segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

NOVAMENTE O TDAH

FERNANDO AZEVEDO

Recentemente repassei uma matéria a respeito do assunto. Tratava-se de uma declaração do Prof.Leon Eisemberg, americano, nome respeitadíssimo na ciência psiquiátrica e que morreu em 2009 de câncer de próstata. Dizia a reportagem que antes de morrer teria ele dito que o TDAH doença estabelecida por ele em 1968 “era o principal exemplo de doença fictícia” e refere-se o artigo também à vida luxuosa vivida por ele graças à indústria farmacêutica que vendeu toneladas de medicamentos para essa doença. A reportagem é chocante porque mistura o valor científico do Professor, sua confissão de culpa e a grande soma de dinheiro que ganhou com seus conceitos. Saibam todos que a relação médicos, sobretudo os pesquisadores e laboratórios existe e a própria revista der Spiegel afirma que dos 170 médicos que trabalharam na elaboração do Manual of Mental Disorders, 56% tinham ligações com a indústria farmacêutica.  Li vários depoimentos de pacientes e pais rotulados como TDAH em si próprio ou nos filhos, alguns favoráveis e outros desfavoráveis ao uso da droga. A teoria que admitia ser a doença genética caiu tendo o Professor declarado meses antes de morrer ser o TDAH uma doença psicossocial determinada pelos meios como os pais, professores e pessoas ligadas à vida de uma criança a conduzem na vida e que trabalhar esses comportamentos leva muito mais tempo que prescrever uma pílula. Outra psiquiatra escreve uma coisa interessante: “Deixar a criança ser mais Rita Lee (sorrir, cantar) e menos Rita Lina”. Não tenho a menor pretensão de estar contestando diagnósticos, mas não aceito que numa consulta ou num breve tempo, sem um levantamento psicossocial bem feito se condene uma criança a tomar Ritalina para abestalha-la. Nos Estados Unidos chega a 10% a incidência da doença e isso não pode ser verdade. Defendo ardorosamente o TDPCC (transtorno de déficit de paciência com criança). As famílias se desestruturam a olhos vistos. Faltam as babás de outrora que muito ajudaram no amor às crianças (a minha morreu recentemente com 92 anos, minha inesquecível Zefa) faltam avós, os colégios não toleram nenhuma criança “diferente”, os próprios pais não enxergam que os filhos não são iguais e querem estabelecer um padrão único de educação e aí se torna super prático dar um comprimido e deixar o pirralho quieto. O tratamento surte o efeito desejado e a criança enquadra-se perfeitamente no diagnostico. Nada disso, o menino está drogado, nada mais que isso, e por quanto tempo? Algumas prescrições de clientes meus deixam o menino “descansar” nos fins de semana e nas férias. O menino tem direito a aporrinhar os outros por 2 dias e nas férias? O transtorno existe, mas não é epidêmico nem contagioso. A sociedade como um todo é que está ruim basta ler os jornais e noticiários televisivos no Brasil e no mundo. Gerações destruídas! Surge agora o moderno TOD ou Transtorno opositor desafiador. A contestação por parte da criança, a oposição a argumentos seja em que lugar aconteça é doença e não um traço de inteligência e personalidade. Fui com certeza um TDAH ou um TOD não tenho a menor dúvida, pois quem na minha época estudou em seis colégios já viu! O problema é que eu não conseguia me interessar por assuntos desinteressantes e pulava a janela sem nenhum arrependimento até hoje. Acho que o colégio, a escola em geral, poderia ser um agradável centro de convivência explorando o conteúdo básico, mas sem a neurotizante busca de resultados de conteúdos inúteis. Não se ouve falar em jogos escolares, em artes em geral, é só competição. O curral não aceita um potrinho irrequieto e não descobre talentos. Querem somente os retratos dos carecas nos jornais e não fazem ideia do stress que os jovens passam. A vida é dividida em fases. Felizmente estou na ultima, mas com o espírito da primeira, “da minha infância querida que os anos não trazem mais”.

3 comentários:

  1. Como sempre me alegro ao ler seu texto.
    Hoje foi o primeiro dia de aula da minha pequena, aos três anos começa a experimentar esse mundo. Estou muito feliz com a escolha que eu e meu marido fizemos da escola. Ensino com método construtivista. Criança precisa de muito amor, o sucesso é consequência inevitável. E dizer que uma criança tem déficit de atenção simplesmente, e intupí-lo de drogas, é o inverso de amor!
    Parabéns pelo texto! O senhor é o meu grande professor!

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  2. Mais um artigo excelente, informativo e construtivo. Obrigada, Dr. Fernando!

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