FERNANDO AZEVEDO
Gosto muito de me
exemplificar, de contar as experiências que sofri no meu percurso escolar para
tirar minhas conclusões sobre educação infantil. Como Pediatra faço testes
quase diários sem saberem as crianças que estou pesquisando. Nos livros dos
netos vou buscando também fonte para meus pensamentos. Tenho uma saudade enorme
do meu curso primário no Instituto Recife, Rua 48, Espinheiro. A Pedagoga
Eulália Fonseca era uma criatura diferente e avançada para a época. Por que
ficava louco para ir para a escola? Ter meninos e meninas já era um diferencial
para a época dos colégios só femininos ou masculinos. Cantava no Orfeon, havia um
clube com Presidente secretário, tesoureiro, visitávamos fábricas (A Fratelli
Vita e a Pilar foram visitas inesquecíveis). Fomos aos Correios entender o
telegrama e aprendíamos a redigir cartas, requerimentos e petições. Fazia-se a
ata das reuniões. Havia também uma aula de descrição. Colocavam uma pintura, um
quadro na parede e descrevíamos o que imaginávamos existir em seu conteúdo.
Sabíamos os hinos nacionais. Aulas de trabalhos manuais despertavam os mais
habilidosos para a exposição anual. Acaba essa fase maravilhosa e começa o
ensino burro, o ensino de coisas inúteis, o ensino que nada me interessava a
não ser línguas que achava bonito, sobretudo o francês pelo domínio intelectual
da França na época. Não tinha dúvida,
pulava a janela e ia embora e com isso suspensões e expulsões. Troca para outro
igual e depois mais e mais até completar cinco mudanças. Nunca na escola secundária
me ensinaram o que era o mundo, sobretudo depois da Segunda Guerra Mundial. Nenhuma
reflexão sobre tolerância entre os povos justo quando Hitler queria dominar o
mundo e tornar a raça ariana a única espécie humana. Nenhuma arte, mas queriam
que eu soubesse a raiz quadrada, a raiz cúbica e o teorema de Pitágoras que aos
76 anos nunca usei. Nenhuma pesquisa, e muita decoreba que se esquece com uma
semana. Quando decidi ser médico foi uma tortura estudar química e física que
nunca usei, mas tirei a maior nota da história da Faculdade de Ciências Médicas
em História Natural (Biologia-Zoologia e Botânica) um estudo dos seres vivos,
da natureza do habitat de cada espécie viva. Na formatura ganhei o prêmio de
melhor aluno da turma de 1964 e recebi o Prêmio Banorte, uma pequena fortuna
gasta nas boates do Rio de Janeiro para onde fui para fazer Residência Médica. Vivi ao vivo o
que sabia de ouvir falar. Vi artistas de junto. Dinheiro bem gasto para depois
entrar num regime de trabalho escravo de alto aprendizado. Tenho pena das
crianças diagnosticadas com TDAH, Autismo e outras patologias, quando na
maioria são vítimas de uma rotina que uns poucos se acomodam e os mais rebeldes
não toleram. Ganhem um pouco do seu tempo assistindo o filme no youtube Waldorf
100 Português (legendas). Tenho certeza que essa seria a minha escola e de meus
filhos, mas não a conhecia na época. Dos meus netos gostaria, mas...
Obrigado Débora Oliveira pelo envio. Minha pior
cliente e hoje grande Mestra.