segunda-feira, 12 de março de 2012

Artigo Publicado no DP - Ao Facebook, os amigos e o terraço


Ao Facebook, os amigos e o terraço

Fernando Azevedo Médico fj_azevedo@uol.com.br

Recife, domingo, 4 de março de 2012

Uma casa, um terraço, um portão que se abre sem porteiros e um belo quintal, foram os cenários de minha vida. Todas as ruas do Espinheiro nos pertenciam e o Instituto Recife com o cinema Espinheirense formavam o centro cultural. Minha rua era a Amapá. Vizinhos maravilhosos e também de hábitos curiosos. Seu Nemer árabe gigante sempre aos sábados com duas galinhas debaixo do braço compradas no mercado da Encruzilhada para onde ia de pijama. Seu Nelson tinha na sua calçada uma argola para amarrar o cavalo que trazia do seu sítio frutas e verduras, deixando sempre uma bela mijada de lembrança por muitos dias. Ninguém reclamava. Dona Fifa na esquina de Carneiro Vilela numa cadeira de balanço falando mal da nora invariavelmente a quem passava. Dona Diva defronte, fumando charuto, sempre lembrando seu filho ausente o grande Antonio Maria jornalista e compositor. Ao lado, o som do violino de Álvaro Matos bem na janela do meu quarto e eu cantando as melodias a pedido de Dona Silvia. Do outro lado Seu Batista com medo de todos os micróbios do mundo. No terraço os amigos.



Combinação de programas, muitas risadas. Lembro-me de um verdadeiro tumulto que demorou não mais de dois dias. O terraço, a rua, não cabia de gente. Tinha sido admitida temporariamente em minha casa uma copeira loura, uma verdadeira escultura, envergando um vestido estampado em azul e uma aliança de noiva. Um decote generoso. O boato se espalhou rapidamente e os que não tinham intimidade ficavam pela rua e os de casa esperando acabar o jantar para ver aonde iria aquela deusa chamada Edileusa. Dona Lulinha minha mãe demitiu-a no segundo dia de trabalho para tristeza de toda uma juventude carente. Dias depois um dos nossos, o grande cadastrador de domésticas do Espinheiro, localizou-a fazendo strip-tease no Teatro Marrocos de Barreto Júnior com o nome de Brigite Brunnet. Lotação esgotada e gritos da nossa torcida organizada. Pouco a pouco fomos conhecendo melhor a nossa loura. Adoro uma casa cheia, mas como convidar amigos se não têm onde estacionar seus carros. Identificação na portaria e prisão em uma gaiola até que sejam autorizados a subir não é um gesto de delicadeza. E assim vamos perdendo aquele contato gostoso, o calor do abraço e a visão freqüente de uma pessoa que queremos bem. Depois de casar os filhos minha casa ficou vazia e triste. Não tive alternativa.



Apartamento foi o meu destino definitivo. Agora o Facebook é o local do papo com um monte de gente que há muito não via. Não deixa de ser gostoso, mas me faz falta meu terraço e ele não se chama varanda. Ainda bem que nas sextas feiras à noite no Jardim Carioca o terraço de Cacá (Ricardo Breno) nos acolhe e lá saboreamos estórias deliciosas. Apareçam. Talvez um dia Edileusa...

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