FERNANDO AZEVEDO
De quatro avós que uma criança
tem direito, só conheci uma com quem convivi por 10 a 12 anos somente. Um avô
morreu com 31 anos, outro com 42, a avó materna acho que não chegou aos
sessenta. Na família primos órfãos com mães falecidas entre quarenta e cinquenta.
Na escola e nas amizades do Náutico vários sem pai ou mãe, de forma que na
minha cabeça a vida era curta. JORGINHO Guinle o maior playboy que o Brasil
teve, herdeiro de uma fortuna incalculável, gastava dinheiro a rodo sem nunca
ter trabalhado um só dia. Achava que viveria 60 anos e torrou tudo morrendo aos
80, pobre e vivendo de favores dos amigos a quem deu boa vida. O Copacabana
Pálace hotel famoso da família permitiu que fosse morrer numa suíte de lá para
homenagea-lo pelo que ele fez pelo Rio de Janeiro e pelo Brasil trazendo todas
as personalidades mais importantes do mundo para que se hospedassem lá com
mordomias irrestritas e contas altas. A
expectativa de vida em todos os países foi aumentando e criou-se a
aposentadoria compulsória aos setenta anos, achando que poucos iam dela gozar.
Aumentaram ano passado para setenta e cinco. Criou-se o Estatuto do Idoso com o
chãozinho do velho corcunda e de bengala para estacionar o carro e filas
preferenciais. Agora já dividem os grupos com os de oitenta passando na frente.
Os aposentados buscam trabalho, pois não suportam a vida caseira e até uma nova
patologia surgiu na medicina psiquiátrica a Síndrome da mulher do aposentado,
caracterizada por brigas frequentes do casal provocadas pela interferência do
cônjuge em assuntos domésticos. Os profissionais liberais e autônomos em geral têm
mais liberdade de decisões e param de trabalhar por decisão própria. Mas quando
parar? O grande pensador espanhol Baltasar Gracián no seu livro A Arte da
Prudência ensina: NÃO ESPERAR O SOL SE POR “Constitui uma máxima a para
quem é prudente, abandonar as coisas antes de ser abandonado por elas. Devemos
fazer até de nosso fenecer um triunfo. Às vezes, o próprio sol se esconde para
trás de uma nuvem, de modo que ninguém o veja se por, deixando-o em dúvida se
já se pôs ou não. Evite o declínio para não se chocar com o infortúnio. Não
fique esperando lhe darem as costas, que o sepultarão vivo para seu pesar e
morto para a estima. Os prudentes sabem quando aposentar um cavalo de corrida,
e não esperam que este caia no meio da carreira para provocar o riso de todos.
Que a beleza quebre o espelho sagazmente, na hora certa, e não tarde demais,
quando este lhe revelará a verdade”.
A decisão é difícil. A
longevidade é vista no dia-a-dia e as pessoas centenárias estão participando do
mundo digital e não pensam no por do sol. O que é e o que será essa coisa
chamada futuro?
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