segunda-feira, 27 de agosto de 2012

UM TRISTE FIM DE JANTAR


FERNANDO AZEVEDO

Cada dia saio menos à noite, o boêmio faleceu não de causa ignorada, mas porque não existe mais (quem souber me avise) um local para se ouvir uma boa música, um bom cantor, violonista, pianista como havia antigamente. Um bar de papo, sem televisão sem videoclipe, sobretudo de dupla sertaneja. Bar que não tenha garçom nos empurrando casquinho de caranguejo, coxinha de galinha etc. Vai chatear outro!  Limito-me então a sair vez por outra para jantar. Sábado passado depois de um ótimo papo com meus queridos amigos Ligia e Helio Beltrão na Praça de Casa Forte, não mais que de repente, passam duas meninas adolescentes correndo e gritando e eu imaginei que estavam brincando de pega ou coisa assim. Ao pararem na esquina onde era a inesquecível Água de Beber, percebemos que não era isso. Elas falavam alto, gritavam, tombavam e vieram de novo em nossa direção. Ai abraçaram a mim e a Helio e gritavam e riam e logo em seguida correndo novamente caiu uma delas por cima de um carro. Veio outro rapazinho de uns 16 anos e as levou para um edifício vizinho. Como é que pode! Estou cada dia mais impressionado com o alcoolismo na juventude. Não que tenha sido santo, muito longe disso. A minha desculpa é que na nossa geração do pós-guerra os filmes americanos nos induziam a beber e fumar. Era o charme. Não se tinha absolutamente ideia dos malefícios do álcool e do cigarro. Hoje a consciência é outra, a coisa está clara, a dependência cada dia é mais precoce e danosa. Festas de quinze anos não funcionam sem álcool e depois de experimentar uma coisa experimenta-se outra e assim vemos a classe média e alta cada dia mais envolvida no uso e até no tráfico. A culpa está dentro de casa mesmo não adianta negar. Está faltando o papo esclarecedor e a ausência justificada pelo trabalho dos pais está sendo compensada pelo uso dos ipad, ipods, iphones, computadores e outras cositas de consumo que pensam ser compensadoras. Grifes, materialismo puro em lugar de convivência. O eufemismo que o que importa é a qualidade da convivência e não a quantidade. Mentira! Desculpa esfarrapada que está colocando a criança e o adolescente no consultório do psicólogo e psiquiatra que jamais resolverá a questão pois o ambiente não se modifica. Esperar do colégio a corresponsabilidade da educação não tem sentido. Sua finalidade é o ensino, o preparo intelectual. Sábado fui a um supermercado e na minha frente duas jovens com duas garrafas de vinho. A caixa ia colocando na sacola e uma delas recusou. Fez questão de sair com as garrafas à mostra. Tá braba a coisa.

Um comentário:

  1. Situação triste mesmo, Fernando. Morei em Fernando de Noronha por 4 anos e lá, como no interior do Estado, ainda é pior. Na ilha chega a dar arrepios, pois é um local onde há turismo, ou seja, informação e globalização, e os adolescentes e jovens não têm opção de qualquer tipo de lazer. E correm para o álcool e a prostituição. Quem acha que aquilo é paraíso é porque não conhece. Em relação a bares onde se escuta boa música, descobri um, por acaso, ontem, quando passeava pela rua da Aurora. Chama-se 'Retalhos'. Aos domingos tem um chorinho de primeira qualidade, com bandolim, violão e um pandeiro. É lindo. E juro que não há garçons enchendo o saco dos clientes!! Abraço, Taíza.

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