sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

OS CONCURSEIROS Matéria publicada no Diario de Pernambuco

Os concurseiros


FERNANDO AZEVEDO
Recife, sexta-feira, 30 de setembro de 2011



Abaixo a hipocrisia! Dinheiro é necessário, é bom, mas em minha opinião apenas para uma vida digna. Morar com conforto, ser dono do seu cantinho, alimentar-se bem, dar bem-estar e educação de qualidade a seus filhos e ter direito de assistência à saúde. Por que não umas férias e viagem com família e amigos? Mas, para que ter dinheiro demais? Será que leva no caixão feito faraó? Maioria das vezes serve para confusão de herdeiros e no nosso país para pagar seguranças e andar na rua com carros blindados. Estabilidade financeira é bom? É ótimo sobretudo na velhice. E a felicidade psíquica, o equilíbrio mental? Isso não tem preço! Vamos observar então uma cena que tenho assistido com muita frequência na minha vida de pediatra e é esse o motivo para reflexão.

Grande parte do universo estudantil de hoje, sobretudo os da área jurídica já entra na faculdade visando um concurso público federal de preferência. São CDF mesmo e direcionam seus jovens anos de vida aguardando a oportunidade de terem um belo salário pro resto da vida. Muitas vezes passam brilhantemente e os festejos são ruidosos. Ai vem a locação: Boca do Acre, Curiópolis, Raio que o parta, etc. E começa a desorganização psíquica, a fossa, a saudade, a imaturidade para tão grande mudança. Perdem os amigos fraternos, entram os virtuais que não transmitem o calor de um abraço e o mel de um beijo. Se casados a coisa é mais grave. Famílias praticamente desfeitas, filhos sem mais a presença do pai ou da mãe no café da manhã ou, sobretudo em qualquer doença que exige na prescrição colo, e carinho. Avós sobrecarregados em recriar filhos, sem mais disposição para isso e injustamente recrutados para a substituição. O trabalho do transferido decepciona, o rendimento cai, o psiquismo alterado é notado pelos chefes e colegas. Acionamento de políticos, sempre eles, para voltarem para a terrinha, às vezes pedidos conseguidos, às vezes negados. Frustração.

A solidão geralmente os leva ao bar mais próximo. “Muito chope gelado, confissões à beça” e mais um risco: o alcoolismo, porta de entrada para outros convidados. Eu me confesso um provinciano, que se retirado do meu habitat, de dar risadas com os meus amigos, de não vestir uma camisa do Náutico e democraticamente obrigar a todos os descendentes usarem essa farda, morro um pouco a cada dia. Já morei no Rio e lá casei. O Rio e Janeiro era um sonho de juventude, do violão, da bossa nova, da boêmia, que juntaria à Medicina e seria o homem mais feliz do mundo. Não aconteceu. Trouxe um pedaço do Rio comigo. Durmo há 45 anos com uma carioca do Flamengo bairro, não do Flamengo time, mas acordo todo dia e beijo o chão do Espinheiro onde nasci, das Graças onde trabalho e de Casa Forte onde moro. Não sou cidadão do mundo orgulhosamente! Você é?

FERNANDO AZEVEDO
Médico Pediatra
fj-azevedo@uol.com.br

2 comentários:

  1. Marcela Carvalho Gouveia16 de dezembro de 2011 às 17:56

    Tio Fernando,

    "Mainha" acabou de me mostrar seu blog e eu estou encantada! Também estou com muitas saudades daquele portaozinho amarelo nas Graças mas principalmente do meu médico alvirubro, que praticamente me fez torcer pro nautico desde de pequena e continuo até hoje.
    Não sou cidadã do mundo e daqui a 6 dias estarei aterrizando no meu Recife.

    Mil beijos

    Marcela Gouveia

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  2. Num sou cidadã do mundo... sou apenas moradora de SP mas pernambucana com orgulho... como você, casei com um carioca do flamengo, o time, não o bairro. Num beijo o chão... apenas meus filhos. Queria beijar meus pais, irmãos, tios, primos e sobrinhos com mais frequência... mas em breve chego ai e encho todos de beijo. AI quero roda de conversa e muitas risadas.
    beijo

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