segunda-feira, 24 de abril de 2017

ESCOLAS WALDORF




FERNANDO AZEVEDO



Gosto muito de me exemplificar, de contar as experiências que sofri no meu percurso escolar para tirar minhas conclusões sobre educação infantil. Como Pediatra faço testes quase diários sem saberem as crianças que estou pesquisando. Nos livros dos netos vou buscando também fonte para meus pensamentos. Tenho uma saudade enorme do meu curso primário no Instituto Recife, Rua 48, Espinheiro. A Pedagoga Eulália Fonseca era uma criatura diferente e avançada para a época. Por que ficava louco para ir para a escola? Ter meninos e meninas já era um diferencial para a época dos colégios só femininos ou masculinos. Cantava no Orfeon, havia um clube com Presidente secretário, tesoureiro, visitávamos fábricas (A Fratelli Vita e a Pilar foram visitas inesquecíveis). Fomos aos Correios entender o telegrama e aprendíamos a redigir cartas, requerimentos e petições. Fazia-se a ata das reuniões. Havia também uma aula de descrição. Colocavam uma pintura, um quadro na parede e descrevíamos o que imaginávamos existir em seu conteúdo. Sabíamos os hinos nacionais. Aulas de trabalhos manuais despertavam os mais habilidosos para a exposição anual. Acaba essa fase maravilhosa e começa o ensino burro, o ensino de coisas inúteis, o ensino que nada me interessava a não ser línguas que achava bonito, sobretudo o francês pelo domínio intelectual da França na época.  Não tinha dúvida, pulava a janela e ia embora e com isso suspensões e expulsões. Troca para outro igual e depois mais e mais até completar cinco mudanças. Nunca na escola secundária me ensinaram o que era o mundo, sobretudo depois da Segunda Guerra Mundial. Nenhuma reflexão sobre tolerância entre os povos justo quando Hitler queria dominar o mundo e tornar a raça ariana a única espécie humana. Nenhuma arte, mas queriam que eu soubesse a raiz quadrada, a raiz cúbica e o teorema de Pitágoras que aos 76 anos nunca usei. Nenhuma pesquisa, e muita decoreba que se esquece com uma semana. Quando decidi ser médico foi uma tortura estudar química e física que nunca usei, mas tirei a maior nota da história da Faculdade de Ciências Médicas em História Natural (Biologia-Zoologia e Botânica) um estudo dos seres vivos, da natureza do habitat de cada espécie viva. Na formatura ganhei o prêmio de melhor aluno da turma de 1964 e recebi o Prêmio Banorte, uma pequena fortuna gasta nas boates do Rio de Janeiro para onde fui  para fazer Residência Médica. Vivi ao vivo o que sabia de ouvir falar. Vi artistas de junto. Dinheiro bem gasto para depois entrar num regime de trabalho escravo de alto aprendizado. Tenho pena das crianças diagnosticadas com TDAH, Autismo e outras patologias, quando na maioria são vítimas de uma rotina que uns poucos se acomodam e os mais rebeldes não toleram. Ganhem um pouco do seu tempo assistindo o filme no youtube Waldorf 100 Português (legendas). Tenho certeza que essa seria a minha escola e de meus filhos, mas não a conhecia na época. Dos meus netos gostaria, mas...
Obrigado Débora Oliveira pelo envio. Minha pior cliente e hoje grande Mestra.

segunda-feira, 17 de abril de 2017

O MÊDO DO SOL


FERNANDO AZEVEDO
 
Não vou entrar em discussão se o sol provoca câncer de pele. Tá certo, provoca.  Há, no entanto um exagero e um verdadeiro pavor ao nosso querido astro. Uma vez perguntei a um francês: - Se você tem a França, porque o Recife? Respondeu ele: - Pelo Sol Fernando, você não imagina o que é o sol! Eu realmente não imagino porque o conheço desde nasci e sempre o usei. Menino da minha época não tinha camisa depois que voltava da escola. Vivia pelos quintais e ruas os louros ficando morenos e os morenos ficando pretos até que o inverno chegasse e as chuvas escondessem esse nosso companheiro. O que se vê hoje é o boné, as camisas protetoras, os óculos, calças compridas e as corridas ora de bicicleta ora a pé mesmo e o banho de mar voltando a esconder em burcas o corpo das crianças. Num artigo do Pediatrics, uma das melhores revistas pediátricas do mundo, leio uma pesquisa em Londres feita entre 2000 e 2014 pelo Child Health da University College London. Foram pesquisadas 711.788 crianças de 0-17 anos encontrou-se um acentuado aumento do déficit de vitamina D comparado à pesquisa de uma década anterior. A indústria de cosméticos (filtro solar) e vestuário agradece penhoradamente, mas a saúde não. A vitamina D tem enorme importância para o nosso bem estar e saúde. Ossos fortes na infância significa menos fraturas na velhice, menos osteoporose, e menos implantes dentários. Vamos a outros benefícios: cérebro mais saudável, menos Parkinson e Alzheimer (Revista Neurology (2014), menos infecções por vírus e bactérias, coração mais saudável, menos obesidade e menos TPM. A suplementação com vitamina D (os laboratórios exultam com a heliofobia) sozinha não é suficiente. É necessário expor sua pele ao sole basta os membros superiores e inferiores se não quiser queimar seu rosto. O mundo passa por manias e o medo do sol é uma delas. Agradeço muito ter sido de outra geração, a que corria só de calção pelas ruas atrás de uma bola ou empinando papagaio e roubando frutas pendentes. Aos 76 anos sem dentadura, sem fraturas sem alterações cognitivas detectáveis, feliz da vida com meus carros velhos e roupas fora de moda. Ah! E sem filtro solar.

segunda-feira, 10 de abril de 2017

A LETRA CURSIVA E A DIGITAÇÃO




FERNANDO AZEVEDO
 



Acho a língua portuguesa muito difícil e admiro muito os que a dominam em todas as suas regras como meus caros amigos Luciano Marinho e Nelly Carvalho, Tenho como cliente uma adolescente que estuda num dos considerados melhores colégios do Recife e numa conversa que sempre provoco com eles sobre conhecimentos gerais, disse-me ela que Português era fácil.   –Ah é? E dei a ela caneta e papel e começou o ditado.  Eça de Queiroz dizia que essa língua portuguesa era difícil. E começa a confusão sonora entre a cedilha e os dois SS. O edifício é difícil de construir  É xícara ou chícara? E o Xá da Persia ou será que é Percia gosta de chá? .Clientes  que me escrevem que o filho está com diagnóstico de pineumonia quando estão com pneumonia ou com diarréa quando na verdade estão com diarreia. Estão também com corisa e tossi, mas na verdade estão com coriza e tosse. A coisa vai seguindo por aí pela confusão sonora entre as palavras. Ouvi então pela emissora de rádio CBN uma entrevista com uma professora abordando esse tema de erro de grafia e atribuindo em grande parte à digitação das palavras em lugar da palavra escrita, afirmando que a criança que escreve no papel o cérebro memoriza muito mais e os erros diminuem pela memória visual do que se escreve que não é a mesma da que se digita. Conversei com minha filha que foi Professora de Educação Infantil aposentando-se agora e ela disse-me que na escola pública onde sempre ensinou e não na privada, a letra cursiva também é abandonada por ordens superiores. Ensina-se o que a gente chama no nordeste de letra de forma e aqui letra de bastão, pois não há tempo de estar se ensinando a antiga caligrafia que não somente ajuda a memorizar como também a desenhar melhor a letra. Não existe mais livro de caligrafia. Minha letra é muito feia e sempre usei e uso até hoje minha máquina de datilografia. Mesmo nos ambulatórios públicos a levava pelo medo de confundirem Plasil com Flagyl e outros medicamentos assemelhados. Os erros cometidos por uma letra ilegível na medicina pode acarretar danos irreparáveis. As regras gramaticais são complicadas e louvo quem as conhece bem. Por que o porque pode ser escrito por quê. Porque pode. Eita complicação! E a vírgula, o ponto e vírgula, o parêntesis? Mas fiquemos só na parte sonora para já encontrarmos uma grande dificuldade.
Boa Páscoa para todos. Aqui em São Paulo não tem bacalhau de coco com brêdo mas vou me virando com as massas que adoro.