terça-feira, 16 de agosto de 2016

FESTA DE 15 ANOS




FERNANDO AZEVEDO

Confesso de público que comecei a beber muito cedo. Ainda menino tomava vinho do Porto com gema de ovo num cálice, virando de uma só vez. Era um remédio para inapetência. O que eu gostava era do efeito. Um amigo meu grande pau-de-cana, dizia que não gostava de beber e sim de estar bêbado. Todo mundo bebia e não havia noção dos danos provocados pelo álcool. Vários medicamentos tinham álcool na composição e me lembro de muito bem do Glimiton para inapetência. Talvez eu até usasse essa tática para tomar tudo isso. Depois na adolescência a coisa piorou com as festas e farras. O que se pode explicar é o seguinte: o pós-guerra foi muito importante para minha geração com filmes americanos onde o uísque e o cigarro eram vedetes. Não havia a consciência do risco. Não conheço um amigo de infância que não tenha fumado. Raríssimos não gostaram e não se viciaram e outros estão por ai nos cemitérios ou com enfisema. Com os conhecimentos e divulgação dos danos e dependência que hoje se conhece se estuda e se divulga a coisa muda de figura. É difícil largar a dependência de álcool e tabaco e o experimentar são o primeiro passo. Logo em seguida vem a tal da maconha que não se usava na minha geração, muito menos a cocaína ou crack. Ninguém sabia disso apesar de existir. Recebi nessa semana um “bebinho” de festa de 15 anos. Não sabia por que não vou mais a festas que existe o “drink dos 15 anos”. Bebida alcoólica preparada pelo Buffet que o adolescente toma, acha bom, toma outro, vai achando melhor e termina em embriaguês e dependendo da sensibilidade  vai ao coma alcoólico. Não sou careta, tenho certeza disso até porque “Confesso que bebi” parodiando o Confesso que vivi de Pablo Neruda.  O que está errado na minha visão é que existe uma responsabilidade do dono da festa e do Buffet em relação a isso, pois soube que é uma prática atual e se não for verdade que me desculpem, mas essa foi a informação que recebi sobre esse adolescente que pirou. A conscientização sobre drogas deve ser contínua. A Lei Seca é formidável e deve ser elogiada e mantida. Quantas vidas perdidas pela combinação álcool e direção. Se questionarem se já fiz diria que muiiiitas vezes, sou réu confesso, mas desde que ela foi instituída todo o meu grupo de happy-hour da sexta feira que existia há anos, em reunião deliberativa, admitiu o grave erro e paramos esse encontro que era um prazer por um lado e um permanente risco por outro. Não existe idade para correção de atitudes. Acho que o “drink dos 15 anos” deve ser repensado, pois pode ser o pontapé inicial de um vício e com carimbo de legalidade.

Um comentário:

  1. Excelente texto, Dr. Fernando Azevedo!! Como mãe de uma adolescente , que graças à Deus é sua cliente, professora especialista em educação especial e psicóloga, fico bastante preocupada também com o tema abordado.Um grande abraço!!

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