segunda-feira, 28 de julho de 2014

FAUCUDADES E FACULDADES DE MEDICINA

FERNANDO AZEVEDO

Leio hoje (23/7/14) que o MEC autorizou a abertura de mais seis cursos de Medicina no Brasil sendo locados em Passo Fundo e Santa Maria (RS), João Pessoa, São Paulo, Ribeirão Preto e Maceió. A carência de médicos no país é enorme e isso está nos jornais todo dia e nas capitais mais importantes do Brasil o cenário é desolador. O colega não se fixa mais no interior pela falta absoluta e total de condições, diferente do meu tempo de recém-formado onde havia em quase todo município pernambucano boas condições de trabalho e os colegas ganhavam bastante dinheiro além de casar com moça rica. Mudou tudo e o abandono da população é total. Vêm as soluções: médico cubano: não resolve. Formar mais médicos: também não vai resolver.  O MEC que formar até 2017 11.447 médicos sendo 3.615 nas universidades federais e 7.832 nas escolas privadas. O preço mensal de uma escola privada gira em torno de 3.500 reais para o pai do estudante.  Ah! ele pode entrar em financiamento. Financiamento é dívida e conte-se também o preço dos livros e equipamentos. Qual o estudante que depois de um investimento de mais de 40.000 reais por ano vai querer ir para um lugar distante e sem condições de trabalho. Contou-me outro dia uma colega que foi minha aluna, que estava num ambulatório de urgência com uma residente e a jovem queixou-se do desconforto da cadeira. Pegou o celular, ligou para o pai e em breve tempo chegou uma giroflex para a bichinha trabalhar. O bumbum doía. O que quero abordar sobretudo é que é fácil fazer faucudades mas é muito difícil fazer faculdades. Fabricar alunos e mostrar estatísticas é ótimo. O que é dificílimo é formar PROFESSORES DE MEDICINA. Aí a porca torce o rabo. O ensino médico sobretudo o prático é feito de exemplos e esses não estão muitas vezes nas faculdades. Títulos de mestre, doutor e pós-doutor não significam nada se a vocação para ensinar não existe. Fui Residente no Rio de Janeiro de um hospital público – o IPASE – Hospital dos Servidores do Estado, o melhor hospital da América Latina. Os professores eram funcionários públicos.  Ensinei graduação médica por 10 anos na Faculdade de Ciências Médicas e depois mais 25 anos a pós-graduados no Hospital Barão de Lucena que foi uma das maiores escolas médicas do Brasil e não passávamos de funcionários públicos, mas com uma enorme dedicação ao ensino de formação de pediatras. Como avaliar tanto professor nessas escolas tanto públicas como privadas? Não tem como, e um médico mal formado é um profissional deformado na sua essência. Será que se tornará necessário um exame  tipo Revalida para os novos médicos assim como existe a prova da OAB?  Fico nessa dúvida, pois medicina não é um emprego é uma dedicação, é uma vocação, é como a origem latina da palavra diz: um chamamento. E a responsabilidade do Professor é enorme. O desenvolvimento do Brasil é pífio e concentra-se nas regiões metropolitanas. O interior não atrai capital e o país também não investe nesses rincões e lá não se estabelecem nem médicos nem nenhum profissional universitário a não ser juízes que passam por esse purgatório na expectativa de um final de carreira abonado e seguro. Não vejo nada de positivo pela frente e continuará sempre a transporte terapia patrocinada pelas prefeituras e vereadores generosos.

segunda-feira, 21 de julho de 2014

NÃO É SO OS 7 X 1


FERNANDO AZEVEDO

“Relatório divulgado em 16 de Julho de 2014 (há 3 dias) pela Unaids agência da ONU dedicada à luta contra a AIDS aponta que o Brasil enfrenta uma crise de recrudescimento da doença. O país registrou um aumento de 11% do número de infecções por HIV de 2005 a 2013 enquanto no mundo houve uma queda de 27,6% nesse mesmo período. Na América Latina a tendência também é de diminuição, ainda que lenta. Em oito anos, o número de novos casos caiu 3% na região”. A concentração dos casos está aumentando entre os gays, prostitutas e usuário de drogas. O relatório revela um aumento do número de mortes em 7% (olha ai os sete outra vez). São oito anos de um governo incompetente e corrupto que está trazendo danos irreparáveis ao seu povo com a falta do acesso à saúde e à educação. A prostituição nada mais é do que o resultado da falta de oportunidades assim como a desilusão aumenta o consumo de drogas. A falta de educação infantil e juvenil produz adultos deformados e conformados com as gorjetas que são dadas sem nenhuma possibilidade de elevar seu padrão de vida, de uma especialização que o conduza a um emprego, uma esperança de melhores dias para si a para suas famílias. A criminalidade aumenta, as cadeias superlotadas são o reflexo desse desprezo pelo povo que termina nas mãos dos malfeitores por fraqueza e mesmo imposição de PCCs e outras gangs. O Brasil se alia ao que há de pior, aos ditadores de todo o mundo. Agora com a Copa do Mundo caímos para a sétima posição, tabela divulgada hoje. Não, não são os 7 X 1 contra a Alemanha o que nos envergonha e depois os 3 X 0 contra a Holanda. Não são os 10 gols que nos deixa deprimidos. Pode isso ter sido mesmo um acidente (alguém acredita?), mas os 103 X 0 no Premio Nobel a favor da Alemanha mostra bem o que somos em padrão de educação e saúde. Isso não pode continuar.

segunda-feira, 14 de julho de 2014

A FÉ E A SUPERSTIÇÃO


FERNANDO AZEVEDO

“Vem vamos embora que esperar não é saber/ Quem sabe faz a hora não espera acontecer. (Geraldo Vandré).

Quem não se lembra desse clássico da MPB que agitou festival e ainda está valendo para uma série de decisões na vida. Não aplique, por favor, na OBSTETRÍCIA. A fé, a superstição, a cabala estão provocando enormes danos nos bebês recém-nascidos. Natural que uma pessoa tenha essas coisas na cabeça, nas suas convicções etc. Faça suas promessas com o SEU SACRIFICIO e não de um pobre que está chegando ao mundo. Se você é devota de um santo suba de joelhos uma escadaria, passe 10 dias em jejum etc., mas não obrigue uma criança a cumprir as promessas que você foi quem fez. Voltemos à Obstetrícia. Assombra o número de partos cesarianos na rede privada, chegando a mais de 90%. Qual a base para estabelecer o dia do parto? Quando iniciei minha vida de Pediatra, o marco era a data da ultima menstruarão. Erros grosseiros e muitas mortes pela falta de equipamentos para salvar o bebê. Hoje a ultrassonografia, passível de erro de até 4 semanas nos ultrassons do fim da gestação. E o que se vê? Crianças de baixo peso em respiradores, infecções e morte de um bebê tão esperado. Uma (em minha opinião) idiotice a mais surge agora na programação do parto para dar um signo preferencial ao recém-nascido. Não quero meu filho Leão (em certa parte razão absoluta) preferindo o signo de peixes por exemplo. Datas cabalísticas como o 12/12/1912 de recente lembrança com as maternidades lotadas com grande antecedência e fila de espera. A numerologia também vem orientando o dia melhor para o parto. Onde vamos parar? Que você troque seu nome de Jorge Ben para Jorge Benjor pouco importa, tenha sorte com essa numerologia pelas duas letras a mais, mas ter um filho no dia 25 porque a ciência diz que vai dar sorte é uma imbecilidade de riscos. Não minha amiga, “espere acontecer” nada melhor que uma criança madurinha, que cansou de estar ali na vida mansa e que vir à luz. Só uma coisa ela tem direito: nascer depois da Copa do Mundo de 2014.
 

quarta-feira, 9 de julho de 2014

A COPA E AS FAMÍLIAS



FERNANDO AZEVEDO 

Santo André, 4.30 da madrugada, todos dormem e o Lexotan que tomei as 20.30 de ontem era falso, pois não consegui acalmar nem dormir bem.Ta certo! Tive ontem de manhã o prazer de ler uma crônica de Rosely Sayão, jornalista e Psicóloga paulista, colunista da Folha de São Paulo falando da integração das famílias durante a Copa do Mundo. Idas coletivas às arenas, reuniões em casa ou condomínios, restaurantes, e como estava bonita essa manifestação de bem querer sob o clima do evento tão esperado. Analisei com isso um fato que reflito e comento com pessoas, clientes e aqui mesmo no Pediatria e Arte. Nós não nos vemos mais. A geração da minha mãe teve os primos como irmãos. A família morava na mesma Rua 48 com transversais para a Amapá e Conselheiro Portela. A segunda geração copiou o modelo e apesar de ter dois irmãos os primos também o eram porque a convivência era diária. Quantos primos se namoraram e casaram! Hoje os filhos desses primos não se conhecem. No consultório converso sobre isso quando vejo um sobrenome conhecido e pergunto: - Você é parente de fulano? – Sei que sou, mas não conheço. Incrível mas a culpa está na sociedade e no apartamento onde a rua do prédio não tem estacionamento e temos que levar folha corrida para entrar nele. Pena que esse sentimento de família tenha se acabado. Não digo o mesmo da Família Scolari. Essa vibrei em ser extinta ontem. Quantos penteados, quantas lourices, quantos brincos, quantas cuecas e quão pouco futebol. Que decepção, que derrota acachapante, inesquecível, humilhante e cruel para nós torcedores, avós, filhos netos e bisnetos que compuseram as arquibancadas coloridas e patrióticas. Que lindo o hino à capela. Todos e tudo sucumbiram nos 7X1. Mas o sete tem outro significado. O gesto de Neymar colocando o punho cerrado da mão direita sob o antebraço esquerdo pode ser deslocado até o cotovelo e vira um SETE. 7 X 1 deve ter sido o traço areia X cimento no viaduto de Belo Horizonte que despencou, matou e feriu pessoas que não sabemos o nome. O antigo cadáver desconhecido das Faculdades de Medicina. Não, eles eram conhecidos, trabalhadores e tinham suas famílias, mas foram vítimas da corrupção instalada durante a realização dessa bela Copa do Mundo. A Família Scolari é definitivamente a Família Barbosa. O grande goleiro Barbosa da Copa de 1950 que ouvi e chorei pelo rádio pagou uma pena que não merecia por toda a vida, sem direito à liberdade provisória ou qualquer atenuante.  A Família Barbosa também pagará. Presidente Dilma: entregue a taça aos alemães no domingo, são eles que merecem pela organização, competência, e arte de jogar futebol. Nós a receberemos não com vaias ou xingamentos, mas com o SETE do “tóis” de Neymar que a excelência está fazendo nos seus retratinhos, mas o punho estará no cotovelo. Saia de cena com seus papudos e seu criador, com essa roubalheira, saia de cena com essa CBF e FIFA corruptas e respeite esse povo que tanto lutou para proporcionar esses espetáculo maravilhoso que é uma Copa do Mundo. Viva a família brasileira!

segunda-feira, 7 de julho de 2014

COQUELUCHE


FERNANDO AZEVEDO

A preocupação com a Coqueluche aumenta a cada dia. Vejam esses dados do Ministério da Saúde. Em 2012 a suspeita de doença em crianças foi de 15.428 casos e destes 5.125 confirmados e vocês sabem que não temos laboratórios preparados por esse Brasil a fora. No ano de 2013 só no mês de Janeiro 1020 casos. O problema não vem acontecendo só no Brasil, mas no mundo. Na estatística americana a Califórnia em 2010 apresentou 9.000 casos confirmados. Acontece que a transmissão placentária de anticorpos pela mãe na gestação cai muito daí a recomendação atual da vacinação da gestante com a vacina DPaT (atenção Obstetras e gestantes) pois o nível de anticorpos diminui muito na adolescência e vida adulta. A vacinação dos bebês a partir dos dois meses de idade é também para proteger dessa temida doença. A recomendação que a Pediatria faz e muitas vezes não cumprida de manter os pirralhos em vida domiciliar o mais possível até que se complete a vacinação no sexto mês também tem essa finalidade. Recentemente tive dois lactentes internados e felizmente evoluíram bem. Há uma semana tive dois casos em consultório. O diagnóstico é difícil porque a doença simula um quadro gripal com coriza, tosse, febre inicial. Acontece que em vez de em 7 dias a criança estar bem, ela continua com sintomas e passa a apresentar a famosa tosse coqueluchoide com face avermelhada, lacrimejamento, vômitos e muitas vezes cianose o que justifica a internação hospitalar. Nesses casos o diagnostico clínico fica mais fácil e um complemento pode ser feito com exames laboratoriais, mas não se deve perder tempo. O início do tratamento deve ser feito em todo caso suspeito para evitar a disseminação e após 5 dias de antibiótico a criança já não é contaminante embora possa continuar tendo acessos de tosse. Após 3 semanas de sintomas contando com o inicio do “resfriado” até a tosse característica o resultado já não é bom. De todas as vacinações é a mais falha e há como disse no início uma queda imunológica na adolescência, o período mais difícil de vacinar um filho, pois já há perda de mando por parte dos pais e a famosa rebeldia obrigatória e saudável do adolescente. Fiquem então atentos a tosses prolongadas, rebeldes a tratamentos. Pode ser Coqueluche e como expliquei não há quem faça diagnóstico precoce a não ser que numa família, por exemplo, alguém passe a apresentar um resfriado em seguida a um diagnóstico num irmão ou parente de convivência próxima.