segunda-feira, 18 de agosto de 2014

ROBBIN WILLIAMS, DEPRESSÃO, ARTETERAPIA.

FERNANDO AZEVEDO

Quando li a notícia da morte de Robbin Williams por suicídio, consequência de forte depressão com a qual convivia fiquei passado, pois a imagem mais forte que tinha dele era justamente no papel de um médico americano que tentou mostrar ao seu duro chefe que a arte poderia ajudar na cura das crianças doentes, sobretudo a hospitalizada. Assim nasceu o movimento Doutores da Alegria. Assim participo de um programa Arte na Medicina criado pelo colega Paulo Barreto Campello no Hospital Oswaldo Cruz, e acreditando nessa proposta construímos a Orquestra de Médicos do Recife para tocar em hospitais, em enfermarias e até em UTIs dependendo da possibilidade de cada ambiente. Realizamos dois congressos em Salvador sobre Arteterapia e fundamos a Sociedade Brasileira de Medicina e Arte, contando com a inestimável colaboração do músico Gilberto Gil que ocupava o Ministério da Cultura. Com a sua saída ficamos sem possibilidade de patrocínio, pois congresso médico é também NEGÓCIO e o nosso negócio nada rendia a não ser passarmos a ideia para que as faculdades de Medicina de todo o Brasil incluíssem em seus currículos a arte na ciência que como diz o nosso mote “a arte na Medicina às vezes cura, muitas vezes alivia, mas sempre consola” Como Pediatra sinto uma sociedade cada dia mais problemática e doente. Os valores se extinguem trocado pelo vil dinheiro, pelo roubo e pela falta de respeito. Nossas crianças estão vivendo num mundo que não foi o meu e dos meus amigos onde o riso era o motivo de tudo. Lares se desfazem na primeira dissidência na convivência, crianças são divididas entre pai e mãe por juízes. As figuras dos avós praticamente inexistem na convivência familiar e não se formam laços de amizade como antes. A DEPRESSÃO infantil existe minha gente e a criança não tem consciência dessa patologia, mas se traduz pela insônia, pela inapetência ou gula, pelo xixi na cama antes extinto, pelas cuecas e calcinhas sujas de fezes, forma de chamar atenção para si, mas, sobretudo pela tristeza e pela falta do SORRISO. Na adolescência já se pode perceber mais dados como a agressividade, o rendimento escolar, o contato com as drogas, grande flagelo da humanidade. A criança com esses comportamentos é facilmente enquadrada no TDA, TDAH e agora o mais novo Transtorno Opositor. Essas doenças existem, mas os diagnósticos são precipitados e não se estuda a constelação familiar e escolar da criança antes de dar o primeiro comprimido. Criança não precisa de berçário nem escola tão precoce. Criança não precisa estudar inglês, francês e mandarim. Crianças não precisam competir umas com as outras e sim serem partícipes de uma infância feliz etapa mais fundamental da vida, o verdadeiro alicerce para a construção de sua segurança e felicidade. Lógico que o mundo muda a qualquer tempo e a mulher saiu de casa (e como faz falta na educação) as babás familiares completamente integradas no ambiente e zelosa pelos seus filhos sumiram, os avós estão na luta como mal aposentados ou gozando a vida se mais afortunados. As escolas e professoras não são absolutamente responsáveis pela educação da criança e sim pelo saber e são vítimas hoje de uma conduta inadequada infantil acobertada pelos pais. Muito complexo. No meu tempo de enfermaria no Oswaldo Cruz e Barão de Lucena onde cuidava de crianças graves e gravíssimas sentia que o tratamento estava dando certo quando de manhã ao brincar com elas, elas sorriam. Estavam curadas felizmente, era só questão de mais uns dias para irem para casa, era o sinal poético da cura.

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