segunda-feira, 22 de agosto de 2011

OS INTERCAMBISTAS (2)


OS INTERCAMBISTAS (2)

FERNANDO AZEVEDO

Anualmente, preencho mais de uma dezena de formulários de intercambistas. Tenho a dizer que conheço mães que fizeram intercâmbio e ainda hoje mantém amizade com as famílias americanas e seus filhos adolescentes estendem esses laços passando outra temporada por lá onde são acolhidos como filhos e netos.  Uma coisa me intriga quando estou fazendo o histórico das vacinas, doenças etc. e pergunto: -Vai pra onde? – Não sei ainda. Ora, sabe-se que a adolescência é a idade da formação de tribos, dos primeiros vôos solo de um passarinho que criamos com muito amor. Como ignorar para onde ele vai, com quem anda, com quem convive? Estou falando que isso acontece dias antes do embarque. Vou então citar casos ilustrativos:
1-      Adolescente acorda de noite com a polícia cercando a casa para fazer o que se chama aqui de  ação de despejo. Casal não pagava os impostos e prestações da casa. O menino dormia e a porta foi aberta “com a maior delicadeza” pelos policiais que o expulsaram de casa de pijama e sem cueca como ele me descreveu. Lá ficaram todos seus pertences. Passaram a fita amarela em torno da casa isolando inclusive o automóvel. Foi socorrido por um amigo da família, um francês que o acolheu e ensinou-lhe a tomar cerveja. Na sua chegada em New York ninguém o esperava e depois de muito tempo o enviaram para outro estado.
2-      Brasileira morena brejeira típica vai para o estado de Washington, casa de uma loura. Na matrícula escolar a colocam no colégio dos negros. Dois meses depois a pernambuquinha vem embora depois de duas trocas de casa.
3-      Adolescente de 16 anos é recebido no aeroporto por um gay. Dois dias depois está no Brasil novamente, após relato ao pai do acontecido.
4-      Pai telefona num fim de semana dos primeiros dias da filha nos States. Quem atende? A própria filha. Causa surpresa e ela disse estar sozinha por uns momentos, pois a família tinha saído. Na semana seguinte mesmo fato. O pai aperta e a menina desaba. Ficava sozinha no weekend, pois os velhos viajavam na sexta feira e a  “irmã” se enturmava com uma tribo da pesada de álcool e drogas. O pai foi buscá-la imediatamente.
5-      Menina moça vai para uma cidadezinha safada de pouco mais de mil habitantes (geralmente isso acontece) e lá pela solidão e desajuste volta 20 kg mais gorda logo depois de seus belos 15 anos.
6-      Adolescente menino fica na casa de uma família onde sua primeira tarefa era apanhar os cestos de papel higiênico da casa. No baixo calão, "piniqueiro" de americano.

CHEGA! MAS TEM MAIS.

O que quero comentar é que o preço para falar inglês às vezes é muito alto. Adolescente tem normalmente uma instabilidade psíquica a ser considerada. A família americana como um todo, (lógico que existem exceções) está passando por maus momentos, a discriminação existe ninguém pode negar. É uma boa experiência de vida para amadurecimento e aprendizado de uma língua tão importante? Claro! Mas tenha cuidado, investigue, se possível até quem sabe va lá para ver onde vai estar seu filho por um bom tempo. Outro fato que acompanho é o desaprendizado do inglês pela falta de uso na volta. Língua e instrumento musical têm que ser tocado todo dia se não trava. Fui aluno de Elijah Von Shosten . O homem que mais sabia inglês no Recife e talvez no Brasil. Nunca tinha ido lá. Depois de muitos anos é que fez uma viagem a convite segundo me falou um dia. Quem quer aprende aqui mesmo.
Nesse assunto gostaria muito de ler opiniões de ex-intercambistas para sedimentar minhas impressões .Me interessa o relato sincero de sua juventude por  lá,  o seu psiquismo, sua aceitação, se seu inglês tornou-se fluente de forma definitiva e se isso interferiu positivamente na sua vida adulta.

2 comentários:

  1. Fernando,
    Quando pais descobrirem que usam seus filhos para corrigir frustrações e também para se exibirem, talvez a vida desses adolescentes seja, in English ou em nordestinês, menos dura.

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  2. Dr.Fernando !! PERFEITO ! Concordo plenamente quando o Senhor diz que : "Quem quer aprender, aprende aqui mesmo." É isso aí.
    Outra coisa que nunca , nunquinha mesmo consegui assimilar foi essa história de "minha mãe americana e meu pai americano " Qual o que minha gente...Mãe,Pai,Avós...são únicos,não existe substituições ,mesmo que temporárias.Aprendi inglês aqui em Recife e todas as vezes em que precisei ir ao exterior , nunca passei "apertos "sempre entendi e me fiz entender...nunca fiz intercâmbio, confesso que na adolescência sucumbi a esse desejo ,mas graças a sanidade e bom senso de meus Pais, este era um assunto no qual meu Pai não gostava nem de ouvir ..de jeito nenhum..qt a isso ..não tinha conversa. E nem por isso deixei de aprender e falar Inglês.Eu e meu esposo pensamos (hoje) igual a meus Pais.Nossas filhas no intercâmbio...nem pensar..não mesmo..na na ni na não!!!
    Conhecer outras culturas , costumes ..sim. Mas devidamente acompanhadas dos Pais , com toda estrutura e segurança que nossas futuras adolescentes merecem..e daí na volta..teremos muitas recordações , e muitos momentos gostosos de serem lembrados ...juntos.

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