sábado, 14 de março de 2015

SORRY BRUNSWICK

FERNANDO AZEVEDO


Meu respeitado artista, internacionalmente reconhecido. Dê-me um pequeno espaço para que eu explique aos meus conterrâneos quem é VS, e depois volto a dirigir-me ao senhor. Brunswick foi um cidadão americano que no fim dos anos 1800 conhecendo uma mesa de sinuca, imaginou-a muito mais bonita como artesão que era na área de marcenaria. Criou então um novo desenho de uma mesa com seis pés em forma de um V invertido e com toda a madeira nobre, sobretudo jacarandá entalhado com desenhos variados. Usou madrepérola nas marcações das bordas também em madeira onde se acoplam as borrachas conhecidas como tabelas. As caçapas com um couro especial na entrada recebem as bolas que caem em um saco que se assemelha a um trabalho em crochê. Estava então estabelecido o PADRÃO BRUNSWICK de sinucas e bilhares. O mundo passou a ter fábricas dessas maravilhosas obras de arte, uma antecipação do que hoje se chama franquia. Dito isso Mr. Brunswick quero também passar-lhe algumas informações. No Recife, Brasil, existe um clube com 114 anos praticamente da idade de suas filhas. É o Clube Nautico Capibaribe. Durante a maior parte de sua existência esse clube foi dirigido por cidadãos com história dentro dele. O maior, sem desmerecer os outros da época, chamado Eládio de Barros Carvalho, adotou três filhas suas nascidas em São Paulo no ano de 1951 e como era praxe na época trouxe também um filho, o bilhar, para vigiá-las. Ficaram instaladas num salão lindo, e um funcionário cuidava permanentemente de mantê-las lindas como chegaram. Quem lhe escreve foi um dos que se deliciou com essa convivência tornando-se um dos melhores jogadores do salão, desculpe a imodéstia. Passaram-se algumas décadas e foram elas transferidas por pessoas insensíveis para um primeiro andar dos fundos do clube. Um lugar feio e sujo, mas as moças mantinham a sua beleza intocada, pois obras de arte são relíquias que brilham na escuridão. Pode se admitir a escuridão ambiental, mas não a escuridão mental, desculpe a rima banal, mas é que agora num lance traiçoeiro e irresponsável demos por falta delas e soubemos que foram embora de nossa casa para um lugar ainda hoje ignorado. Fiz uma pesquisa do preço delas e encontrei por R$40.000,00 reais. Algumas com mais de 100 anos como as nossas em torno de R$10.000,00. Desculpe Mr. Brunswick, mas sabe por quanto venderam suas filhas? Por míseros R$200,00 totalizando R$600,00. E sabe pra que mister? Para comprar Totó para os jogadores de futebol. Não conheci pessoalmente um primo que foi um destaque no jornalismo e na dramaturgia brasileira, pois morava no Rio de Janeiro e havia uma grande diferença de idade entre nós. Ele criou uma expressão que cabe bem no assunto: “O brasileiro tem complexo de vira-lata” Tenho certeza da verdade dessa frase ao ver obras de arte e patrimônio material de um clube ser trocadas por Totó. Aqui no Brasil, Mr. Brunswick Totó é cachorro.

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