segunda-feira, 17 de setembro de 2012

O POLÊMICO PARTO DOMICILIAR


FERNANDO AZEVEDO

Vamos retroagir. Foi a nossa geração de pediatras a primeira a entrar na sala de parto graças à luta dos pediatras nossos professores. Foram décadas de debates até arrombar a porta, pois os anestesistas se consideravam preparados para reanimar o recém-nascido e os obstetras assistiam mãe e filho até a queda do cordão umbilical. Ai entrava o pediatra. O pediatra evoluiu para neonatologista e o generalista fica fora da competência para a especialidade. Uma rotina também eram as parteiras, cada maternidade com a sua, senhoras experientes com centenas e milhares de partos feitos e assistidos. A sociedade vai se modificando, o tempo escasso é o argumento para a operação cesariana que era um procedimento de reserva,  e passa a ocupar o evento principal chegando ao absurdo número de mais de 90% dos partos hospitalares na rede privada. Muitos obstetras na primeira consulta dizem logo à cliente que não fazem parto normal. Como o mundo é redondo e da muitas voltas a sociedade se organiza e defende seus direitos sobre o corpo.  A mulher quer parir em parto vaginal EM CASA.  Surgem as enfermeiras especializadas e as doulas, acompanhantes e confortadoras das parturientes. Tenho acompanhado com muito interesse essa discussão, pois tive três filhos em partos normais e continuo ferrenho defensor dele e da amamentação exclusiva. Assisti não uma vez, mas inúmeras, complicações de um parto ao colocar a mulher deitada e sobre anestesia peridural ou raquidiana. Para tudo. Vem as manobras agressivas com o anestesista montado sobre o ventre a aperta-lo e espremê-lo não sabendo que lá dentro há um bebê. A festa lá fora muitas vezes foi interrompida com a notícia do péssimo estado ou morte do neonato. A mulher que faz parte do grupo do parto domiciliar se prepara, conversa, convence-se e colabora. A família tem uma participação especial no conforto à parturiente. Tenho conversado com essas mães e visto filmes que são feitos pelo grupo e realmente emociona. Nascimentos lindos. Risco? Sim como em qualquer evento. A diferença é que as cartas são postas na mesa e a parturiente participa da decisão. O que não entendo é a classe médica estar reagindo ao ponto de considerar infração ética (no Rio de Janeiro) a ajuda pelo médico nas situações de emergência. Proibi-los de participar, proibir hospitais de receber parturientes em dificuldade. No Barão de Lucena vi vários partos no taxi. Chegavam já com a criança nascida. Essa é a via natural. Esperar o trabalho de parto, esperar o rompimento da bolsa e não marcar data para esse acontecimento.  As gestações de alto risco são outro assunto. Essas têm que ser acompanhadas com muitos exames e observação rigorosa e muitas vezes o parto cirúrgico se impõe. Só para complementar os partos nos EEUU, Europa, Canadá são vaginais e sem anestesia. E não é lá o PRIMEIRO MUNDO?

9 comentários:

  1. fernando, muito feliz pelo que li aqui!

    e muito, muito mais feliz pela sorte de tê-lo como pediatra do pequeno heitor!

    grande abraço,

    simone.

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  2. Tive os meus dois filhos aqui em Portugal, partos normais e o segundo...sem anestesia! Não me arrependo nadinha, minha recuperação foi ótima.
    Beijos saudosos,
    Dani Dourado

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    1. Feliz com seus comentários, assunto que não devemos deixar cair nas discossões. Beijo. Fernando

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  3. Dr. Fernando, que alegria ler suas sábias palavras! O senhor sabe que meus filhos nasceram de partos normais, hospitalares. O primeiro, totalmente natural, na água, e o segundo, seu paciente com dias de nascido, veio, há exatos dois anos, num parto induzido, nascendo no chuveiro do quarto do hospital. Sou uma das coordenadoras do Ishtar, Espaço para Gestantes, que defende que as mulheres se informem e escolham, junto com a assistência escolhida (médico, parteira, enfermeira) o local e condições nas quais desejam que seus filhos nasçam. Acho que isso é o mínimo que as famílias podem querer, para um evento, na maioria das vezes, familiar e natural! Parabéns pelas sábias palavras, SINCERIDADE e CORAGEM de falar tantas verdades que não são ditas. Um grande abraço e obrigada por tudo!

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    1. Dr. Fernando, quem escreveu esse comentário fui eu, Nélia, mãe de Gabriel e de Daniel. Um abraço!

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  4. Finalmente um medico falando coisa com coisa. Que os pediatras se vejam motivados a apoiar estas maes em trabalho de parto, acompanhar o nascimento respeitoso de bebes de baixo risco em casa ou no hospital sem julgamentos e falso moralismo.

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  5. Caro Pediatra Fernando Azevedo,

    Fui às lágrimas com seu texto. Sou ativista do parto normal respeitado há 10 anos, e é raríssimo encontrar um médico com o seu discurso. Na verdade, fora do movimento ativista, eu não havia encontrado nenhum!

    Prazer enorme conhecê-lo pelo blog!

    Abraços,
    Roselene
    arquiteta, 3 filhas com 14, 12 e 11 anos, nascidas de parto normal "modelo frankenstein", e ativista da Rede de Mulheres Parto do Princípio.

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  6. Dr. Fernando

    Estou emocionada com seu texto, como mulher, como mãe de duas crianças amorosamente nascidas em casa, mas principalmente como sua colega de profissão. É com pesar que confesso que não tive pediatras assistindo a chegada de meus filhos, pelo simples fato de não haver pediatras na cidade que se disponham a isso. Sei que as profissionais que me assistiram tinham total capacidade de atendê-los numa emergência, mas a sensação de estar remando contra maré é muito desalentadora. Como a maioria dos bebês de gestações de baixo risco, meus filhos nasceram muito bem, não precisaram de nada além do meu colo e meu peito. Mas nutro a esperança de que no futuro nós possamos contar com mais colegas se abrindo para presenciar esse momento mágico da chegada de um novo ser humano, no aconchego do seu lar. Um abraço e parabéns!

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  7. Dr. Fernando,

    Gosto muito dos seus textos.

    Tive 2 filhos de parto normal no Hospital. O segundo totalmente natural, e tão rápido que tive complicações. Se eu estivesse em casa, não teria tido assistência a tempo e não estaria agora contando o fato.

    Sou totalmente a favor do parto natural, mas se pode ser no Hospital, por que arriscar a fazê-lo em casa? Imprevistos acontecem, e os recursos médicos/hospitalares podem ajudar nesse momento. Foi meu caso.

    Julianne.

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