terça-feira, 1 de agosto de 2017

EXPECTATIVA DE VIDA


FERNANDO AZEVEDO

De quatro avós que uma criança tem direito, só conheci uma com quem convivi por 10 a 12 anos somente. Um avô morreu com 31 anos, outro com 42, a avó materna acho que não chegou aos sessenta. Na família primos órfãos com mães falecidas entre quarenta e cinquenta. Na escola e nas amizades do Náutico vários sem pai ou mãe, de forma que na minha cabeça a vida era curta. JORGINHO Guinle o maior playboy que o Brasil teve, herdeiro de uma fortuna incalculável, gastava dinheiro a rodo sem nunca ter trabalhado um só dia. Achava que viveria 60 anos e torrou tudo morrendo aos 80, pobre e vivendo de favores dos amigos a quem deu boa vida. O Copacabana Pálace hotel famoso da família permitiu que fosse morrer numa suíte de lá para homenagea-lo pelo que ele fez pelo Rio de Janeiro e pelo Brasil trazendo todas as personalidades mais importantes do mundo para que se hospedassem lá com mordomias irrestritas e contas altas.  A expectativa de vida em todos os países foi aumentando e criou-se a aposentadoria compulsória aos setenta anos, achando que poucos iam dela gozar. Aumentaram ano passado para setenta e cinco. Criou-se o Estatuto do Idoso com o chãozinho do velho corcunda e de bengala para estacionar o carro e filas preferenciais. Agora já dividem os grupos com os de oitenta passando na frente. Os aposentados buscam trabalho, pois não suportam a vida caseira e até uma nova patologia surgiu na medicina psiquiátrica a Síndrome da mulher do aposentado, caracterizada por brigas frequentes do casal provocadas pela interferência do cônjuge em assuntos domésticos. Os profissionais liberais e autônomos em geral têm mais liberdade de decisões e param de trabalhar por decisão própria. Mas quando parar? O grande pensador espanhol Baltasar Gracián no seu livro A Arte da Prudência ensina: NÃO ESPERAR O SOL SE POR “Constitui uma máxima a para quem é prudente, abandonar as coisas antes de ser abandonado por elas. Devemos fazer até de nosso fenecer um triunfo. Às vezes, o próprio sol se esconde para trás de uma nuvem, de modo que ninguém o veja se por, deixando-o em dúvida se já se pôs ou não. Evite o declínio para não se chocar com o infortúnio. Não fique esperando lhe darem as costas, que o sepultarão vivo para seu pesar e morto para a estima. Os prudentes sabem quando aposentar um cavalo de corrida, e não esperam que este caia no meio da carreira para provocar o riso de todos. Que a beleza quebre o espelho sagazmente, na hora certa, e não tarde demais, quando este lhe revelará a verdade”.
A decisão é difícil. A longevidade é vista no dia-a-dia e as pessoas centenárias estão participando do mundo digital e não pensam no por do sol. O que é e o que será essa coisa chamada futuro?

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