segunda-feira, 6 de março de 2017

REFLEXÕES



FERNANDO AZEVEDO

“Acabou nosso Carnaval/Ninguém ouve cantar canções/Ninguém passa mais/ cantando feliz/ E nos corações saudades e cinzas foi o que restou” (Carlos Lyra).
Essa imortal Marcha da Quarta Feira de Cinzas, tão inspirada, tão cantada, deixou de representar o que dizia também Luiz Bandeira “Oh quarta-feira ingrata/ chega tão depressa/ só pra contrariar”. Capiba “O que é que eu com dizer em casa/ Quando chegar quarta-feira de cinzas/ O que é que eu vou dizer/O que é/ Com esse cheirinho de mulher/”.
Desde criança que o Carnaval me encanta. Via passar os clubes pelas ruas do Espinheiro precisamente na Av. João de Barros, depois na adolescência frequentar os bailes a partir dos 17 anos, no auge dos bailes de clube. Não gostava do mela-mela e isso me afastou por certo tempo do Recife, mas fazendo um Carnaval em São José da Coroa Grande colocando uma Rainha do carnaval de lá na capota do meu fusquinha e desfilando com ela até nossa casa. Sucesso! Um dia Enéas Freire passou pelo meu consultório e deixou uma fantasia de árabe para o primeiro desfile do Galo da Madrugada com ordens expressas do me minha adesão. Ordens cumpridas e lá vou eu em pleno sábado normal do Recife com essa turma inicial, um barril de chope e uma orquestra de chão, iniciar um fenômeno chamado hoje de “O maior clube de carnaval do planeta”. Para ele compus músicas posteriormente, depois surge o Bloco das Ilusões que não perco e por ai vai.
Esse ano decretei aposentadoria do Carnaval. Brinco o pré e está de bom tamanho pois a madame que sempre me acompanhou em tudo merece agora (tardiamente?) minha solidariedade para uma viagem.
Minha surpresa, no entanto é que não existe mais a quarta feira de cinzas. O carnaval não para e surge São Paulo, antes denominada por Vinicius de Moraes como “(o túmulo do samba) com um carnaval de rua com centenas de blocos que não saem da rua. Parece que termina hoje (escrevo domingo). O Rio de Janeiro copia ou compete ou ao contrário se preferirem. O Recife mantém há alguns anos o Camburão da Alegria, mas normalmente não se fala mais em carnaval na quinta feira. Na quarta tem o Bacalhau da Batata o Mungunzá de Thais e  Zuza, os Irresponsáveis em Água Fria.
 Acabou. Falam em Depressão Carnavalesca esse comportamento de não quererem cair na realidade e permanecerem nas ruas cantando e bebendo. Se for verdade isso é de contágio alto e sem possibilidade de imunização, pois está se multiplicando pelo país.
Acorda Recife, acorda que já é hora de estar de pé, mas para estudar, trabalhar e produzir um país mais sério, com direito aos tradicionais quatro dias carnavalescos.

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