segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

CONSIDERAÇÕES SOBRE MEDICINA PREVENTIVA

FERNANDO AZEVEDO

As Páginas Amarelas de Veja (3/12/14) trazem uma entrevista muito interessante com o grande cardiologista italiano Marco Bobbio, nome respeitado pela inteligência e cultura e hereditariedade já que é filho do grande filósofo e pensador Norberto Bobbio. Lançará um livro no Brasil O DOENTE IMAGINADO. “Expõe seus pensamentos na entrevista tais como “os tratamentos preventivos são falíveis” e receita um estilo de vida equilibrado que não prive as pessoas mesmo os doentes dos prazeres à mesa ou” o médico deveria intervir menos e esperar mais o curso natural das coisas”. Faz reflexões também faz sobre a longevidade já que ser centenário hoje está virando uma rotina mas com que qualidade de vida? Não concorda que intervenções em doenças que não mudarão seu curso possam trazer algum benefício para a vida do paciente. Culpa muito a especialização( embora considere necessária) pela visão fragmentada do indivíduo, não olhando-o com um todo e não respeitando suas vontades incluindo o morrer. Faz parte de uma nova medicina chamada Slow Medicine onde o lema é praticar uma medicina pouco invasiva e que respeite a vontade do paciente. Em relação à dieta consome pouco sal, pouco açúcar e toma uma taça de vinho na refeição, mas não se considera escravo e faz as suas exceções não resistindo a um doce que a gula peça. Não faz check-up, não toma remédios e como cardiologista nunca fez um exame de coração. Aconselha levar uma vida serena sem preocupar-se com o tempo que terá e não admite restrições aos prazeres de uma mesa mesmo para aqueles que tem doenças que imponham cautelas. Gostei muito dessa entrevista e me considero um jogador desse time. Acho que uma UTI deveria ter um delegado na porta proibindo a entrada de uma porção de doentes sem nenhuma chance de recuperação seja pela patologia ou pela própria idade. Acho um absurdo uma família ser consumida financeiramente pelos gastos com um programa médico que não levará a nada. Vocês podem pensar: é porque não é um dos seus e eu digo que fiz justamente com os meus pais que morreram em suas camas e na casa deles. Sempre tiveram o suporte afetivo mas nunca engenhocas médicas para aumentar a sobrevivência. Na minha vida médica fui oncologista por cinco anos por uma necessidade de se criar esse serviço no Hospital Barão de Lucena mas sem temperamento para a especialidade pois em alguns tumores nada se pode fazer para evitar o curso da doença e se destrói uma criança com a quimio e radioterapia. A medicina paliativa é bem mais honesta e humana. Jogo no time dos prazeres da vida, do sorrir do conviver com quem gosto, de me remoçar com as estripulias de crianças que hoje em dia tem sua infância roubada. Entendo que tenho setenta e quatro anos e não devo jogar mais futebol nem basquete. Não devo, apesar de ter disposição para entrar em campo. Não bebo há cinco anos e não sinto a menor falta embora adorasse da cachaça ao licor, mas sou alegre sem droga. “Caetana” já quis me levar três vezes e consegui com a ajuda inestimável de colegas ficar por aqui cantando na Orquestra de Médicos do Recife. Check-up só quando adoeço como acima descrito. Que fique bem claro que exerço a medicina preventiva com rigor com minhas crianças, desde o pré-natal, sou guerreiro da amamentação, mas quero ver crianças felizes e não tensas e depressivas e não vivo furando os meninos nem fazendo tomografias por ter um galo na cabeça nem endoscopias e procedimentos invasivos. Quanto a mim ainda não levei o tal do toque, mas vivo tocando meu violão. Dá mais prazer.
Prefiro o toque do meu violão!

2 comentários:

  1. Dr. Fernando! Senti saudades do Sr. Quando fui lhe procurar na internet achei que ia encontrar uma notícia ou outra. Achar logo um blog cheio de notícias suas foi mais do que eu esperava. Com 50 anos de medicina, seria uma honra caso se lembre de mim, mas nunca lhe cobraria isto.

    O Sr. teve coragem e intuição de dar um tiro no escuro quando me medicou para esquistossomose antes do resultado chegar. E ainda mais teve paciência depois de atender todas as ligações da minha mãe no meio da noite, enquanto eu lutava contra a doença. Acima de tudo Deus, mas aqui na terra, o Sr. é digno de ser um dos verdadeiros heróis de uma criança. Com certeza é o meu. Hoje graças a Deus concluí a faculdade na UFPE. Sou químico industrial.
    Pra terminar, não sei se alguém quebrou meu recorde de lombriga, mas até 20 anos atrás, eu tava na dianteira. kkk. Um abraço, Dr Fernando. Que Deus continue lhe iluminando.

    Ass.: Carlos Neto "Carlito" de Ipojuca.

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  2. Dr. Fernando, o senhor sempre nos presenteando com seus depoimentos! Adoro seu blog! Feliz Natal e um ano novo maravilhoso para o senhor e toda a sua família!

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