segunda-feira, 21 de novembro de 2011

O ANO DO VESTIBULAR

O ANO DO VESTIBULAR

FERNANDO AZEVEDO

Não gosto de escrever sobre assuntos que não possam ser discutidos. Quando leio artigos cujo título já me da a conclusão não me interesso. É como contar o fim do filme. Sobre educação posso e não posso discutir. Quanto ao poder me sinto em condições pois fui criança e adolescente e hoje sou Pediatra. Quanto ao não poder não tenho formatura em Pedagogia. Mas gosto de ler sobre o assunto. Curioso sem diploma. A educação infantil me deixa preocupado. A pressa que tem as escolas em amadurecerem as crianças me apavora. Recentemente tive a narrativa de uma cliente que é educadora em uma escola conceituada, mas com um conteúdo mais light onde uma mãe após visitar a escola e ouvir propostas decidiu: -Vocês não preparam as crianças para a vida. Muito bem! O que é preparar uma criança para a vida? Será retirá-la do lar para ir para uma creche com 4 meses de idade como é o mundo de hoje? Colocá-la na escola bilíngüe para que domine dois idiomas rapidamente? Ensiná-la o mandarim, pois a China vem por ai ? Agora surge a idéia de ensinar o inglês já na sala de parto. Pensa que é mentira? A criança nasce e já começa a ouvir em inglês. A competição existe em todos os setores dentro do ambiente escolar. Comecei então a ler há algum tempo sobre uma educação infantil que não conhecia. O método Waldorf de ensino. Encantei-me com a proposta e me senti a criança feliz da sala de aula. O método é interessantíssimo. Os resultados em Recife não podemos avaliar ainda, pois o ensino aqui só tem 12 anos mas em São Paulo e no  mundo os alunos Waldorf tem grande performance. A depressão infantil assusta e a causa está no lar e na escola que só pensa nos resultados apresentados nos jornais de Dezembro com seus feras carecas. A criança não tem infância, a juventude é estressada com a escolha precoce de uma profissão em plena imaturidade de sua personalidade. O ano do vestibular então é torturante. Se o conteúdo realmente servisse de base profissional estaria calado, mas em Medicina que é a minha área digo, repito e escrevo : NÃO SERVE PRA NADA. Tem que haver uma modificação para as oportunidades universitárias dos jovens. Medicina é sempre a primeira escolha em todo o Brasil. Por que? Vocês sabem como é a vida de um médico? E da mulher de um médico? Tem certeza que quer casar com um (uma)? .Por que as escolas não proporcionam um convênio com as diversas profissões para que os estudantes durante certo período convivam com esses profissionais? Em todas as áreas! Agora mesmo um cliente meu, estudante brilhante foi aprovado nas três Faculdades de Medicina do Recife e na Unicamp (SP). Escolheu a federal. Não está gostando. Pelo bem que lhe quero, torço para goste ou para que sem nenhum arrependimento desista. Esse será o assunto do meu próximo artigo para o Diário de Pernambuco. CORAGEM DE MUDAR. ( meus artigos são publicados sempre nos últimos dias do mês ou primeiros dias do mês seguinte)

ESTÓRIAS DE CONSULTÓRIO

Bruna, aluna Waldorf com 5 anos, chupa dedo 
desde a barriga da mãe. 
Débora fala sério com ela:
-Bruna eu estou com mêdo que você fique dentuça!
De bate pronto recebe
-E eu estou com medo que você fique velha.



4 comentários:

  1. Dr. Fernando !!!

    Tãããão bom conversar com o senhor ..sim , digo conversar , pois qd leio seus textos me imagino no consultorio a sua frente toda a sua entonação de voz ..e sabe pq é bom...pq o senhor me mostra que eu nao to louca!! que nao to na contramao do mundo!!! as " coisas " é que estao se apressando demais ultimamente..Aqui em casa valorizamos sim o estudo , cleo , mas dentro de uma saudavel normalidade, e qd percebo que minhas pequenas estão se deixando "contagiar"pela pressa e cobrança do mundo digo do fundo do meu coração: "Filhas , calma..a vida não é só estudar , é muito mais que isso...é amar,amar e amar , respeitar , respeitar e respeitar e fazendo isso , tudo dá certo." Beijao no seu coração.

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  2. Beta Fernandes Damasceno - Mãe de Lalá :D21 de novembro de 2011 às 16:04

    Texto MARAVILHOSO. É por causa de reflexões como estas que amamos ter você ao nosso lado sempre, caminhando há quase 40 anos :D

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  3. Olá, Dr. Fernando, tenho de concordar com o que a Mabel Maia disse num comentário antes de mim: lê-lo é o mesmo que o estar ouvindo, na sua presença, com sua voz grave mas dócil, que nos ensina com sua larga experiência, mas sempre pronto a aprender mais. Como dizem alguns: quando crescer, quero ter alguns dos traços que o senhor tem! Obrigado.

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