segunda-feira, 20 de março de 2017

O IDOSO E A MODERNIDADE



FERNANDO AZEVEDO

Lamentei muito a morte de um querido primo semana passada e a causa mortis não foi doença. Estava ótimo. Se tivesse de assinar o atestado colocaria: modernidade. Quando eu tinha meus trinta para quarenta anos fui aos Estados Unidos e lá aluguei um carro. Pela primeira vez dirigia eu um carro de transmissão automática e achei uma maravilha. No meu pensamento a partir daquele momento não queria mais saber do terceiro pedal e de passar marchas. Tinha quem fizesse por mim. Ao voltar comprei um Dodge Charger automático e sai por ai até que com a dificuldade de peças e manutenção na época, comprei um Maverick com quem fui casado por 12 anos e voltei a passar marchas daí em diante. Minha frota hoje é composta de um Renault Scenic 2005 (já extinto da linha) e um Renault Clio 2007 seu irmãozinho também já não fabricado. Ainda existem nos dois, botões que não sei para que servem. A quantidade de carros de transmissão automática avança e praticamente as embreagens vão desaparecendo. O painel tem telas, botões, a direção é cheia de dispositivos para “facilitar” e dar segurança ao motorista. Acredito que todas essas invenções são excelentes para os jovens e não para os idosos como eu. Aprender como manusear tanta coisa termina causando problemas. Foi o que aconteceu com meu primo que morreu devido a um auto- atropelamento por um auto automático. Ao chegar em casa a esposa ao descer caiu e ao sair do carro para socorrê-la o carro em marcha para frente  o atropelou causando grave lesão de partes moles e ossos da perna e pé que obrigou-o a cirurgias e hospitalização de três meses morrendo de complicações infecciosas.. Recentemente uma senhora ao sair do estacionamento do hospital na Rua Joaquim Nabuco perdeu o controle, batendo em carros e ônibus. Em outro hospital um colega também coroa destruiu um taxi e mais dois carros. Em Olinda uma amiga passou marcha ré sem perceber e na abertura do sinal ela andou para trás subindo no capô do carro que a antecedia. Todos esses acidentes e outros que não sei (esses são pessoas conhecidas e todos idosos) mostram que  estatística é alta no meu entender e às vezes fatal, portanto pense bem antes de comprar um carro novo cheio de invenções. Pra mim basta a direção, três pedais e saber onde acende a luz. Os projetistas me desculpem, mas meus carros também idosos, me acompanharão até que me cassem a carteira de motorista. Também não precisam passar de oitenta quilômetros  nas mais belas estradas e trinta a quarenta na cidade. Sei que irrito meus caronas mas o carrinho é meu e nele eu mando.

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