segunda-feira, 3 de novembro de 2014

CINQUENTA ANOS DE PEDIATRIA SESSENTA E SETE ANOS DE ARTE



FERNANDO AZEVEDO

No próximo fim de semana estarei com muita alegria em Gravatá comemorando os nossos 50 anos de formatura em Medicina, turma de 1964 da Faculdade de Ciências Médicas de Pernambuco. Estarão presentes esposas, filhos, filhas, genros, noras, netos e até bisneto de uma colega. Temos realmente que comemorar. Alguns colegas assistirão lá de cima em visão privilegiada, mas com espírito presente na festa. Será muito gostoso relembrar todo esse período e nossa caminhada numa carreira extremamente difícil. A vida médica não é serena e exige muitas renúncias. A falta de vocação será um desastre futuro sem sombra de dúvida porque todos somos humanos e sujeito a erros. Quando a exercemos com afeição a possibilidade diminui, mas não deixa de existir e num piscar de olhos uma carreira é destruída. Temos que ter essa conscientização permanente sabendo que um dia erraremos pois como dizia Miquel Couto, grande médico do passado “o médico que não erra é aquele que nunca teve um cliente”. Bailarinas caem no palco, tenores quebram a voz em cena, pintores borram suas telas, pois somos rigorosamente gente. O médico tem problemas pessoais, financeiros, de relação profissional, noites pessimamente dormidas em plantões e isso pode abrir a porta para um deslize involuntário. Ao médico é aconselhado tirar dois a três períodos curtos de férias. Nunca um mês inteiro, pois perde os reflexos de raciocínio lógico e habilidades manuais. E “médico não deve ser somente MÉDICO, pois quem sabe só Medicina nem Medicina sabe” É interessante derivar para hobbies que o relaxe para o dia seguinte. No meu caso a MÚSICA me atraiu desde pequeno. Minha avó paterna era pianista e minha tia materna que sempre morou conosco era Professora de piano e aos 7 anos dava minha primeira audição no Teatro de Santa Isabel. Poderia ter sido um bom pianista, tinha talento e vocação, mas não tive maturidade para resistir ao preconceito que “piano é pra mulher”. Não combinava com o atleta que  eu era de basquete e futebol. Minha tia inconformada me deu um violão quando passei no vestibular e Lulu Antunes as primeiras lições. Passei de um instrumento de mulher para o de “vagabundo” Continuava o preconceito. Esse companheiro muito mais leve que um piano ficou diversas vezes empenhado como garantia de pagamento em farras improvisadas. Duro era ir busca-lo dia seguinte em lugares suspeitos. Resisti a tudo e todos e fui o aluno laureado da turma. A música foi sempre minha companheira e tenho meu registro como médico e como músico no Conselho de Medicina e na Ordem dos Músicos. Voltei a tocar um pianinho de nada. Composição musical também entrou na minha vida e quando ouço minhas palavras e a melodia de Claudio Almeida na voz de Cauby Peixoto ou minhas palavras e melodia de Fernanda Aguiar e minhas próprias na boca do povo como “Acorda Recife acorda, que já é hora de estar de pé” fico arrepiado. Valeu e está valendo a pena as duas coisas. Medicina e Arte. Aposentadoria? Não me imagino de pijama pois nunca tive um.  Baltasar Gracian grande pensador espanhol no seu livro A arte da prudência aconselha “abandonar as coisas antes de ser abandonado por elas”. Procurarei saber com visão crítica esse momento. Parabéns a todos os colegas de hoje e de ontem e um eterno agradecimento aos meus pirralhos que me fazem aos 74 anos ser seu companheiro de brincadeiras.

3 comentários:

  1. E, por cima de tudo, ainda escreve bem !

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  2. Ah Dr. Fernando, que alegria ter lhe conhecido.

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  3. Patricia Leite Maia de Oliveira4 de novembro de 2014 às 12:27

    Parabéns tio Fernando por toda uma vida exercitando a medicina com amor.
    Não sei dizer se toda criança sente-se tão bem quando vai visitar o pediatra mas para mim sempre foi um motivo de alegria revê-lo, embora sempre eu estive dodói.

    Parabéns tio. Me sinto muito feliz por ter feito parte de um pedacinho desta sua caminhada.

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