Leio hoje (23/7/14) que o MEC autorizou a abertura de mais
seis cursos de Medicina no Brasil sendo locados em Passo Fundo e Santa Maria
(RS), João Pessoa, São Paulo, Ribeirão Preto e Maceió. A carência de médicos no
país é enorme e isso está nos jornais todo dia e nas capitais mais importantes
do Brasil o cenário é desolador. O colega não se fixa mais no interior pela
falta absoluta e total de condições, diferente do meu tempo de recém-formado
onde havia em quase todo município pernambucano boas condições de trabalho e os
colegas ganhavam bastante dinheiro além de casar com moça rica. Mudou tudo e o abandono
da população é total. Vêm as soluções: médico cubano: não resolve. Formar mais
médicos: também não vai resolver. O MEC
que formar até 2017 11.447 médicos sendo 3.615 nas universidades federais e
7.832 nas escolas privadas. O preço mensal de uma escola privada gira em torno
de 3.500 reais para o pai do estudante.
Ah! ele pode entrar em financiamento. Financiamento é dívida e conte-se
também o preço dos livros e equipamentos. Qual o estudante que depois de um
investimento de mais de 40.000 reais por ano vai querer ir para um lugar
distante e sem condições de trabalho. Contou-me outro dia uma colega que foi
minha aluna, que estava num ambulatório de urgência com uma residente e a jovem
queixou-se do desconforto da cadeira. Pegou o celular, ligou para o pai e em breve
tempo chegou uma giroflex para a bichinha trabalhar. O bumbum doía. O que quero
abordar sobretudo é que é fácil fazer faucudades mas é muito difícil fazer
faculdades. Fabricar alunos e mostrar estatísticas é ótimo. O que é dificílimo
é formar PROFESSORES DE MEDICINA. Aí a porca torce o rabo. O ensino médico
sobretudo o prático é feito de exemplos e esses não estão muitas vezes nas
faculdades. Títulos de mestre, doutor e pós-doutor não significam nada se a
vocação para ensinar não existe. Fui Residente no Rio de Janeiro de um hospital
público – o IPASE – Hospital dos Servidores do Estado, o melhor hospital da
América Latina. Os professores eram funcionários públicos. Ensinei graduação médica por 10 anos na
Faculdade de Ciências Médicas e depois mais 25 anos a pós-graduados no Hospital
Barão de Lucena que foi uma das maiores escolas médicas do Brasil e não
passávamos de funcionários públicos, mas com uma enorme dedicação ao ensino de
formação de pediatras. Como avaliar tanto professor nessas escolas tanto públicas
como privadas? Não tem como, e um médico mal formado é um profissional
deformado na sua essência. Será que se tornará necessário um exame tipo Revalida para os novos médicos assim
como existe a prova da OAB? Fico nessa
dúvida, pois medicina não é um emprego é uma dedicação, é uma vocação, é como a
origem latina da palavra diz: um chamamento. E a responsabilidade do Professor
é enorme. O desenvolvimento do Brasil é pífio e concentra-se nas regiões
metropolitanas. O interior não atrai capital e o país também não investe nesses
rincões e lá não se estabelecem nem médicos nem nenhum profissional universitário
a não ser juízes que passam por esse purgatório na expectativa de um final de
carreira abonado e seguro. Não vejo nada de positivo pela frente e continuará
sempre a transporte terapia patrocinada pelas prefeituras e vereadores
generosos.
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