criança precisa contrair o abdome para evacuar e com as pernas no ar não consegue. Não force, com o tempo a criança vai se educando.
Em casos severos são necessárias lavagens intestinais em intervalos regulares o que provoca muita briga e necessidade de duas ou mais pessoas para fazê-la ou mesmo ir a hospital pela dor e desconforto.

ESTÓRIAS DE CONSULTÓRIO

Manoel (nome falso) estava com seus doze anos e há muito tempo não ia ao consultório. Chegou com essa queixa de constipação, cuecas sempre sujas o que pelo mau cheiro era motivo de bullying escolar etc. Quando examinei a coisa era preta, um grande fecaloma e muitos dias sem defecar. Investiguei com um enema opaco (exame radiológico) e lá estava um megacolon daqueles. Iniciei tratamento com laxativos e tinha que fazer lavagens freqüentes pela seriedade do caso. Certo dia ele já de saco cheio pergunta pra mãe:
-Mãe Tio Fernando ta me tratando ou ME TREINANDO PRA FRANGO?

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

OS INTERCAMBISTAS (2)


OS INTERCAMBISTAS (2)

FERNANDO AZEVEDO

Anualmente, preencho mais de uma dezena de formulários de intercambistas. Tenho a dizer que conheço mães que fizeram intercâmbio e ainda hoje mantém amizade com as famílias americanas e seus filhos adolescentes estendem esses laços passando outra temporada por lá onde são acolhidos como filhos e netos.  Uma coisa me intriga quando estou fazendo o histórico das vacinas, doenças etc. e pergunto: -Vai pra onde? – Não sei ainda. Ora, sabe-se que a adolescência é a idade da formação de tribos, dos primeiros vôos solo de um passarinho que criamos com muito amor. Como ignorar para onde ele vai, com quem anda, com quem convive? Estou falando que isso acontece dias antes do embarque. Vou então citar casos ilustrativos:
1-      Adolescente acorda de noite com a polícia cercando a casa para fazer o que se chama aqui de  ação de despejo. Casal não pagava os impostos e prestações da casa. O menino dormia e a porta foi aberta “com a maior delicadeza” pelos policiais que o expulsaram de casa de pijama e sem cueca como ele me descreveu. Lá ficaram todos seus pertences. Passaram a fita amarela em torno da casa isolando inclusive o automóvel. Foi socorrido por um amigo da família, um francês que o acolheu e ensinou-lhe a tomar cerveja. Na sua chegada em New York ninguém o esperava e depois de muito tempo o enviaram para outro estado.
2-      Brasileira morena brejeira típica vai para o estado de Washington, casa de uma loura. Na matrícula escolar a colocam no colégio dos negros. Dois meses depois a pernambuquinha vem embora depois de duas trocas de casa.
3-      Adolescente de 16 anos é recebido no aeroporto por um gay. Dois dias depois está no Brasil novamente, após relato ao pai do acontecido.
4-      Pai telefona num fim de semana dos primeiros dias da filha nos States. Quem atende? A própria filha. Causa surpresa e ela disse estar sozinha por uns momentos, pois a família tinha saído. Na semana seguinte mesmo fato. O pai aperta e a menina desaba. Ficava sozinha no weekend, pois os velhos viajavam na sexta feira e a  “irmã” se enturmava com uma tribo da pesada de álcool e drogas. O pai foi buscá-la imediatamente.
5-      Menina moça vai para uma cidadezinha safada de pouco mais de mil habitantes (geralmente isso acontece) e lá pela solidão e desajuste volta 20 kg mais gorda logo depois de seus belos 15 anos.
6-      Adolescente menino fica na casa de uma família onde sua primeira tarefa era apanhar os cestos de papel higiênico da casa. No baixo calão, "piniqueiro" de americano.

CHEGA! MAS TEM MAIS.

O que quero comentar é que o preço para falar inglês às vezes é muito alto. Adolescente tem normalmente uma instabilidade psíquica a ser considerada. A família americana como um todo, (lógico que existem exceções) está passando por maus momentos, a discriminação existe ninguém pode negar. É uma boa experiência de vida para amadurecimento e aprendizado de uma língua tão importante? Claro! Mas tenha cuidado, investigue, se possível até quem sabe va lá para ver onde vai estar seu filho por um bom tempo. Outro fato que acompanho é o desaprendizado do inglês pela falta de uso na volta. Língua e instrumento musical têm que ser tocado todo dia se não trava. Fui aluno de Elijah Von Shosten . O homem que mais sabia inglês no Recife e talvez no Brasil. Nunca tinha ido lá. Depois de muitos anos é que fez uma viagem a convite segundo me falou um dia. Quem quer aprende aqui mesmo.
Nesse assunto gostaria muito de ler opiniões de ex-intercambistas para sedimentar minhas impressões .Me interessa o relato sincero de sua juventude por  lá,  o seu psiquismo, sua aceitação, se seu inglês tornou-se fluente de forma definitiva e se isso interferiu positivamente na sua vida adulta.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

OS INTERCAMBISTAS (1)


OS INTERCAMBISTAS (1)

FERNANDO AZEVEDO

Já que Viva Disneyworld teve um record de acessos, vamos abordar um outro assunto de adolescentes. O INTERCÂMBIO.  Anos atrás (30 anos mais ou menos) minha filha estava no aeroporto quando chegavam umas americanas para intercâmbio. Enquanto aguardavam uma amiga, o chefe da agência perguntou a Érika se ela não gostaria de participar recebendo uma “irmã americana”. Seriam 3, 6 ou 12 meses de hospedagem. Erika estudava inglês e já falava com fluência relativa. Topei então os três meses porque não daria tempo da americana aprender português, se fosse simpática deixaria saudade e se chata ia embora logo. Seria e foi um treinamento intensivo para ela. Acontece que a menina e a família não sabiam nada a meu respeito, nunca trocamos correspondência. Chega-me uma linda adolescente, filha de um oftalmologista de Detroit, separado da mulher, super simpática. Como minha casa era uma festa permanente (no mínimo 10 grandes festas por ano- quem freqüentou sabe) era época junina e fiz um arraial do bom com muita dança e a lourinha arrebentou os corações jovens e arranjou uma paquera logo na primeira noite. Era época também do famoso bar Água de Beber na Praça de Casa Forte. Fins de semana com cebola recheada com charque, escondidinho e a galega foi endoidando com a alegria do ambiente. Com toda honestidade Érika nunca foi de chope ou outra qualquer bebida. A hóspede trouxe só uma sacola de roupas nas costas, mas ai a turma emprestava vestido, sapato e até madrinha de casamento foi. Certa ocasião um paulista que era noivo de uma amiga de Érika combinou para que a noiva, minha filha e a americana fossem de ônibus até Maceió e de lá viriam por carro conhecendo as praias do litoral sul até chegar à Recife. Lindo, maravilhoso! Só que no dia da viagem de ônibus aconteceu um temporal daqueles e caiu uma barreira na estrada. Tiveram que atravessar a pé enfiando as pernas no barro até o outro lado onde outro ônibus transportou os passageiros para a capital. Tudo bem voltaram com saúde, mas com grande dificuldade. Para os quatro só aventura e risadas, para mim só preocupações. NÃO TINHA CELULAR. O mais interessante é que semanas depois chega uma carta da mãe da galega se reportando num recorte de jornal americano a uma vitória de Ayrton Senna em Detroit, uma meia página. Ao lado uma pequena nota tipo tijolinho: Maceió-Brazil – uma forte tempestade causou mortes e desabamentos ... E eu em meus pensamentos: e tua filha lá. Acontece que não recebi nenhuma instrução a respeito das obrigações e responsabilidades com a hóspede intercambista e ela integrou minha família e amigos e amigas de minha filha fazendo as coisas normais de qualquer jovem da época, mas muita coisa poderia ter acontecido e eu iria responder. Depois soube que era tudo proibido. Se soubesse antes, não teria recebido, pois não iria modificar meus hábitos de forma alguma. Sempre adorei uma cantoria, minha casa era um clube que fez com que na demolição muitos jovens amigos de meus filhos fossem as lagrimas. Durante um bom tempo ela se correspondeu (cartas), depois casou e não sabemos mais dela. Saiu amando o Brazil.
PS – outra moça americana que ficou locada em Piedade quando foi uma vez lá em casa não parou mais. Pegava um ônibus e quando menos se esperava estava na porta. Aprendeu português em uma semana. Na próxima vamos inverter. Vamos ver o que acontece com os pernambuquinhos que vão aprender inglês por lá.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

VIVA DISNEYWORLD!



FERNANDO AZEVEDO

O sonho de consumo de qualquer adolescente aos 15 anos é uma viagem a Disney, o mundo encantado. Nada mais justo realizar esse sonho. Acontece que anualmente atendo os ressacados da Disney em número cada vez maior pela exaustão que passam na viagem. Ano passado minha neta em São Paulo chegou arrasada, dias depois da notícia da morte de uma adolescente também de lá, que teve pneumonia e chegou morta no avião. Esse ano foi outro neto e chegou mudo e magro, só abriu a mala na sala, distribuiu os presente e cama. Ontem atendi uma adolescente que me meteu medo. Desidratada, desnutrida (2 kg em 15 dias) com vômitos pela gastrite que apresentava de tanta Coca Cola que tomou. Acontece o seguinte: os do sul viajam em época de temperatura muito baixa no Brasil. Os do Recife também em períodos de chuva e temperatura em torno de 20 graus. Na Flórida a temperatura nessa época chega a perto de 40 graus, havendo grande choque térmico. Os parques aquáticos, horas de sol escaldante em filas, desgastam enormemente. A alimentação nenhum tolera. Ficam em jejum, alimentam-se de hamburgers e hot-dogs na marra porque também não gostam,  e de pizza, batatas fritas etc. Não dormem, não só pela excitação da viagem como também pela farra. Adoecem.  Ah! Eles tem seguro saúde. Pura balela, o fato existe mas a assistência não é boa e muitas vezes as agentes de viagem medicam para febre, dores, sem saber o diagnóstico que sempre cai no aparelho digestivo e pior, no aparelho respiratório. Doença respiratória não combina com viagem aérea pela baixa oxigenação no ar. A desnutrição a desidratação e a estafa  agravam o quadro e quando há uma morte, mesmo que estatisticamente seja insignificante a gravidade é imensurável. Como fica uma família depois disso? E uma adolescente que se vai quando sonhava com um conto de fadas? Hoje conversei a respeito com uma agente de viagem que já levou centenas ou milhares de crianças e que concordou com todas minhas observações. Falou que nesse ano exigiu do hotel americano um café da manhã brasileiro para que pelo menos essa refeição fosse bem feita. Ninguém me pergunte qual é a agencia pois não direi. No meu juramento Hipocrático “minha língua calará os segredos que me forem revelados” . O que fazer, não mandar as crianças? Não, longe de mim essa idéia e não me chamem de desmancha prazer ou de fazer terrorismo. Quero somente alertar as famílias e as agências que atentem para esses detalhes, são importantes. Quando minha filha mais velha tinha 10 anos ela foi com uma excursão que eu imaginava super garantida. A Pediatra era uma colega minha de trabalho e a agencia disse que ela acompanharia as crianças. Mentira! Ela foi levando uma filha, mas sem nenhuma obrigação de atender ninguém. Estava de férias. Érika teve um quadro infeccioso de pele que a impedia de andar e chegou em cadeira de rodas. Não havia e-mail naquele tempo.  Não mandei os outros dois. Passaram mais de 30 anos. O problema continua. Famílias e agências tenham o máximo de cuidado em reuniões preparatórias, vejam esse item alimentação com muito zelo e não esgotem os jovens. Conversem com nutricionistas. Volto a dizer que soa como um alerta esse comentário sem nenhuma intenção de encucar qualquer mãe ou pai. Simplesmente eu constato isso todo ano e me sinto responsável em revelar, comentar e não ser omisso. A prevenção é o melhor remédio da medicina. Feliz Disney em 2012.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

DIARREIA E VÔMITOS


FERNANDO AZEVEDO

Há uma definição para a Medicina extremamente feliz: “A medicina é a ciência de verdades transitórias”. Muito do que se diz hoje não se diz amanhã. Os conceitos mudam com o melhor entendimento de cada assunto. Com a diarréia foi assim. Assisti aulas dos mais brilhantes pediatras aconselhando o uso de remédios tipo elixir paregórico. Lomotil, para estancar a diarréia. Era importante deter a perda. Hoje se entende a diarréia como uma defesa do organismo contra parasitas, bactérias, toxinas, vírus etc. O importante é descobrir sua causa para que cessem os efeitos e, sobretudo prevenir a DESIDRATAÇÃO essa sim de conseqüências graves e de instalação rápida. A criança desidratando fica hipotensa, os rins sofrem, o cérebro não é bem oxigenado, há um distúrbio metabólico de leve a grave. Comecei minha vida médica a partir do quinto ano dando plantão nos centros de reidratação do Departamento Estadual da Criança. Reidratação venosa era intensamente usada. Depois da descoberta da TRO (terapia de reidratação oral) com soros industrializados ou o famoso soro caseiro que salva tantas vidas a reidratação venosa se restringe a casos mais sérios onde existe também o vômito que não se domina. Entenda então que chás de folha de goiabeira e qualquer outra “mesinha” para parar a diarréia não devem ser usados. Primeiro sinal de desidratação: sede. Se a criança começa a pedir água saiba que está necessitando imediata assistência. Os vômitos desidratam a criança com mais rapidez ainda. Não fique dando remédios para que cessem os vômitos seguidamente, pois a droga pode se acumular pela diminuição da urina e trazer toxidade com distúrbios neurológicos.  A diarréia geralmente é uma doença autolimitada. O que fazer?

Respeitar a inapetência esperando que tenha interesse em comer. Enquanto isso ofereça água, água de coco, sucos diluídos de frutas, e dependendo das perdas o soro oral. NÃO DÊ REFRIGERANTES, GATORADE ETC.  Reintroduza a alimentação em pequenas porções, respeitando as preferências. Leite às vezes não é o ideal sobretudo se você notar assaduras. Observe a quantidade de urina, o estado geral. Se ficar muito prostrada é sinal de mais gravidade e às vezes necessita hospitalização. Se está ativa, apenas com evacuações freqüentes tenha paciência que em 7 a 10 dias a diarréia cessa. Acha muito? É assim mesmo. Geralmente não é necessário exames. Em alguns casos sim.