quinta-feira, 1 de março de 2012

O MARAVILHOSO ATO DE ADOTAR CRIANÇAS

O MARAVILHOSO ATO DE ADOTAR CRIANÇAS
FERNANDO AZEVEDO

Há muitos anos, quase cinquenta, assisto a adoção de crianças e fico emocionado com o fato. Acho que adotantes são seres diferenciados, bons de corpo e alma e que retiram da marginalidade social uma criança irresponsavelmente abandonada. O querer realizar esse ato sempre é muito pensado, discutido e elaborado. Sempre é uma decisão madura. Tenho uma grande quantidade de adoções entre meus clientes por ter tido a sorte de lidar com senhoras que altruisticamente se encarregavam de dar um lar a uma criança. Uma delas, holandesa e mais duas pernambucanas, eram as responsáveis por essa organização com fins lucrativos: o de serem mais sensíveis que nós outros, conseguindo inserir na sociedade crianças desprezadas. Italianos, franceses, holandeses vinham para o Recife passando meses para conseguirem obter a legalidade do processo, e sempre protegidos pelos seus países de origem em relação à manutenção do emprego e custos no Brasil. Esses estrangeiros ainda tinham um mérito a mais: vários bebês com problemas sérios de saúde eram adotados sem nenhum problema e com muito amor. Lembro-me de trigêmeas levadas para a Itália sem separa-las. Recordo chegar à casa de uma dessas senhoras e encontrar 3 a 4 crianças nascidas no interior e permanecendo na casa delas até conseguirem um adotante. Duas lactentes com COQUELUCHE e a senhora vigiando dia e noite com sua filha esses bebês. Lembro também de uma senhora do que se chama alta sociedade que acompanhou toda a gestação de uma adolescente do interior, para que a criança fosse adotada por sua filha, dando-lhe completa assistência. Já da sala de parto e posteriores cuidados em berçário a criança sairia para a casa da família rica. A jovenzinha, no entanto ao parir agarrou-se com a criança dizendo que não dava a filha a ninguém, chorando e me botando para chorar e me solidarizar com aquele instinto materno.
Vocês sabem por que tocar nesse assunto agora: duas mortes brutais de filho matando os pais. E porque discuto? Por causa do comentário de uma senhora dizendo: “Tá vendo no que da adotar.Sabe lá qual era a genética dessa família?
Imediatamente me veio à cabeça que todas as crianças adotadas passaram a ser alvo de comentário em escolas e sociedade em geral. Que brutal discriminação. Antigamente a adoção era escondida. Muitas mulheres se exilavam em outro estado e em outros pais (tenho um caso) e voltava com o rebento como se fosse filho gerado por ela. Até descrevia o parto. Mentira logo desvendada e desmoralizada.
O comportamento mudou, a adoção passou a ser um ato humanístico de alto nível. Reconheço e digo aos meus filhos que EDUCAR é muito difícil. Sempre tive rédeas curtas com eles, identificando convivências e até acabando namoro na marra. Sem arrependimentos. Cometi também erros que com a maturidade que tenho hoje não faria, mas como não errar?
O que estranho no caso das manchetes atuais é o abandono dos filhos pelos pais. O do Parnamirim, assassinado por um vizinho em legítima defesa, vivia só em casa com uma irmã com briga permanente entre eles, fato relatado pelos que assistiam, em depoimento nos jornais. Na adolescência envolvimento com drogas que é o caminho mais visto nesses casos, e o fim trágico.
No dos pastores o envio para os Estados Unidos de um jovem de 17 anos, para morar com uma tia e se qualificar em falar inglês, segundo relato nos jornais. Jovem negro num país onde os negros americanos são discriminados imagine os estrangeiros e hispânicos como nos rotulam. Com que sociedade esse jovem conviveria? Com certeza sofreu bullying em alto e pernicioso grau e se mandou para a marginalidade com drogas e crimes. Treze anos de ausência do seu país me parece muito estranho. Porque não o diagnóstico precoce do problema cujo medicamento é compreensão, afeto, e muito e muito amor. Livrar-se do problema colocando-o debaixo do tapete não poderia dar certo.
Quanto à genética o que me dizem da alemã de São Paulo. A Ritchofen, se é que se escreve assim, não lembro. Não era “filha legítima” e ainda mais de sangue azul, raça pura? E a de Brasília que matou os pais e agora foi inocentada a custa de muita grana. Não era filha de dois magistrados? E no sentido contrário de pai matar a filha?O Nardoni, de descendência italiana, primeiromundista.
Vamos para o sertão pernambucano onde famílias se matavam e eram parentes. Ao nascerem essas crianças já eram formadas para um dia assassinarem um parente, com o pacto de honra de não se matar criança nem mulher. Estavam livres para morrerem os que completassem 18 anos.
A criança é produto do meio. Na delinquência procure sempre a culpa no ambiente. Investigue que acha. Nada funciona se não houver um lar verdadeiro com muito afeto e estímulo para que cresçam respeitando valores. Hoje se terceiriza muito a infância. Pela ausência dos pais na luta pela vida, estão transferindo responsabilidades para a escola e professores que são coadjuvantes na educação, mas nunca os atores principais. Sou um advogado da infância. Se algo da errado no comportamento de uma criança ou de um jovem acuso sempre o meio ambiente em que vive.
Quero exaltar novamente a adoção. Acho um ato maravilhoso, da maior dignidade que garante um bom lugar para esses pais na eternidade. Meus parabéns a vocês pais e filhos, adotantes e adotados.
Em tempo: na Itália uma dessas senhoras que referi participa todo ano do DIA NACIONAL DA CRIANÇA ADOTADA (não sei se o nome realmente é esse) Porque não criar o DIA DA CRIANÇA BRASILEIRA ADOTADA. Garanto que o céu nesse dia ficaria mais azul estrelas iluminariam o caminho dessas famílias. Pouco a pouco cairia o preconceito transformando a sociedade numa sociedade melhor.

Um comentário:

  1. "Tio" Fernando, é por tudo isto que eu (com todo respeito deste mundo) te amo muito. Lindo texto, linda reflexão. Eu já tinha feito isto no meu facebook estes dias. Sou jornalista e o tratamento dado para noticias deste tipo me entristecem muito :-(
    Adotei minha filha desde sempre. Desde que escolhi ser mãe dela. Minha pequena Laís foi gestada espiritualmente como qualquer outra criança biológica, ou até mais do que algumas. E, ao longo destes quase três anos, vem sendo amada e respeitada com o nosso mais puro e sincero amor.
    Educar não é fácil, mas não há facilidade sejam os filhos biológicos ou adotivos.

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