segunda-feira, 28 de maio de 2012

UM PASSEIO A DOIS IRMÃOS



FERNANDO AZEVEDO

Há muitas décadas sem ir por lá, peguei os netos de cinco e dois anos para uma manhã divertida, já que pela minha vida de muito trabalho (felizmente) e a vida de executivo dos pimpolhos com múltiplas atividades impede uma convivência maior. Em breve moraremos a 4 andares de diferença e espero recuperar o tempo.  E fomos para Dois Irmãos, local belíssimo de restos de mata atlântica e la começaram as dificuldades. A longa caminhada sobre paralelepípedos o que impede um cadeirante frequentá-lo ou  de se usar um carrinho para transportar a criança. Preço da entrada: 2 reais. Accessível a qualquer bolso, mas se o parque precisa dessa arrecadação para a sua manutenção é muito pouco. Deu-me pena ver o açude onde tanto remei em barcos que se alugava na minha juventude. Nenhuma recreação, nenhuma lanchonete agradável. Felizmente comprei água no camelô da entrada e por falar nisso que camelozada desorganizada. Nada contra, mas poderia haver barracas padronizadas ou lojinhas dentro do parque onde as crianças pudessem comprar alguma coisa de lembrança. Na volta elas estavam exaustas e pedindo colo. Muito justo. Será que não poderia ter um desses trenzinhos circulando? E o ciclismo tão em moda que poderia ser um convite para uma boa pedalada num local lindo! Depois fui almoçar e por brincadeira disse: - Vamos voltar pro zoológico? E o pirralho de dois anos: - De novo? Não Bernardo, não da pra voltar. Vocês jovens casais que precisam muito desses espaços para crianças pequenas organizem-se pelas redes sociais numa espécie de "OCUPE DOIS IRMÃOS” e exijam dos governantes mudanças na estrutura para que possam  ter um fim de semana alegre e confortável num local lindo e educativo. Convidem prefeito, governador, secretários de meio ambiente e saúde, façam um estardalhaço pela imprensa e usem a poesia de Carlos Pena Filho. “É dos sonhos dos homens que uma cidade se inventa”. Belo slogan para o movimento. Contem com a Sociedade de Pediatria de Pernambuco que tenho certeza que se engajará. Contem com as escolas. Somando forças  seremos gigantes nas reinvidicações sociais.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

NA MINHA MÃO...



FERNANDO AZEVEDO

Como já escrevi aqui no blog, minha babá Zefa ainda existe com seus 92 anos e lúcida. Quando a visito ( e vivo pedindo perdão por não fazer muitas vezes) damos gargalhadas lembrando os fatos da nossa convivência, as molecagens que fazíamos nós crianças com a permissão e conivência dela. Na adolescência falava em inglês com ela e ela respondia tudo em português. Era engraçadíssimo. As Zefas acabaram. As babás são da pior qualidade e quando existem as boas, que ainda existem, criam vínculos tão fortes da criança com elas que causam ciúmes na mãe e que a demite, trazendo um problemão para a cabecinha dos pequenos. O sentimento de perda é enorme. Cada babá demitida é uma readaptação a ser encarada e agora surge a figura da folguista que é como jogador de futebol que entra faltando 1 minuto para o fim do jogo. Nenhuma responsabilidade com o resultado. Elas trabalham justo nos sábados ou domingos que é quando os pais tem que assumir pra valer. Essa história do “o que vale é a qualidade do tempo dedicado” é mentira, conversa para enganar besta. O que vale é a quantidade e lógico associada à qualidade. Atendi hoje (15.5.12) uma criança sem a mãe (o que é raríssimo diga-se) e só com a babá.
-O que é que há com João
-Diarreia.
Quantas vezes ele fez cocô?
- Na minha mão só uma.
E na mão dos outros, quem são os outros que eu não sei.
Não dá pra ter filho sem assumir e hoje a quantidade de métodos anticoncepcionais são muitos e gratuito. Não da pra fazer criança e deixar na mão de ninguém.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

MORDIDAS DE CRIANÇAS


FERNANDO AZEVEDO


Crianças pequenas que brigam, que mordem, não tem intenção de causar nenhum dano ao amiguinho. Às vezes os pais é que entram na briga e ai sim a coisa pode ficar feia, pois tem plena consciência da violência que estão praticando um contra o outro. Se moram num mesmo condomínio com encontros diários não se sabe em que vai dar. Se seu filho chegou mordido da escola, lógico que deve procurar a causa, conversar com a professora  mas sempre entendendo que pode acontecer. A criança pequena quer marcar seu espaço, defender os seus brinquedos, e o que os adultos devem fazer é separá-los, inventar outras atividades para os “mordedores” e sempre reprovar delicadamente o ato com firmeza. Crianças que não tem companhia, ou são superprotegidas, com pouca sociabilidade, tem mais essa tendência.  Muitas vezes mordem os pais e, sobretudo a mãe, não por raiva e às vezes por bem querer. Lógico que devem ser contidas e reprovadas, mas sem violência, sem bater, sem causar dor física na criança, mas dominando a cena. Se com um ou dois anos a criança nos vence, na adolescência o que acontecerá. Já crianças maiores pré adolescentes e adolescentes sabem a intenção do gesto de agressão física. O dano moral ou físico que pode causar. São os valentões que intimidam os mais fracos tornando-o uma vítima diária. Não muito raro o ofendido não suporta por muito tempo essa opressão e as crônicas policiais estão repletas de casos dolorosos. Não percam suas amizades por causa de mordidas ou pequenas brigas de crianças pequenas. Identifiquem as causas e promovam a harmonia entre elas e o pedido de desculpas. São com esses pequenos gestos que vamos educando uma criança.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

O alcoolismo na adolescência


FERNANDO AZEVEDO PEDIATRA
 fj-azevedo@uol.com.br
Recife, sábado, 21 de janeiro de 2012
Matéria publicada no Diário de Pernambuco.             

Na minha geração (nasci em 1940) e nas anteriores, época dos grandes boêmios do Recife, ninguém escapou da bebida e do cigarro. É como se diz: “não tem virgem na zona”. Não me sentei à mesa de um bar com Hugo da Peixa e Waldemar Marinheiro, mas conheci os dois. Outros grandes boêmios profissionais, sobretudo no mundo artístico, consagraram-se e contam-se suas historias realmente deliciosas. Silvio Caldas, que começara a gravar um disco no Rio de Janeiro, interrompeu o trabalho e veio para o Recife encontrar-se com a boemia local. A gravadora passou um telegrama exigindo sua volta. Ele respondeu: “impossível, começou a safra de caju”. Conta-se dele também uma correspondência que enviou para Hugo da Peixa e como não sabia o endereço, colocou no envelope: Para Hugo da Peixa - Qualquer bar - Recife. Lógico que a carta chegou ao destino, o Maxime. Geralmente o hábito do álcool começava na adolescência ou mesmo na infância, porque era “engraçado” ver criança bêbada. Como eu era muito inapetente minha mãe me dava para beber, num cálice, uma gema crua cheia de vinho do Porto que eu engolia de uma vez e adorava (o vinho do Porto). Remédios continham álcool. Ainda me lembro de Glimiton que eu tomava para a falta de apetite com muito prazer. A culpa de a gente beber tão cedo era primeiro o desconhecimento total dos malefícios do álcool e em segundo lugar o pós-guerra com os filmes americanos onde os grandes astros bebiam uísque e fumavam e o adolescente copiava com idolatria. 

Acontece que o hábito não era diário. Como Reginaldo Rossi descreve em sua música A raposa e as uvas, “e tudo que a gente tomava eram três, quatro cubas” nas festinhas de brotos para ter coragem de tirar uma moça para dançar enfrentando a “carranca do pai” sempre presente. O que acontece hoje é que o adolescente está bebendo muito porque as oportunidades são diárias. O gatilho é o ócio praieiro, as férias nas praias onde todo dia tem eventos, papos de bar ou em casa dos veranistas. Acabam as férias e as faculdades têm um bar junto. Um não, muitos. Aí começa a dependência. A propaganda permanente da inocente cerveja usa figuras simpáticas e carimbadas como Zeca Pagodinho, Ronaldo Fenômeno, Romário, de sucesso profissional e financeiro absoluto na vida. Num golpe baixo usaram Sandy a eterna virgem que de uma hora para outra torna-se devassa. Cachê milionário, corrupção ativa mesmo. 

Tenho tido problemas no consultório e não são de contar nos dedos. Não é possível assistir um interminável show sem tomar muitas. Quem está escrevendo foi vítima de uma pancreatite alcoólica provocada por duas latinhas de cerveja que tomava todo dia antes de jantar há muitos anos. Hoje aposentado do copo há três anos, mas com a mesma alegria e o palhaço saindo em todos os carnavais, dou o aviso e quem avisa amigo é. Se beber, beba com moderação mesmo e não diariamente.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

ATROPELAMENTOS DE CRIANÇAS E JOVENS


FERNANDO AZEVEDO

As estatísticas não mentem. Cinco mil mortes por ano, representando a 5ª causa de morte entre a infância e adolescência. O perigo começa em casa ao retirar o carro da garagem. Em edifícios o risco aumenta, pois na saída dos elevadores para a garagem às vezes a criança corre em disparada para o carro. No meu edifício um síndico extremamente zeloso foi duramente criticado por colocar duas lombadas no percurso da garagem. Placas de advertência, correntes que possam barrar uma saída rápida são acessórios necessários. As ruas do Recife com estacionamentos nos dois lados e vias sempre em mão dupla aumentam exageradamente o risco. Crianças não podem andar sozinhas. As mãos tem que ser seguras por adultos que por sua vez devem ter o maior cuidado, olhar para os dois lados e atravessar em completa segurança. A descida do automóvel não pode ser nunca pela porta que da para a rua. As travas são necessárias.  Os transportes escolares devem redobrar a atenção e as escolas tinham que ter baias para o desembarque dos alunos. O andar pela calçada longe do meio fio é outra regra de proteção. As motos que passam entre o carro e a calçada desafiando todas as normas do motociclismo são um tormento. Quando os adolescentes saírem com seus skates e patins redobrar os ensinamentos do risco que correm em andar pelas ruas. As aulas sobre esse assunto devem ser frequentes nas escolas para todas as idades e, sobretudo para os jovens que começam a dirigir seus carros. A lei seca veio em ótima hora, mas a conscientização é que é mais importante.