terça-feira, 19 de maio de 2015

MINHA DÍVIDA COM CID SAMPAIO - Matéria publicada no Diário de Pernambuco.

FERNANDO AZEVEDO fj-azevedo@uol.com.br

Nascido no Espinheiro, bairro de classe média, dando meus primeiros passos na sede velha do Náutico ,sendo depois atleta e dirigente e hoje conselheiro, entrei na Faculdade de Ciências Médicas em 1959 para de lá sair em 1964.Era um pequeno burguês. Em 1962 começa o governo Cid Sampaio, um usineiro rico, nascido em berço de ouro como se chamava. Foi justamente esse homem que me mostrou a pobreza. Criou logo no início do seu governo a Fundação da Promoção Social, um projeto que não esqueço. Fui admitido na Fundação no cargo de Educador Social e minha função era a de instalar nas comunidades pobres, escolas e consultórios de atendimento médico e dentário e fiz isso no Alto do Carmelo em Camaragibe e também em São Lourenço, Linha do Tiro e Beberibe. A criança não ia para a escola,a escola era que ia à criança. A comunidade dava todo o apoio para a instalação dos precários, mas eficientes consultórios dentários e médico. As figuras dos profissionais de saúde assim como a da Professora eram do maior prestígio, dava gosto ver. Havia festas em datas de aniversários e uma verdadeira confraternização da população e presença sempre do vereador ou deputado ligado àquele povo. Um jipe DKV-Vemag levava-me diariamente ao local, em horário sempre compatível com minhas aulas na Faculdade. Uma surpresa maior me aguardava. Instalava-se em Santo Amaro um pequeno Pronto Socorro com dois leitos para internação e atendimento ambulatorial de urgência. Nesse tempo eu já era acadêmico concursado do Departamento Estadual da Criança e dava plantão em Afogados. Já sabia uma coisinha de Pediatria pois também trabalhava como acadêmico nas cadeiras de Puericultura e Pediatria, chefiadas pelos Professores Antonio e Fernando Figueira. Pedi então transferência para lá, dando um plantão de 24 horas semanais junto com o querido primo Reinaldo Oliveira com quem aprendi muita coisa e, sobretudo sorrir mais ainda. Mas havia também a lágrima, pois se no trabalho anterior conheci pobreza, em Santo Amaro conheci miséria absoluta. Andava sobre taboas sobre a lama para passar uma sonda uretral em um cadeirante cego que me pagava com um “obrigado Doutor, que Deus lhe proteja”. Dirigia uma Kombi após as dezoito horas se chegasse um paciente mais grave, conduzindo-o ao Pronto Socorro da Fernandes Vieira. Assim, com as lições recebidas dos mestres e desse projeto de governo entendi que o médico deve ser missionário e não milionário. Bastam-lhe as condições materiais que lhe permitam uma vida confortável com rendas que lhe mantenham instruído, pois jamais pode fechar o livro, mas sem excesso em caixa. Lembro muito de minha mãe dizendo a meu pai: “Rinaldo, aumente o preço de sua consulta”. Na bucha ele respondia: “Está faltando comida?”. Não nunca faltou, deu perfeitamente para nos dar o que precisávamos.

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