segunda-feira, 25 de maio de 2015

A PRECAUÇÃO, O CUIDADO E O MEDO.

FERNANDO AZEVEDO

Os cuidados com acidentes começam logo que a criança nasce. Sabe que ela pode escorregar da mão de quem está fazendo o parto e cair no chão? Depois lá para os quatro meses ela começa a virar de bruços e pode cair da cama se nãoi tem grades, ou do trocador após os banhos. Olho vivo! Segue-se o engatinhar e o perigo vai aumentando e vem o andar onde começa a querer explorar a casa toda. A criança pequena não tem a menor noção do perigo e temos que vigiá-la sem lhe tolher a liberdade, pois precisa ir descobrindo o mundo. Temos então que ter precaução e cuidado com tudo que faz. Depois vamos quando maiorzinha ensinando os perigos de acidentes tais como escadas, frequentarem cozinhas local de grande risco, queda de alturas e por isso todas as janelas tem que ter grades de proteção. Afogamentos são evitados com o ensino da natação após os seis meses. Não considerar nunca que sabe nadar, mas se cair flutua por um tempo que da para retira-lá da piscina. Vem depois a bicicleta o skate e a prevenção de danos nas inevitáveis quedas, com o capacete, e outros equipamentos, mas tudo isso vai se instruindo de uma forma encorajadora, dando segurança à criança. Há uma profunda diferença entre a proteção e o medo. Crianças e adolescentes passam a fugir da nossa vigilância, mas se estiverem bem formados vão participar de tudo, desfrutar da alegria da infância que nunca deve ser descartada com responsabilidade e segurança. Vemos agora uma série de medos que ficam incutidos numa cabeça infantil e que vai segui-la por toda a vida. Crianças estão deixando de tomar banho de mar por medo de tubarão e perdendo uma oportunidade maravilhosa de vida ao ar livre e brincadeiras mil porque observam placas de advertência que realmente devem ser colocadas. Cabe explicar o que acontece, mas nunca atemorizar a criança a tomar seu banho de mar tão saudável em lugar seguro. Medo de animais também deve ser substituído por cuidados com animais. A criança medrosa torna-se um adulto inseguro o que prejudica seu bem estar pessoal, pois o temor a tudo vai lhe dominando, chegando ao desespero de ter medo de uma barata. Nunca vi ser mais indefeso. Nunca perdi uma briga com uma.

terça-feira, 19 de maio de 2015

MINHA DÍVIDA COM CID SAMPAIO - Matéria publicada no Diário de Pernambuco.

FERNANDO AZEVEDO fj-azevedo@uol.com.br

Nascido no Espinheiro, bairro de classe média, dando meus primeiros passos na sede velha do Náutico ,sendo depois atleta e dirigente e hoje conselheiro, entrei na Faculdade de Ciências Médicas em 1959 para de lá sair em 1964.Era um pequeno burguês. Em 1962 começa o governo Cid Sampaio, um usineiro rico, nascido em berço de ouro como se chamava. Foi justamente esse homem que me mostrou a pobreza. Criou logo no início do seu governo a Fundação da Promoção Social, um projeto que não esqueço. Fui admitido na Fundação no cargo de Educador Social e minha função era a de instalar nas comunidades pobres, escolas e consultórios de atendimento médico e dentário e fiz isso no Alto do Carmelo em Camaragibe e também em São Lourenço, Linha do Tiro e Beberibe. A criança não ia para a escola,a escola era que ia à criança. A comunidade dava todo o apoio para a instalação dos precários, mas eficientes consultórios dentários e médico. As figuras dos profissionais de saúde assim como a da Professora eram do maior prestígio, dava gosto ver. Havia festas em datas de aniversários e uma verdadeira confraternização da população e presença sempre do vereador ou deputado ligado àquele povo. Um jipe DKV-Vemag levava-me diariamente ao local, em horário sempre compatível com minhas aulas na Faculdade. Uma surpresa maior me aguardava. Instalava-se em Santo Amaro um pequeno Pronto Socorro com dois leitos para internação e atendimento ambulatorial de urgência. Nesse tempo eu já era acadêmico concursado do Departamento Estadual da Criança e dava plantão em Afogados. Já sabia uma coisinha de Pediatria pois também trabalhava como acadêmico nas cadeiras de Puericultura e Pediatria, chefiadas pelos Professores Antonio e Fernando Figueira. Pedi então transferência para lá, dando um plantão de 24 horas semanais junto com o querido primo Reinaldo Oliveira com quem aprendi muita coisa e, sobretudo sorrir mais ainda. Mas havia também a lágrima, pois se no trabalho anterior conheci pobreza, em Santo Amaro conheci miséria absoluta. Andava sobre taboas sobre a lama para passar uma sonda uretral em um cadeirante cego que me pagava com um “obrigado Doutor, que Deus lhe proteja”. Dirigia uma Kombi após as dezoito horas se chegasse um paciente mais grave, conduzindo-o ao Pronto Socorro da Fernandes Vieira. Assim, com as lições recebidas dos mestres e desse projeto de governo entendi que o médico deve ser missionário e não milionário. Bastam-lhe as condições materiais que lhe permitam uma vida confortável com rendas que lhe mantenham instruído, pois jamais pode fechar o livro, mas sem excesso em caixa. Lembro muito de minha mãe dizendo a meu pai: “Rinaldo, aumente o preço de sua consulta”. Na bucha ele respondia: “Está faltando comida?”. Não nunca faltou, deu perfeitamente para nos dar o que precisávamos.

segunda-feira, 11 de maio de 2015

GREVES, OCUPAÇÕES E OBSTRUÇÕES

FERNANDO AZEVEDO

Se é um direito constitucional que se tenha o direito de decreta-las. Mas existem greves antipáticas. A de Médico por exemplo. Nunca aceitei. No meu tempo de Barão de Lucena eram extremamente frequentes pelo cruzar dos braços da parte burocrática. Nenhuma consulta conseguia ser marcada, nenhuma operação poderia ser realizada e parava tudo. Como trabalhava em enfermaria e nesse tempo fazia Oncologia, furava o piquete diariamente, explicando a gravidade da minha ausência. Na saída deixava por lá meus cinco ou dez reais para o fundo de greve. Mas greve decretada pela classe médica não acho justo por mais absurdas que sejam as condições de trabalho. Entendo que a exposição de motivos às autoridades e à população funciona muito melhor que movimento paredista. Outro dia no carnaval, fui assistir a um show na Lagoa do Araçá que não conhecia. Soube e li depois que imobiliárias tentaram aterrar para construir os famosos espigões. A população, sobretudo as mulheres indo de casa em casa, fizeram um mutirão que obrigou o recuo do projeto. Vejo agora o projeto Novo Recife. Não tenho conhecimentos detalhados, mas a paisagem de abandono conheço há décadas. Ser contra o tal projeto é um direito do cidadão. Juntar pessoas para com argumentos sólidos fazerem mais aliados é na minha opinião a forma convincente de interromper um absurdo como seria a construção do shopping da Tamarineira. A população foi à rua e com um abraço liquidou a possibilidade. São vários os exemplos. Quanto ao Estelita não aceito o comportamento. Pichar muros e prédios, pichar a casa do Prefeito? Que casa do Prefeito? O prédio é um bem da cidade e a rua um bem público para livre trânsito dos cidadãos. Invadir shoppings assemelhando-se a rolezinhos é inaceitável. A classe que está à frente do protesto é intelectualizada, é estudiosa e tem que ser por esse motivo educada. Com palavras e lideranças mudam-se cabeças, destrói-se ou constrói-se projetos. Violência jamais consegue adeptos porque é uma coisa burra. Não faço defesa de prefeito ou governador e ao contrário tenho um montão de reclamações, sobretudo na área que atuo. Não sou ligado a nenhum partido sou apenas eleitor e cidadão, mas da mesma forma que a célebre frase “hay gobierno, soy
contra” digo para a desordem que vemos no dia-a-dia. Hay ocupacion? Soy contra!

segunda-feira, 4 de maio de 2015

ALTERNANCIA DE ANTITERMICOS

FERNANDO AZEVEDO

Não sei quem inventou, mas a coisa pegou e já existem vários relatos na literatura médica pediátrica sobre erros de dosagens de antitérmicos. É comum ter em casa os mais conhecidos tais como o Tylenol, Novalgina e Alivium. Começa um quadro febril e de imediato inicia-se o antitérmico. A febre não baixa e troca por outro e depois pelo terceiro e volta ao primeiro numa confusão danada. Soma-se a isso o custo dos medicamentos e pra que gastar dinheiro comprando três ou mais. Maioria das crianças hoje é cuidada por babás despreparadas, pois os pais estão no trabalho. A febre é um sinal de alerta, é como se no painel do carro acendesse uma luz vermelha. Algo está acontecendo, alguma infecção etc. Febre abaixo dos seis meses deve se investigada imediatamente, pois pode ser um quadro grave. Acima dos seis meses elas são quase obrigatórias. Muitas vezes são atribuídas aos dentes que estão chegando, mas há uma coincidência: aos seis meses, época do aparecimento dos primeiros dentes coincide com o fim da imunidade transferida pela mãe ao bebê e ai ele vai com seu sistema imunológico reagindo aos agentes infecciosos do meio ambiente. Se estão em creche a coisa é mais frequente. A febre é necessária para o combate aos vírus e bactérias que não resistem a altas temperaturas. À medida que você usa e abusa dos antitérmicos está abrindo as portas para que eles entrem sem cerimonia. Sou quase do tempo de uma prática médica chamada Termoterapia quando eram injetadas em adultos substâncias chamadas pirogênicas que provocavam elevação da temperatura corporal chegando a mais de 40graus. Essa pratica foi abandonada completamente após o uso de antibióticos, mas a verdade continua. A febre ajuda o combate à infecção. O que se tem de observar é o ESTADO GERAL da criança. Se está ativa não é preocupante. Se está prostrada, irritada deve ser examinada logo. Usar anti-inflamatórios e antibióticos precipitadamente é erro grosseiro, mas muitos fazem e complica a interpretação de exames e, sobretudo identificação do agente causador da doença. Calma então com febre em criança. Hidrate mais que alimente, pois o apetite costuma diminuir e se forçar a criança vomita. Dar líquidos em pequenas quantidades e repetidamente é fundamental. Até 38 graus não use nada a não ser que a criança tenha passado de convulsão febril. Faça o favor de não usar álcool nem banhos frios. O banho deve ser morno, confortável e bem aceito. Usar compressas frias na cabeça, axilas e virilhas, abdome, são procedimentos válidos. Escolha o antitérmico que a criança aceita melhor. Va informando os sintomas e o diagnóstico deve ser feito o mais breve, mas sem precipitação.