Confesso de público que comecei a beber muito cedo. Ainda
menino tomava vinho do Porto com gema de ovo num cálice, virando de uma só vez.
Era um remédio para inapetência. O que eu gostava era do efeito. Um amigo meu grande
pau-de-cana, dizia que não gostava de beber e sim de estar bêbado. Todo mundo bebia
e não havia noção dos danos provocados pelo álcool. Vários medicamentos tinham
álcool na composição e me lembro de muito bem do Glimiton para inapetência.
Talvez eu até usasse essa tática para tomar tudo isso. Depois na adolescência a
coisa piorou com as festas e farras. O que se pode explicar é o seguinte: o pós-guerra
foi muito importante para minha geração com filmes americanos onde o uísque e o
cigarro eram vedetes. Não havia a consciência do risco. Não conheço um amigo de
infância que não tenha fumado. Raríssimos não gostaram e não se viciaram e
outros estão por ai nos cemitérios ou com enfisema. Com os conhecimentos e
divulgação dos danos e dependência que hoje se conhece se estuda e se divulga a
coisa muda de figura. É difícil largar a dependência de álcool e tabaco e o
experimentar são o primeiro passo. Logo em seguida vem a tal da maconha que não
se usava na minha geração, muito menos a cocaína ou crack. Ninguém sabia disso
apesar de existir. Recebi nessa semana um “bebinho” de festa de 15 anos. Não
sabia por que não vou mais a festas que existe o “drink dos 15 anos”. Bebida
alcoólica preparada pelo Buffet que o adolescente toma, acha bom, toma outro,
vai achando melhor e termina em embriaguês e dependendo da sensibilidade vai ao coma alcoólico. Não sou careta, tenho
certeza disso até porque “Confesso que bebi” parodiando o Confesso que vivi de
Pablo Neruda. O que está errado na minha
visão é que existe uma responsabilidade do dono da festa e do Buffet em relação
a isso, pois soube que é uma prática atual e se não for verdade que me
desculpem, mas essa foi a informação que recebi sobre esse adolescente que
pirou. A conscientização sobre drogas deve ser contínua. A Lei Seca é
formidável e deve ser elogiada e mantida. Quantas vidas perdidas pela
combinação álcool e direção. Se questionarem se já fiz diria que muiiiitas
vezes, sou réu confesso, mas desde que ela foi instituída todo o meu grupo de
happy-hour da sexta feira que existia há anos, em reunião deliberativa, admitiu
o grave erro e paramos esse encontro que era um prazer por um lado e um
permanente risco por outro. Não existe idade para correção de atitudes. Acho
que o “drink dos 15 anos” deve ser repensado, pois pode ser o pontapé inicial
de um vício e com carimbo de legalidade.
Excelente texto, Dr. Fernando Azevedo!! Como mãe de uma adolescente , que graças à Deus é sua cliente, professora especialista em educação especial e psicóloga, fico bastante preocupada também com o tema abordado.Um grande abraço!!
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