sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Artigo publicado no Diário de PE- Será o apelido um bullyng? Sim ou não

Será o apelido um bullyng? Sim ou não

Fernando Azevedo
Recife, terça-feira, 2 de agosto de 2011

Lembro de uma estória contada por meu pai quando trabalhava como estudante na polícia do estado. Um funcionário detestava o apelido de Concriz. Uma vez agrediu violentamente um colega e o caso foi parar na delegacia. O senhor delegado apurou o caso com testemunhas e chamou Concriz. – Tenho provas entre seus colegas que ninguém o chamou por apelido e o senhor feriu seriamente seu companheiro. Responde Concriz: - Ele não me chamou mas assoviou. Caso típico de bullying. Um queridíssimo amigo já morto, de nome respeitável, Jaime de Souza Leão Brito Bastos ligadíssimo ao esporte pernambucano foi presidente da federação de basquete. Viajou ao Rio para encontro com Renato Cunha presidente da CBB. Apresentou-se à secretária com o pomposo nome. Mais de duas horas de espera e ele impaciente falou para a senhorita - Eu já estou cheio com essa espera! Diga a Renato que é Jaime da Galinha que está aqui. Imediatamente surgiu a voz dentro da sala: – Chuta a porta da Galinha.

Caso concreto que apelido não é bullying. No meu caso nunca foi também. Na vida médica sou Fernando, na esportiva Pixoto. Não há um jornal da época que me chame de Fernando e quando gritam meu apelido a infância e juventude me invadem a alma, pois sei que quem está me chamando é um velho e querido companheiro. Expedito Baracho, grande cantor da terra fez uma ultrasonografia e o colega encaminhou-o a um urologista amigo. Baracho ao entrar na sala cumprimentou o médico e disse que tinha sido recomendado por Dr. Silvio – Que Silvio? – Doutor eu só sei que é Dr. Silvio Bombinha, apelido do nosso querido e grande médico Silvio Cavalcanti que sei que adora seu “sobrenome”. E o meu querido Dr. Chicão? O grande economista e boêmio aposentado Dr. Paulo Montezuma, nunca deixou de ser Paulo Oião até hoje. E João Barracão? Muitas vezes o apelido vem de casa.

Tinha um primo, renomado Professor de Química, adorável criatura que sempre foi Fernando Cegueta e seguem-se assim uma infinidade de casos. O apelido jamais será banido. O importante é que o apelidado não leve a sério e não se ofenda. Alguns apelidos são terríveis como é o caso de Flavio Caça Rato grande atacante agora no Santa Cruz. Mudaram para Flavio Recife, mas não pega, é Caça Rato mesmo. Acho até que a imprensa escrita deveria escrevê-lo Kassarato, como quem sabe, um jogador italiano, japonês ou grego. E nosso Zico, Pelé, Laxixa, Caiçara, Ganso, Magrão, Pato? Na música Neguinho da Beija Flor, Cartola, Nelson Cavaquinho, Capiba, Bozó, Jamelão, Sapoti. Spok, Maestro Forró, Caçapa, Zoca, Noite Ilustrada e Xuxa que é homem (nadador) e mulher? È muita besteira pensar que o apelido vai acabar.

Não acabará nunca e não é coisa do Brasil, é do mundo. Viva Nat King Cole, Magic Jonhson e outros monstros sagrados de todas as artes com seus apelidos.

  

Fernando Azevedo
Médico Pediatra
fj-azevedo@uol.com.br

Um comentário:

  1. O apelo em si realmente não é bullying. O problema está no uso dele. Quando, há 500 anos, eu era do ensino médio uns colegas mais um professor gaiato, passaram a me chamar Pantera cor-de-rosa. Se naquela ocasião eu me sentisse ofendida, humilhada ou algo parecido o tratamento seria sim bullying. Aliás o prazer de quem batiza alguém com algum adjetivo, principalmente jocoso é vê-lo reagir mal. Irar-se dá plena felicidade aos pais da ideia. Prazer sádico?

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