FERNANDO AZEVEDO
Gosto de escrever sobre o que vejo nessas
viagens que faço. Gosto de apreciar costumes e comportamentos e por isso não me
atrai os programas em resorts onde estão todos numa rede ou cadeira de piscina
comendo e bebendo, se deliciando com o all inclusive. Não, não consigo. Quero
um hotel duas a três estrelas e rapidamente ir para a rua ver gente e lugares
que me despertem atenção. Sou urbano, gregário. Gosto da padaria na esquina e
andar a pé. Não tomem essas anotações como a de uma pessoa pretensiosa no assunto
turismo, mas de um cronista pequeno
AMSTERDAM E SUA ZONA VERMELHA
FERNANDO AZEVEDO
Quem pensar que sou um puritano, um radical
pra qualquer lado não tem a mínima noção de quem realmente sou. Entendo
e aceito todas as religiões, todos os comportamentos, todas as opções de vida.
Escolho só o meu caminho e procuro orientar os meus descendentes naquilo que
acho a melhor escolha, sem querer servir de exemplo pra ninguém. Sou, no entanto
de uma geração completamente desinformada sobre sexo. Jamais conversamos com nossos
pais, tudo se aprendia com os mais velhos e a iniciação sexual era na Rua da
Guia, Rua do Bom Jesus e Rua do Rangel, além da caça noturna às empregadas
domésticas. Portanto prostituição é um assunto que defendo tese de doutorado
com experiência em vários estados brasileiros. A profissão mais antiga do mundo
como é conhecida mudou para uma coisa mito mais fina e cara. São as garotas de
programa e afins, tudo com muito mais “dignidade”. O bairro vermelho é chocante
no sentido de desatualização de comportamento. Pequenos cubículos com mulheres seminuas
num espaço de não mais de 2 metros quadrados se muito e uma multidão a passar
levada por guias turísticos de diversas nacionalidades. Não consegui saber o
preço de uma aventura dessa e não vi e acho que nem existe a possibilidade de
uma “coelhada”, pois não pode pertencer ao gênero humano nem a prostituta nem o
comedor. Cheirei todas as fumaças nas ruelas. A comparação que faço seria como
no bairro de São José entre ruas estreitas do Pátio de São Pedro, Rua Direita e
Livramento voltando pela Rua do Rangel etc. Existem restaurantes, lojas de sex
shop e os famosos batedores de carteira. Uma senhora do nosso grupo foi roubada
em tudo. Felizmente é portuguesa, não tem problemas nem com dinheiro nem
passaporte, mas um de nós estaria em apuros. Estou escrevendo isso para
aconselha-los a não submeterem-se a essa exploração e
enganação do turismo ruim. Acho até que a prefeitura da cidade financia essas
pobres mulheres para passarem por essa vergonha pública, tal o numero de
turistas que percorrem essas ruas. Com isso quero dar minha colaboração para os
que vão a Amsterdam. Não caiam nessa. A curiosidade não vale à pena. A cidade
oferece tanta beleza, alegria, confraternização que é chocante e degradante o
espetáculo oferecido a turistas desavisados. Fui como boi vai para a matança,
não tinha realmente ideia do que iria ver. É a única má lembrança que levo para
sempre desse continente que cada dia me encanta mais.
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