sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Matéria publicada no Diário de Pernambuco - A creche e o asilo

A creche e o asilo 
Fernando Azevedo
Recife, quarta-feira, 25 de maio de 2011

Li outro dia, e nem quero tentar rever onde, a seguinte e chocante frase: “Trate bem o seu filho para que ele escolha um bom asilo para você”. Meu Deus! Tive a (in)felicidade de ver meus três velhos morrerem nas suas camas. Em relação à minha tia-mãe, essa decisão não foi minha, pois meu pai era vivo e médico, mas a dos meus pais sim. A companhia de filhos, sobrinhos, parentes, dignificou as suas mortes, fazendo justiça à dignidade de suas vidas. A transferência do idoso para um abrigo é dolorosa. Os bichos, quando desprezados pelas famílias, encontram quem os adote, vejam o fato recente da tragédia de Petrópolis e a fila de adoção na Lagoa Rodrigo de Freitas com mais candidatos que animais a serem doados. O bicho homem ninguém quer. Outro dia meu querido primo/irmão Ricardo Breno, quando conversávamos sobre esse assunto, falou para um filho e um neto: “Se eu ficar belelê me bote na garagem, mas não me tire de casa”. São necessários os asilos? Claro que sim, Mas que não se torne uma rotina se programar a velhice dos familiares em “casas de repouso geriátrico” e outros eufemismos. São necessárias as creches? Lógico que sim, mas também não se programe para uma criança que pode conviver com os pais e avós por uns três ou mais anos, colocá-la em creches e escolinhas tão precocemente. 

Sociabilização é um argumento, aprendizado de habilidades outro, como se uma criança em uma semana não aprendesse tudo que os seus coleguinhas que entraram na creche aprenderam ( e adoeceram) em anos. Não estou falando em deixar os pequenininhos com babás que hoje representam um perigo para maus tratos em uma criança, nem muito menos fiscalizá-las com câmeras como um big-brother neurotizante e permanente. Mas a criança ficar com seus familiares assim como os velhos com filhos e netos quando os têm, representam uma felicidade muito maior e apertam os laços de família que são de grande importância na vida. Ninguém venha me dizer que “conviver com sua geração num abrigo” traz felicidade para um idoso. Ele quer o aconchego familiar, contar histórias da vida, aconselhar os mais novos, ler, discutir assuntos atuais ou mesmo falar dos bons tempos que não voltam mais. A criança quando é levada para a escolinha se agarra com a mãe aos prantos. Esse mesmo sentimento tem o velho, só que não tem mais possibilidade de abraçar alguém pedindo proteção. As visitas vão rareando e cai no esquecimento. 

O estatuto do idoso foi um grande avanço social, pois a falta de respeito crescia velozmente. Sabemos de pais que não merecem esse nome, não merecem nenhuma consideração de filhos, pois nunca deram exemplo para educá-los e amá-los. Alguns merecem a cadeia como pedem os próprios filhos, mas o alerta é para que não se coloque no mesmo saco os bons pais que precisam em respeito ao seu passado receberem as homenagens de filhos noras, genros, netos e bisnetos às vezes. O velho não quer mais bens materiais, não quer nenhum luxo, basta um aconchego, um bom papo e uma ” garagem” para fazê-lo feliz.

Fernando Azevedo
Pediatra
fj-azevedo@uol.com.br

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