segunda-feira, 30 de março de 2015

CHICO CUNHA

 FERNANDO AZEVEDO

No ano de 1950 nascia na familia TOGAVIRIDAE mais um ilustre membro. O vírus CHIKUNGUNYA. Nasceu o bichinho na Tanzânia e seu nome no dialeto local significa “aqueles que se dobram” porque as pessoas acometidas da doença sentem muitas dores nas articulações, sobretudo nos membros inferiores e andam encurvados e com dificuldade. Esse vírus é primo legítimo do vírus da Dengue e transmitido pelo mesmo mosquito, o Aedes Aegypti. No ano 2000 ele foi identificado no Brasil. Hoje a quantidade de viagens internacionais faz com que as doenças se espalhem rapidamente pelo globo e quando encontram condições adequadas provocam epidemias. Quando estudei na Faculdade, Doenças Infecciosas o Dengue não tinha nenhuma relevância e hoje estamos com um problema insolúvel a não ser que a vacina nos salve, porque o clima tropical, a má educação ambiental cada dia mais favorece sua disseminação. O vírus Chikungunya provoca sintomas semelhantes, com erupção cutânea, dores pelo corpo, sobretudo articulares e é uma doença menos grave embora prolongada. O Dengue é uma doença mais grave e mortal e seu curso mais rápido. Chamada também Break bones disease (doença quebra ossos) pelas dores que provoca no corpo tem a dor de cabeça, a dor nos olhos e as manchas no corpo como principais sintomas, manchas que provocam coceira na pele. Os casos graves são provocados por alterações na distribuição dos líquidos do corpo, hemorragias etc. Merece maior vigilância na evolução.
Quando Chikungunya chegou ao Brasil trocaram seu nome nos jornais para Chicogunha e agora uma pessoa me perguntou se já tinha visto alguma vez Chico Cunha. Não, ainda não tive esse prazer, mas estou de olho no Chikungunya que a qualquer momento vai me ser apresentado.
É importante em qualquer suspeita informar à Vigilância Sanitária a presença desse indivíduo por aqui. Fiquemos atentos.

terça-feira, 24 de março de 2015

CIRCUNCISÃO E AUTISMO

FERNANDO AZEVEDO

Leio hoje na conceituada revista ARCHIVES OF DISEASES IN CHILDHOOD que experiências dolorosas em recém-nascidos e lactentes podem levar a danos psicológicos futuros se não se usa uma analgesia ou anestesia adequada e o Autismo pode ser um comportamento a ser exibido. Sabe-se a que a população judaica tem a operação de fimose como um procedimento precoce por motivos religiosos e isso é feito muitas vezes logo após o parto e sem procedimento anestésico adequado. O estudo seleciona 39.000 casos seguidos por nove anos e em cerca de 5000 são observados danos psicológicos, incluindo o Autismo. Foi muito importante para a criança a especialidade de Neonatologia. No inicio de minha carreira médica o Pediatra não entrava na sala de parto. O anestesista e o obstetra cuidavam do recém-nascido o pegado pelos pés e dando palmadas provocando às vezes hematomas nos pirralhos. Também não se tinha respeito ao bebê nos berçários onde se falava alto, batia-se nas incubadoras e aquilo é uma caixa de ressonância, e entendia-se que o recém-nascido não sentia dor pela imaturidade do seu sistema nervoso ainda pouco desenvolvido. Uma verdadeira falta de respeito com a criança completamente desassistida ao vir ao mundo. Na minha geração, graças à luta de nossos professores arrombamos a porta e passamos a assitir o parto. Os conhecimentos foram se aperfeiçoando e cada dia a mortalidade nos primeiros trinta dias de vida diminuiu consideravelmente. Sem dúvida as experiências dolorosas, exames invasivos devem ser evitados na infância porque a criança guarda essas memórias que não fazem bem à sua estrutura psicológica. Um simples hemograma às vezes é inesquecível. Dosagens bioquímicas desnecessárias, check-ups infantis não tem sentido a não ser em certos casos e quanto menos manuseio em um recém-nascido mais feliz ele fica. Uma criança de aspecto saudável não precisa estar sendo incomodada com picadas desnecessárias. É como você comprar um super carrão e mandar verificar o motor na primeira revisão. O olho clínico é soberano e os exames são complementares se não se tem uma certeza diagnostica. As crianças agradecem se não forem picadas. Bastam os mosquitos.

segunda-feira, 16 de março de 2015

A DURA VIDA DA CRIANÇA DE HOJE

FERNANDO AZEVEDO

Tenho plena consciência que o problema não tem retorno, mas tento dentro do possível minimiza-lo, discuti-lo, porque não existe mais criança e eu que estou velho por fora não estou velho por dentro, pois o menino que mora dentro de mim não envelhece e convivendo com outras no meu trabalho me sinto um deles. Não vou querer imbecilmente que nos dias de hoje haja festa de debutantes, quando todas as meninas jovens de 15 anos num ato simbólico, despediam-se de seus sapatinhos baixos e usavam pela primeira vez o salto alto. Também não vou querer que os meninos usem calças curtas até entrarem na adolescência quando passavam a usar calças compridas. Isso eram atos sociais simbólicos e ultrapassados, mas não posso entender como se adultiza uma criança pequena, ato que julgo irresponsável e danoso. Uma menina não tem que usar batom, blush e outras maquiagens. Tem que ter boneca e não computador ou i-phone. Tem a obrigação de brincar o dia todo e não ter dois expedientes de atividades que as levam à exaustão e mau humor e sono conturbado. Aulas e aulas o dia inteiro e não brincadeiras. Quem conhece meu consultório sabe que lá está instalado o Partido Anárquico Libertador. Lá podem mexer em tudo, brincar com tudo menos com o meu material de medicina como estetoscópio, termômetro etc. Muitas mães me dizem “saiu de casa arriadinho, mas quando chegou aqui ta do jeito que você está vendo. Parece mentira quando lhe falei no telefone”. Ali tenho a primeira impressão que a doença não é grave e a segunda que está sendo proibido de brincar. Hoje chegou um fardado pronto para ir para a escola e levou até uma cobra maior do que uma que tenho na minha sala, feita de tampinhas de garrafa. Uma cascavel. Depois de muito brincar disse que não queria ir para as aulas e recebeu meu total apoio. Gazeta. Brincar. Esse é o melhor investimento para o futuro. Entre os dois e quatro anos a criança tem seu pensamento mágico que deve ser conservado e estimulado. Ela cria personagens, conversa com eles e se defendem das chateações que querem lhe impor. Não se deve destruir as fantasias e historias infantis. Era e sou louco por Papai Noel que me deu tantas alegrias ao despertar no Natal. Não fiquei idiota por ter sido seu amigo agradecido. Quando os mais velhos dizem que o bom velhinho é uma fantasia é comum à decepção, mas logicamente que isso é superado pelas alegrias e expectativas positivas que duraram alguns anos. Criança não gosta de tecnologia, ela usa, mas se for realmente uma criança não trocará um iPhone ou um tablet por uma bola ou boneca. Investindo na alegria da infância teremos uma sociedade de adultos fraternos. Se trocarem por competição em suas diversas formas os psiquiatras enchem seus consultórios.

sábado, 14 de março de 2015

SORRY BRUNSWICK

FERNANDO AZEVEDO


Meu respeitado artista, internacionalmente reconhecido. Dê-me um pequeno espaço para que eu explique aos meus conterrâneos quem é VS, e depois volto a dirigir-me ao senhor. Brunswick foi um cidadão americano que no fim dos anos 1800 conhecendo uma mesa de sinuca, imaginou-a muito mais bonita como artesão que era na área de marcenaria. Criou então um novo desenho de uma mesa com seis pés em forma de um V invertido e com toda a madeira nobre, sobretudo jacarandá entalhado com desenhos variados. Usou madrepérola nas marcações das bordas também em madeira onde se acoplam as borrachas conhecidas como tabelas. As caçapas com um couro especial na entrada recebem as bolas que caem em um saco que se assemelha a um trabalho em crochê. Estava então estabelecido o PADRÃO BRUNSWICK de sinucas e bilhares. O mundo passou a ter fábricas dessas maravilhosas obras de arte, uma antecipação do que hoje se chama franquia. Dito isso Mr. Brunswick quero também passar-lhe algumas informações. No Recife, Brasil, existe um clube com 114 anos praticamente da idade de suas filhas. É o Clube Nautico Capibaribe. Durante a maior parte de sua existência esse clube foi dirigido por cidadãos com história dentro dele. O maior, sem desmerecer os outros da época, chamado Eládio de Barros Carvalho, adotou três filhas suas nascidas em São Paulo no ano de 1951 e como era praxe na época trouxe também um filho, o bilhar, para vigiá-las. Ficaram instaladas num salão lindo, e um funcionário cuidava permanentemente de mantê-las lindas como chegaram. Quem lhe escreve foi um dos que se deliciou com essa convivência tornando-se um dos melhores jogadores do salão, desculpe a imodéstia. Passaram-se algumas décadas e foram elas transferidas por pessoas insensíveis para um primeiro andar dos fundos do clube. Um lugar feio e sujo, mas as moças mantinham a sua beleza intocada, pois obras de arte são relíquias que brilham na escuridão. Pode se admitir a escuridão ambiental, mas não a escuridão mental, desculpe a rima banal, mas é que agora num lance traiçoeiro e irresponsável demos por falta delas e soubemos que foram embora de nossa casa para um lugar ainda hoje ignorado. Fiz uma pesquisa do preço delas e encontrei por R$40.000,00 reais. Algumas com mais de 100 anos como as nossas em torno de R$10.000,00. Desculpe Mr. Brunswick, mas sabe por quanto venderam suas filhas? Por míseros R$200,00 totalizando R$600,00. E sabe pra que mister? Para comprar Totó para os jogadores de futebol. Não conheci pessoalmente um primo que foi um destaque no jornalismo e na dramaturgia brasileira, pois morava no Rio de Janeiro e havia uma grande diferença de idade entre nós. Ele criou uma expressão que cabe bem no assunto: “O brasileiro tem complexo de vira-lata” Tenho certeza da verdade dessa frase ao ver obras de arte e patrimônio material de um clube ser trocadas por Totó. Aqui no Brasil, Mr. Brunswick Totó é cachorro.

segunda-feira, 9 de março de 2015

PADRE FLORIANO

FERNANDO AZEVEDO

Fiz uma pesquisa através do Google para saber quem foi esse personagem que deu nome a rua do bairro de São José. Na página 9 encontro o Padre Floriano Stepniak vítima da perseguição à igreja na Polônia nos anos 1939/1945 por parte dos nazistas. Seu processo de beatificação junto com mais 108 religiosos foi pedido em 1992. Não sei se é ele. Pode ter sido homenagem a um padre do bairro como existe a Rua Padre Silvino no Espinheiro que conheci ao vivo e que morreu segundo as beatas porque fez a barba depois do almoço. Isso foi um trauma para mim até ficar adulto, pois minha mãe só permitia qualquer atividade após fazer a digestão, tempo calculado por ela em duas horas. Mas voltemos ao Padre Floriano e o meu interesse. Um querido amigo me informou no sábado de carnaval que tinham mudado o nome da rua e no domingo deserto do Recife pela manhã fui lá conferir. Não, não mudaram seu nome, mas lá ela está abandonada suja e sem uma placa indicativa. Ai vocês perguntam, por que esse interesse e eu respondo porque foi lá que nasceu em 1978 o Galo da Madrugada. Também nessa rua moravam duas irmãs de Enéas Freire e um irmão, alem de outros moradores. Hoje da pena. As casas com as janelas arrancadas e preenchidas por tijolos com um precário reboco. Um estacionamento é a principal atividade comercial da pequena viela. É dolorido para mim que frequentei tanto aquele bairro na minha época de estudante de medicina não somente por ter colegas que lá moravam como também pelas noitadas, sobretudo na boate Mauá completada com uma papa ao amanhecer no Mercado de São José. Também os trens de várias viagens para Garanhuns, Maceió e Natal compõem essa s lembranças. Outro bairro lindo era o da Boa Vista, o bairro dos judeus, do pátio da Santa Cruz e do Santa Cruz, pois foi lá que ele começou. O Galo da Madrugada tem um pai que foi Enéas Freire a quem o Recife deve e não tem como pagar, e uma mãe que é uma rua. O Padre Floriano, masculino, perde para o feminino Rua. A Rua. Essa mãe, abandonada, desdentada e suja não pode ser desprezada porque ela é impregnada de história. Entrando nela você sente a pulsação do frevo que ainda ecoa entre suas paredes estreitas, você vê os estandartes dos clubes de carnaval enfileirados para a partida matinal do Galo, clube de máscaras que da identidade ao Recife e movimenta dinheiro para o seu comercio e incentiva o turismo. Uma mãe chamada história também não se deleta, não se apaga. A Prefeitura do Recife tem por obrigação colocar uma placa indicativa da Rua Padre Floriano que não existe e outra para ser afixada na parede da casa onde nasceu o Galo da Madrugada. Façam essa parceria e vamos todos para essa festa que espero que aconteça com brevidade. Vamos pinta-lá, grafitar suas paredes com temas carnavalescos e botar a boca no trombone. Viva o Galo, viva o frevo e lógico o Padre Floriano.

terça-feira, 3 de março de 2015

SARAMPO E O ABSURDO DE NÃO VACINAR

FERNANDO AZEVEDO

Quando retornei do Rio de Janeiro onde fazia Residência Médica no Hospital dos Servidores do Estado, tornei-me a convite, assistente do Prof. Fernando Figueira na Faculdade de Ciências Médicas. Uns poucos anos depois com a aposentadoria de um dos assistentes de meu pai, Rinaldo Azevedo que lecionava a cadeira de Doenças Infecciosas me transferi para tomar conta das crianças do pavilhão de isolamento. Lá eu seria muito mais útil e fui. Nem meu pai nem o Dr. Antonio Aguiar tinham conhecimentos pediátricos e também não havia enfermagem adequada. Existiam crianças com Sarampo, Difteria, Coqueluche, Poliomielite, Raiva, e Tétano. Consegui trabalhando de domingo a domingo e sozinho com o auxílio da Enfermeira Bárbara uma holandesa pau pra toda obra melhorar os índices de mortalidade. O número de crianças aumentava e já ocupava metade do isolamento e foi necessário então construir o Isolamento Infantil. Comecei a contar nessa transição com a inestimável presença de João Regis, recém-formado e indicado pelo Prof. Antonio Figueira. Criamos então o internato com alunos do sexto ano e posteriormente a Residência em Pediatria e ai o quadro aumentou e a qualidade melhorou muito e dai pescamos Dra. Ângela e Analiria que hoje são as chefes do departamento. Tínhamos, no entanto ENFERMARIAS de Difteria, Sarampo, duas de Poliomielite, vários leitos com tetânicos maiores e recém-nascidos. Sabíamos que tudo aquilo poderia acabar se a população fosse vacinada, mas a assistência pública era precária e a ignorância alta. Todos nós tínhamos de obrigatoriamente fazer traqueotomias diárias e a qualquer hora. Aprendi e ensinei. Ninguém fez mais esse procedimento salvador que nosso grupo. Começaram as campanhas nacionais de vacinação e essas doenças foram desaparecendo felizmente. Agora há um movimento mundial contra a vacina tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola) relacionando a fração do Sarampo com o autismo infantil. Nos Estados Unidos começa o Sarampo a ressurgir, assim como na Europa. Aqui tivemos um broto epidêmico recente. Sabemos que qualquer medicamento pode apresentar efeitos colaterais incluindo as vacinas, mas o saldo positivo é impressionante e não pode ser apagado por casos raros de efeitos colaterais se é que isso é verdade (autismo). Já tivemos problemas com a vacina BCG, a vacina Sabin oral para Poliomielite, mas foi ela que acabou com a doença no mundo, restando alguns focos na Índia e na África. Hoje volta a primeira vacina Salk de vírus mortos que não provoca doença em crianças com imunidade baixa porem mais difícil de ser aplicada em campanhas. O Zé Gotinha vai a qualquer lugar. Fique atento a carteira de vacinação de seus filhos e não caiam nessa conversa de não vacina-los por favor. A consciência não apagará esse ato de ignorância.