sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Matéria Publicada no Diário de Pernambuco

A obesidade na criança e adolescente 
Fernando Azevedo
Recife, terça-feira, 26 de abril de 2011
Estou aos 47 anos de profissão tendo que fazer check-up em crianças e, sobretudo adolescentes, visando diagnosticar distúrbios metabólicos, assunto antes tratado em clÍnica de adultos na sua maioria. É crescente a obesidade infanto-juvenil no nosso país, fruto de hábitos alimentares errados e sedentarismo. O erro alimentar eu entendo. As crianças nordestinas, sobretudo, não têm o hábito de comer saladas de verduras, de saborear uma fruta, comer vegetais precedendo ou acompanhando uma refeição, usar frutas como lanche, conter o uso do sal etc., é difícil e frustrante como resultado. Os pais comumente não dão exemplo. São da geração fast-food e vamos e venhamos, tudo que engorda é gostoso e depois do primeiro biscoito recheado... O que mais me espanta, no entanto não é isso. 

O que me aterroriza é a criança sedentária. Onde já se viu isso? Um vulcão que tem que estar permanentemente em erupção, apresenta-se com sua lava presa e em silêncio? Mas vamos analisar porque é sedentária. Para ir ao colégio mesmo que more perto o status não permite chegar a pé ou os pais têm que trabalhar e aproveitam a saída para deixar o filho na escola. Também pesa o fator segurança. No colégio quatro a cinco horas sentado e folga somente para um lanche onde a cantina oferece frituras e refrigerantes. Levar uma fruta de casa é pagar um mico para o resto do curso. Sentado, espera a condução escolar ou os pais. Volta geralmente à tarde para aulas de inglês ou outras (preparação para o futuro) onde sentado fica. Mais um lanchinho e a gloriosa volta para casa onde encontra-se com seu melhor amigo, o computador, lembrando que no caminho vem jogando com esses computadorezinhos portáteis que não sei o nome.

 À noite a TV por assinatura com desenho animado etc., isolado no seu quarto, deitado, movimentando só o dedo polegar para acionar o controle remoto. A atividade física é mínima e se gosta de esportes, perdeu com as transformações sociais e o desaparecimento dos quintais, dos campos de pelada. Nos clubes não encontra o esporte lúdico, recreativo, só a competição interessa. Os condomínios hoje têm a preocupação de oferecer aos moradores quadras, piscinas, mas crianças cansam com a rotina e sobretudo nas férias varam a noite nos games sabendo que podem dormir 12 horas no dia seguinte quando justamente nessa época poderiam exercer maior atividade física. As Academias da Cidade representam uma excelente proposta contra o sedentarismo do adulto e idoso, principais frequentadores, mas esse problema tem que ter seu combate na infância. “Ai que saudade que tenho da aurora da minha vida, da minha infância querida que os anos não trazem mais” (Casimiro de Abreu). Tempo em que os meninos e meninas tinham apelidos que mostravam que o s vulcões da mocidade estavam em erupção contínua: Pixoto, Magrelo, Macarrão, Fred Cordão, Olivia Palito, Caga Sibite, Piaba, Filé de Borboleta. Colesterol? Que diabo era isso?

Fernando Azevedo
Médico Pediatra
fj-azevedo@uol.com.br

Um comentário:

  1. É totalmente verdade!!! Cresci numa rua de vila, onde brincava com amigos e meu irmão, enquanto minha mãe ficava em casa com os afazeres ou na calçada conversando com as vizinhas. Agora me sinto perdida como vou criar minha filha, agora com um aninho. O exemplo que tive, não tenho como reproduzir na educação dela. Mas vou me esforçar, não quero que minha filha se torne obesa por isso, e também tem a saúde emocional, a criança precisa mesmo correr, pular, brincar com outras crianças! Já procurei natação para bebês em Olinda, e em fevereiro ela começa!
    Muito obrigada, Dr. Fernando, seus artigos sempre são ricos em sabedoria!

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