Há alguns anos atrás fui convidado para fazer a palestra de
abertura de um Congresso Pediátrico da Unimed Recife. Ex-alunos que eram
dirigentes da entidade foram responsáveis por isso. Quando terminei a exposição
levantou-se da plateia um ex-professor meu no Rio de Janeiro onde fiz
Residência Médica e foi até o palco para dizer do orgulho e satisfação de
naquele dia ele estar no auditório e eu no palco. Seu nome: Antonio Marcio
Lisboa, Professor de Pediatria em Brasília hoje com mais de 80 anos e em plena
atividade, o Pediatra mais brilhante que conheci. Exemplo se copia. Quando fui
Professor da Faculdade de Ciências Médicas deixei em meu lugar alunos que se
tornaram mestres e chefe de serviço. No Barão de Lucena ex-residentes hoje são
meus professores em diversas especialidades e a eles recorro sempre que o calo
aperta. Infelizmente a classe vive hoje
uma cena lamentável com um professor mandando matar um aluno que o sobrepujou.
O que seria motivo de alegria tornou-se uma tragédia. Não conheci o colega, o
jovem Arthur Azevedo, que além de médico era também um músico e sua ausência
traz um duplo vácuo nas duas artes. Infelizmente esse fato não é uma exceção,
mas uma regra por incrível que pareça, sobretudo nos serviços universitários e
não só aqui, mas no mundo. Grupos que brigam entre si e que impedem em
organização de congresso convidar fulano, pois
beltrano não vem. Uma lástima. A inveja é pecado capital e a penalização
ao invejoso é forte e duradoura porque o faz sofrer cotidianamente. O brilho
dos outros o incomoda e ele não se conforma com isso. A Medicina não é uma
profissão para construir fortuna. Essa pertence a outras categorias e aos
empresários da própria medicina. Hipócrates, nosso pai e São Lucas nosso
patrono foram missionários. No nosso juramento está a orientação fundamental
para nossa conduta: “Prometo que ao exercer a arte de curar, mostrar-me-ei
sempre fiel aos preceitos da honestidade, da caridade e da ciência. Nunca me
servirei da minha profissão para corromper os costumes ou favorecer o crime. Se
cumprir esse juramento com fidelidade, goze eu para sempre a minha vida e a
minha arte com boa reputação entre os homens; se o infringir ou dele afastar-me
suceda-me o contrário” A profissão é dificílima e exige professores de alta
categoria para que os alunos se espelhem em suas vidas. Não se pode multiplicar
faculdades e formandos sem que haja um apuro técnico e ético. Meu caro Arthur
você está entre nós pelo seu exemplo e seu caráter. Seus assassinos que tenham
vida longa nas cadeias brasileiras e mesmo que soltos o que não é improvável
serão diuturnamente castigados por Hipócrates.
Que assim seja!
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