FERNANDO AZEVEDO
“Acabou nosso Carnaval/Ninguém ouve cantar
canções/Ninguém passa mais/ cantando feliz/ E nos corações saudades e cinzas
foi o que restou” (Carlos Lyra).
Essa imortal Marcha da Quarta Feira de Cinzas,
tão inspirada, tão cantada, deixou de representar o que dizia também Luiz
Bandeira “Oh quarta-feira ingrata/ chega tão depressa/ só pra contrariar”.
Capiba “O que é que eu com dizer em casa/ Quando chegar quarta-feira de cinzas/
O que é que eu vou dizer/O que é/ Com esse cheirinho de mulher/”.
Desde criança que o Carnaval me encanta. Via
passar os clubes pelas ruas do Espinheiro precisamente na Av. João de Barros,
depois na adolescência frequentar os bailes a partir dos 17 anos, no auge dos
bailes de clube. Não gostava do mela-mela e isso me afastou por certo tempo do
Recife, mas fazendo um Carnaval em São José da Coroa Grande colocando uma
Rainha do carnaval de lá na capota do meu fusquinha e desfilando com ela até
nossa casa. Sucesso! Um dia Enéas Freire passou pelo meu consultório e deixou
uma fantasia de árabe para o primeiro desfile do Galo da Madrugada com ordens
expressas do me minha adesão. Ordens cumpridas e lá vou eu em pleno sábado
normal do Recife com essa turma inicial, um barril de chope e uma orquestra de
chão, iniciar um fenômeno chamado hoje de “O maior clube de carnaval do
planeta”. Para ele compus músicas posteriormente, depois surge o Bloco das
Ilusões que não perco e por ai vai.
Esse ano decretei aposentadoria do Carnaval. Brinco
o pré e está de bom tamanho pois a madame que sempre me acompanhou em tudo
merece agora (tardiamente?) minha solidariedade para uma viagem.
Minha surpresa, no entanto é que não existe mais
a quarta feira de cinzas. O carnaval não para e surge São Paulo, antes
denominada por Vinicius de Moraes como “(o túmulo do samba) com um carnaval de
rua com centenas de blocos que não saem da rua. Parece que termina hoje
(escrevo domingo). O Rio de Janeiro copia ou compete ou ao contrário se
preferirem. O Recife mantém há alguns anos o Camburão da Alegria, mas
normalmente não se fala mais em carnaval na quinta feira. Na quarta tem o
Bacalhau da Batata o Mungunzá de Thais e
Zuza, os Irresponsáveis em Água Fria.
Acabou.
Falam em Depressão Carnavalesca esse comportamento de não quererem cair na
realidade e permanecerem nas ruas cantando e bebendo. Se for verdade isso é de
contágio alto e sem possibilidade de imunização, pois está se multiplicando
pelo país.
Acorda Recife, acorda que já é hora de estar de
pé, mas para estudar, trabalhar e produzir um país mais sério, com direito aos
tradicionais quatro dias carnavalescos.
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