CRÔNICAS SOBRE VIAGENS - PORTUGAL DE SUL A NORTE
FERNANDO AZEVEDO
Gosto de escrever sobre o que vejo nessas
viagens que faço. Gosto de apreciar costumes e comportamentos e por isso não me
atrai os programas em resorts onde estão todos numa rede ou cadeira de piscina
comendo e bebendo, se deliciando com o all inclusive. Não, não consigo. Quero
um hotel duas a três estrelas e rapidamente ir para a rua ver gente e lugares
que me despertem atenção. Sou urbano, gregário. Gosto da padaria na esquina e
andar a pé. Não tomem essas anotações como a de uma pessoa pretensiosa no assunto
turismo, mas de um cronista pequeno
Há cinco anos comecei a viajar por imposição de mulher e do
Dr. Carlos Alberto e Fátima. Dizem para onde devo ir, programam tudo e
passivamente aceito. Como Portugal é minha pátria familiar aqui venho com muito
prazer. Nessas cinco oportunidades sempre descíamos em Lisboa onde fazíamos
sede e diariamente saíamos para cidades próximas (Sintra, Óbidos, Fátima(
obrigatoriamente todas às vezes) e em
seguida Vila Nova de Gaia do outro lado da cidade do Porto que fica mais
confortável para quem está de automóvel. Vamos à Porto de taxi que é barato e
não precisa disputar estacionamento. De Gaia partíamos também para cidades
próximas como Coimbra, Aveiro, Braga, Viana do Castelo e outras. Dessa vez o
roteiro foi diferente. Em Lisboa não ficamos e direto do aeroporto descemos
para o Algarve, Faro. Nessa região passamos dois dias inteiros e fomos a Sagres
o ponto mais oeste de Portugal, junto ao Oceano Atlântico e visitamos a escola
de Sagres, fábrica de navegadores e descobridores. A estrada nessa região é
ótima e praticamente vazia. É a zona praieira de portugueses e da Europa por ter um clima mais quente, com
praias sem maior beleza digamos, mas com hotelaria forte, sobretudo em Portimão
onde almoçamos e passamos quase o dia inteiro voltando a Faro onde estávamos
hospedados. A paisagem lembra nosso agreste, Fazenda Nova, etc. Poucas cidades
próximas ou atraentes nesse percurso que diria não ser a primeira opção para
quem vem para cá, mas valeu muito conhecê-la para não ficar uma viagem
repetitiva. De Faro partimos ontem rodando mais de 500 km até chegar ao Porto.
Fazíamos paradas a cada duas horas e pequenos lanches, e inteiros estávamos ao
chegar ao fim de tarde. Sente-se uma
brutal diferença entre o norte e o sul de Portugal, sendo o norte bem mais rico
e bonito. Há muito verde, as estradas são excelentes também. Da região do Porto
saíram os meus ascendentes, o Borges Rodrigues
materno e o Soares de Azevedo paterno. Uma das coisas que mais gosto
aqui é ver a minha infância nas casas e lojas comerciais, pois lá estão as
cômodas, os guarda roupas, os espelhos, o quadro da ceia de Jesus e as
pratarias. Hoje qualquer casa é igual com os terríveis sofás cama, a tv de
plasma na parede e as cozinhas iguais às outras das casas de decoração. Aqui não.
Vejo a secretária com cortina de madeira e suas gavetinhas, as cadeiras de palha,
os lustres (não luminárias sem graça) e a mesa farta que é muito real na canção
CASA PORTUGUESA; “Numa casa portuguesa fica bem/Pão e vinho sobre a mesa/quando
à porta humildemente bate alguém/senta-se à mesa com a gente... Quatro paredes
caiadas/um cheirinho de alecrim... Um São José de Azulejo/duas rosas no jardim.
É uma casa portuguesa com certeza, é com certeza uma casa portuguesa, e para
essa casa quero voltar sempre até que o bacalhau nos separe.