FERNANDO AZEVEDO
Minha irmã Maria
Luiza assim como eu tem netos em São Paulo. Viajou semana passada para a
comemoração do DIA DAS AVÓS (avôs foram discriminados o que mostra a força do
feminismo). Uma ideia interessante que ainda não vi nos colégios daqui. O neto
assina uma carta padrão: “Querida vovó e já na primeira página cita que estamos
trabalhando um livro que se chama OS GUADADOS DA VOVÓ. Aí ficamos curiosos para
saber como era na sua época. Como era a escola na sua época de criança? Você
aprendia como a gente? Usava mochila? As brincadeiras e brinquedos eram iguais
aos nossos? Você morava numa casa igual a minha? Era campo ou cidade? Você se
vestia como nós? E quando ia à praia? As viagens eram de avião? Qual era a sua
comida favorita Quais eram os desenhos que havia na sua época? Tinha Peppa Pig
e Lazy Town? Os shoppings eram modernos e com muitas lojas como hoje em dia?
Hoje levamos bronca e ficamos sem assistir TV quando nos comportamos mal. Como
era na sua época? Que tipo de passeios eram feitos? Iam a zoológicos? Nos aniversários
tinham monitores para fazer brincadeiras? Eram temáticos? Realizados em
buffets? Como eram os bolos? Além de responder a carta você poderia mandar
fotos de sua época?”.
Como eu gostaria
de me vestir de avó nessa escola e responder: Na minha escola o meu curso
primário onde você está era ótimo, porque era lúdico e com o conteúdo
necessário. Entrei nela entre os cinco e seis anos e brinquei muito nos
quintais do meu bairro. Tinha cachorro, galinha, pato, passarinhos soltos a
comer frutas que amadureciam. Quando fui para a escola já estava formado em
“ser criança” e lá fiz pós-graduação. Não, não aprendia como você e nem tinha
mochila porque naquele tempo já se sabia que uma criança carregar uma mochila
pesada de inutilidades não servia pra nada. As brincadeiras e brinquedos também
não eram parecidos. Brincava-se de se esconder, de “bandido e mocinho”, barra
bandeira, de pega e voltávamos imundos para casa, mas felizes da vida. Inventavam-se
brinquedos. Bola de meia, carrinhos de latas de doce etc. Felizmente não morava
numa casa igual à sua pois não haviam apartamentos e os vizinhos que hoje não
se conhecem, colocavam cadeiras na calçada para conversar.Também não me vestia
como você pois as famílias tinham costureiras que faziam nossas roupas. Apenas compravam-se
os panos. Quando ia à praia era uma delícia, pois naquele tempo não se tinha
medo do sol, nosso astro rei. Nossos ossos são mais fortes por esse motivo. Lá
é que aprendíamos a nadar e não haviam piscinas nem escolas de natação. Era
perigoso, confesso. Raramente a gente
viajava, Quase ninguém tinha carro e usávamos os trens e ônibus para ir a cidades do interior. Viagens mais longas
eram de vapor que hoje chamam de navio. Nossa comida favorita? A que vinha pra
mesa, feita pela nossa mãe ou geralmente cozinheiras que moravam com a gente.
Peppa pig? Essa eu não sei responder. Nossos erros eram punidos maioria e
grande maioria das vezes com chineladas e ou cinturãozadas, lembranças tristes
Conversar e aconselhar e punir com privação do que você mais gosta é mais
sensato. Não havia televisão ainda. Shoppings? Não, não havia, mas tinham as
ruas de comércio e as vendas para comprar fiado na caderneta. Seu Brito tinha
tudo. Passeávamos para visitar os parentes, viver com os primos que naquele tempo
eram irmãos. Aniversários temáticos e repetitivos como hoje jamais. Todo
aniversário era diferente e não havia buffets. Ou fazíamos na nossa casa ou em
alguma casa “emprestada” como foi a minha como pai e avô. Tudo era feito nela
até os três casamentos dos meus filhos. Os bolos eram feitos em casa também,
não só eles mas tudo que se comia .
Não mando fotos
porque naquele tempo raras pessoas tinham máquinas fotográficas mas acho que as
poucas que vou mandar vão provocar muita inveja.As fotos eram reveladas e
faziam-se os álbuns. Fui muito mais pobre que você meu neto, mas juro que muito
mais feliz e não se sabia o que eram psicólogos no meu tempo.
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