Conversando e não digitando, a
gente vai aprendendo todo dia a vida como ela é e como deve ser. Num discurso a
ser proferido por Reinaldo Oliveira e lido com antecedência para nosso grupo em
gostosas reuniões do sábado no nosso Teraço Cultural, uma frase de autor
desconhecido especificou uma pessoa como TÃO POBRE, TÃO POBRE, QUE A ÚNICA
COISA QUE TINHA ERA DINHEIRO. Vejam quanta sabedoria há nesse pensamento. A
vida está longe de ser uma coisa material somente. As amizades que fazemos, a
nossa história, nossas raízes, nossa família e profissão são as nossas
riquezas. O chamado dinheiro é necessário apenas como um intermediário para
irmos à busca do alimento, da saúde e educação e mantermos um padrão de vida
dentro de uma normalidade apenas necessária. Vemos no nosso Brasil de hoje
pessoas tão pobres, mas tão pobres, que nem dinheiro tem mais e ainda perderam
a coisa mais bela da vida que é a liberdade, liberdade de vida e de opinião.
Paupérrimos figurões antes bajulados por outros paupérrimos e hoje nem esses
existem mais. A vida ensina todo dia e basta nela se inserir através da
leitura, das artes, da literatura, mas quem vive digitando vai dela se
afastando. Nesse mesmo discurso, tendo
agora como personagem uma velhinha rica do Asilo Bom Pastor
que ao receber uma visita coletiva de uma instituição beneficente disse numa
voz fraca e trêmula uma frase muito forte:" Por favor, não me tragam
biscoitos e guaraná. Me tragam só conversa” Mas os digitadores não querem
conversar e os TÃO POBRES só querem
enriquecer, acumular fortunas maioria delas de forma ilegal. Exibirem-se
através de aviões, helicópteros e Lamborghinis na sala de jantar, mostrando o
quanto é unicelular o seu cérebro que não gasta um centavo do seu Real para
fazer o bem, para ajudar uma instituição ou para conversar. Seu círculo
cultural são seus seguranças, peritos em artes marciais e revólveres para
abater quem se aproximar do seu chefe. Não, definitivamente não. Esse não é o
exemplo. Na política, li os três livros sobre Getúlio Vargas. O Brasil era
divergente em pensamentos: comunistas, integralistas, germanófilos de Hitler,ditadores,
mas não havia ladrões. Adhemar de Barros é talvez o primeiro figurante do
“rouba, mas faz”. As abjetas figuras políticas de hoje constituem o grupo do
rouba e não faz. Mas a vida faz por eles, mas não vão ter tempo para aprender.
Não terão nem biscoitos, nem guaranás nem conversas.
segunda-feira, 27 de março de 2017
segunda-feira, 20 de março de 2017
O IDOSO E A MODERNIDADE
FERNANDO AZEVEDO
Lamentei muito a morte de um
querido primo semana passada e a causa mortis não foi doença. Estava ótimo. Se
tivesse de assinar o atestado colocaria: modernidade. Quando eu tinha meus trinta
para quarenta anos fui aos Estados Unidos e lá aluguei um carro. Pela primeira
vez dirigia eu um carro de transmissão automática e achei uma maravilha. No meu
pensamento a partir daquele momento não queria mais saber do terceiro pedal e
de passar marchas. Tinha quem fizesse por mim. Ao voltar comprei um Dodge
Charger automático e sai por ai até que com a dificuldade de peças e manutenção
na época, comprei um Maverick com quem fui casado por 12 anos e voltei a passar
marchas daí em diante. Minha frota hoje é composta de um Renault Scenic 2005
(já extinto da linha) e um Renault Clio 2007 seu irmãozinho também já não
fabricado. Ainda existem nos dois, botões que não sei para que servem. A
quantidade de carros de transmissão automática avança e praticamente as
embreagens vão desaparecendo. O painel tem telas, botões, a direção é cheia de
dispositivos para “facilitar” e dar segurança ao motorista. Acredito que todas
essas invenções são excelentes para os jovens e não para os idosos como eu.
Aprender como manusear tanta coisa termina causando problemas. Foi o que aconteceu
com meu primo que morreu devido a um auto- atropelamento por um auto automático.
Ao chegar em casa a esposa ao descer caiu e ao sair do carro para socorrê-la o
carro em marcha para frente o atropelou
causando grave lesão de partes moles e ossos da perna e pé que obrigou-o a
cirurgias e hospitalização de três meses morrendo de complicações infecciosas..
Recentemente uma senhora ao sair do estacionamento do hospital na Rua Joaquim
Nabuco perdeu o controle, batendo em carros e ônibus. Em outro hospital um
colega também coroa destruiu um taxi e mais dois carros. Em Olinda uma amiga
passou marcha ré sem perceber e na abertura do sinal ela andou para trás
subindo no capô do carro que a antecedia. Todos esses acidentes e outros que
não sei (esses são pessoas conhecidas e todos idosos) mostram que estatística é alta no meu entender e às vezes
fatal, portanto pense bem antes de comprar um carro novo cheio de invenções.
Pra mim basta a direção, três pedais e saber onde acende a luz. Os projetistas
me desculpem, mas meus carros também idosos, me acompanharão até que me cassem
a carteira de motorista. Também não precisam passar de oitenta quilômetros nas mais belas estradas e trinta a quarenta
na cidade. Sei que irrito meus caronas mas o carrinho é meu e nele eu mando.
segunda-feira, 13 de março de 2017
MUDANÇA DE VENTOS SOCIAIS
FERNANDO AZEVEDO
Temos uma reunião semanal aos sábados
no chamado Terraço Cultural, casa do meu primo Ricardo Breno. Como o apelido
dele (ou nome) é Cacá, o outro primo Reinaldo Oliveira batizou-o de Acacademia.
Lá discutimos os assuntos mais variados e saímos sempre aprendendo alguma coisa
sem nenhuma pretensão do eruditismo. Há três semanas fui eu o conferencista e
abordei o tema A CRIANÇA ANTES E DEPOIS DE CRISTO. Expus os séculos de
sofrimento infantil em todas as civilizações, o infanticídio praticado por quase
todos os povos, a altíssima mortalidade infantil, o desconhecimento total da
medicina pediátrica que só em 1892 foi iniciada na Alemanha como cadeira
curricular, o primeiro hospital pediátrico do mundo na França e a partir de
1898 Arthur Moncorvo de Figueiredo que foi para a Europa aprender essa
especialidade, a introduziu no Brasil e graças a ele sou hoje Pediatra. Ele é o
pai de todos os Pediatras do Brasil. Em todas as civilizações o homem era o
provedor, o guerreiro e a mulher a responsável pela infância. No Brasil
descoberto por Portugal isso também foi notado e escrito em cartas por Pero Vaz
de Caminha. Chego então ao início da minha vida que começa em 1940. Nas
memórias da infância TODAS as mulheres da família eram mães e depois avós.
Nenhuma mãe de amigos meus trabalhava e nem pensar em dirigir um automóvel
coisa também rara na época. Calça comprida? Nem pensar! Muito comum a poligamia
só descoberta com a entrada de outras famílias no velório do homem íntegro e
respeitável. Colégios masculinos e femininos. Raros mistos. Entro na Faculdade
e numa turma de 42 alunos só cinco mulheres.
Dou então às mulheres de hoje os
maiores parabéns às suas vitórias na vida social e acadêmica. sendo motivo de
real orgulho embora haja muito a fazer ainda, sobretudo os salários desiguais.
Mulheres militares, quem pensaria?
Vem agora o outro lado da moeda.
O pai que jamais preparava uma comida para o filho ou lhe dava um banho mudou
muito. Hoje participa de tudo, e muitos são os DONOS DE CASA e a mulher a que
traz o dinheiro para o sustento.
Uma coisa, no entanto a infância
está levando desvantagem. Com a mulher na luta diária muitas crianças perderam
a mãe e também a avó e isso faz uma falta danada, pois são seres insubstituíveis
na constelação familiar. Antes havia babás super cuidadosas e que acompanhavam
uma família por décadas. Hoje são de ruins a péssimas. Raríssimas exceções.
Surge a creche e a escolinha
precoce e só tende a crescer, mas faz muita falta no alicerce de uma criança a
“bela (todas são) recatada (não tão necessário) e do lar”.
segunda-feira, 6 de março de 2017
REFLEXÕES
FERNANDO AZEVEDO
“Acabou nosso Carnaval/Ninguém ouve cantar
canções/Ninguém passa mais/ cantando feliz/ E nos corações saudades e cinzas
foi o que restou” (Carlos Lyra).
Essa imortal Marcha da Quarta Feira de Cinzas,
tão inspirada, tão cantada, deixou de representar o que dizia também Luiz
Bandeira “Oh quarta-feira ingrata/ chega tão depressa/ só pra contrariar”.
Capiba “O que é que eu com dizer em casa/ Quando chegar quarta-feira de cinzas/
O que é que eu vou dizer/O que é/ Com esse cheirinho de mulher/”.
Desde criança que o Carnaval me encanta. Via
passar os clubes pelas ruas do Espinheiro precisamente na Av. João de Barros,
depois na adolescência frequentar os bailes a partir dos 17 anos, no auge dos
bailes de clube. Não gostava do mela-mela e isso me afastou por certo tempo do
Recife, mas fazendo um Carnaval em São José da Coroa Grande colocando uma
Rainha do carnaval de lá na capota do meu fusquinha e desfilando com ela até
nossa casa. Sucesso! Um dia Enéas Freire passou pelo meu consultório e deixou
uma fantasia de árabe para o primeiro desfile do Galo da Madrugada com ordens
expressas do me minha adesão. Ordens cumpridas e lá vou eu em pleno sábado
normal do Recife com essa turma inicial, um barril de chope e uma orquestra de
chão, iniciar um fenômeno chamado hoje de “O maior clube de carnaval do
planeta”. Para ele compus músicas posteriormente, depois surge o Bloco das
Ilusões que não perco e por ai vai.
Esse ano decretei aposentadoria do Carnaval. Brinco
o pré e está de bom tamanho pois a madame que sempre me acompanhou em tudo
merece agora (tardiamente?) minha solidariedade para uma viagem.
Minha surpresa, no entanto é que não existe mais
a quarta feira de cinzas. O carnaval não para e surge São Paulo, antes
denominada por Vinicius de Moraes como “(o túmulo do samba) com um carnaval de
rua com centenas de blocos que não saem da rua. Parece que termina hoje
(escrevo domingo). O Rio de Janeiro copia ou compete ou ao contrário se
preferirem. O Recife mantém há alguns anos o Camburão da Alegria, mas
normalmente não se fala mais em carnaval na quinta feira. Na quarta tem o
Bacalhau da Batata o Mungunzá de Thais e
Zuza, os Irresponsáveis em Água Fria.
Acabou.
Falam em Depressão Carnavalesca esse comportamento de não quererem cair na
realidade e permanecerem nas ruas cantando e bebendo. Se for verdade isso é de
contágio alto e sem possibilidade de imunização, pois está se multiplicando
pelo país.
Acorda Recife, acorda que já é hora de estar de
pé, mas para estudar, trabalhar e produzir um país mais sério, com direito aos
tradicionais quatro dias carnavalescos.
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