FERNANDO AZEVEDO
Semana passada voltei de minhas mini férias em São Paulo,
programa que faço há 26 anos para rever filha, genro e netos que foram
aparecendo e hoje em dia desaparecendo pois nossos horários são incompatíveis.
Quando durmo eles chegam e quando acordo estão dormindo e quando todos estamos
acordados e juntos o i-phone ganha do bate-papo. Mas vamos falar do frio. Há
uma incompatibilidade entre nós. Não o suporto, Nasci para andar descalço, de
bermuda e sem camisa. Corro também de vento e quando vim para SP o Recife
estava numa fase de ventania terrível, mas a gente ganha dele fechando as
janelas. Do frio não. Ele penetra pelas paredes, invade minha cama e fura o meu
cobertor (hoje edredom) e não me livrando dele, logo vem a coriza a garganta
irritada os espirros etc. Jamais na minha vida verei a neve. Medo do vento tem
uma explicação. No meu tempo de menino, ainda sem chuveiro elétrico ou boilers,
quando chegava a época de chuvas e frio no Recife, tomávamos o famoso “banho de
cuia”. Toda casa tinha um caldeirão grande que se enchia com água fria que era
temperada com uma chaleira de água fervente até a temperatura ideal. Ao sair do
banho muito cuidado com as correntes de ar, pois poderíamos ficar com a “boca troncha”
se ela nos pegasse. E essas coisas vão se impregnando nas nossas cabeças e
ainda hoje respeito uma série de recomendações desse tipo. Quebrei a de tomar
banho sem antes passar um período de duas horas para “fazer a digestão”. Seria
morte certa se quebrasse a regra, mas quando morei no Rio de Janeiro para fazer
Residência Médica, num dia de mais de 40 graus arrisquei e felizmente não
morri. Sinto que estou piorando com o tempo ou estão refrigerando de mais os
ambientes “climatizados”. Não vou mais a cinema, saio de restaurantes e procuro
sempre me livrar das “correntes de ar”. Não me vejo de boca troncha nem morto.