segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

A CRIANÇA E A BABÁ

A CRIANÇA E A BABÁ

FERNANDO AZEVEDO

Vamos voltar setenta anos. Não havia uma casa de classe média que não tivesse uma a duas empregadas domésticas residentes. A procedência sempre do interior, adolescentes que vinham para a cidade grande em busca de melhores condições sociais. Mão de obra barata, não havia as leis de proteção, sendo realmente um emprego subalterno. Permaneciam nas casas por uma vida. Ainda hoje visito Zefa que morou conosco por mais de 40 anos e me levava para a escola primária. O vínculo afetivo não se desfez embora pela distância e minhas condições de trabalho não a visite com a freqüência que deveria. Mudou-se só após a morte dos meus pais vivendo hoje com sobrinha e com muito carinho. O país tranformou-se e as empregadas residentes foram desaparecendo. Quarto de empregada foi saindo dos projetos arquitetônicos. O emprego passou a ser de diarista. Atualmente está se tornando mais rara ainda a diarista. A mulher de classe média que não trabalhava, era do lar, entrou forte no mercado de trabalho e nas universidades. As avós e avôs antes altamente disponíveis também estão desaparecendo e as ex- empregadas domésticas estão nos supermercados, shoppings e outras atividades.  Quem está sofrendo com isso é a criança pois está perdendo o ambiente do lar. Ou fica com babás geralmente ruins ou péssimas, de alta rotatividade, ou vão para os berçários e escolinhas precocemente. Não tem retorno. A criança que antes vivia sua infância intensamente, pois só ia para a escola aos seis anos, hoje sai do lar aos 4 meses ou seis meses dependendo do tempo de licença maternidade. Se a mãe é autônoma, mais cedo ainda, pois ela precisa ganhar o pão de cada dia e lá se vai a amamentação e convivência. É dureza e por isso  a criança precisa receber dos pais uma enorme dose de dedicação. Esses vínculos afetivos devem ser compensados com programas nos fins de semana, férias, e sem mau humor noturno por possíveis problemas pessoais no trabalho. Só assim a criança fica mais feliz e sem precisar de apoios psicológicos.

ESTÓRIAS DE CONSULTÓRIO
Marta de 3 anos ganha um irmãozinho e perdeu o reinado. Algum tempo depois a mãe surpreendida pelo choro do bebê no berço, percebe a menina com a mão no pescoço dele.
- Minha filha! Você quer matar seu irmão?
- Eu não consiiiiigo!

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

O REI MOMO E O FEBEAPA

O REI MOMO E O FEBEAPA

FERNANDO AZEVEDO

Ai que saudade de Sergio Porto o Stanislaw Ponte Preta genial cronista carioca. Teria material farto para ilustrar o seu FEBEAPA. Para os mais novos que não o conheceram, a sigla queria dizer Festival de Besteiras que Assola o País.  A decisão de acabar com Rei Momo gordo para não incentivar a obesidade é de lascar! Como se um pai ou mãe planejasse engordar um filho para que no futuro ele se candidatasse a Rei Momo. Trocar o nosso personagem secular do carnaval por um garoto “sarado” com barriga de tanquinho é uma decisão que tem que ser levada a Stanislaw onde quer que ele esteja. Lógico que a obesidade deve ser combatida logo no período de recém nascido e por isso lutamos tanto pela amamentação até os dois anos de vida e combatemos permanentemente os famosos salgadinhos e biscoitos recheados grandes vilões da obesidade infantil. Mas daí para imaginar um mundo sem gordos é uma utopia sem limites e querer tirar do gordo a alegria de ser o Rei Momo uma injustiça. Uma das maiores inteligências de Pernambuco foi o nosso querido Enéas Alvarez e aceitou ser o Rei, e o maior que nós tivemos. Nenhum carnavalesco o esquecerá. Em toda sociedade existem os pequenos (jóqueis, ginastas olímpicos) os grandes (jogadores de vôlei e basquete, nadadores,tenistas) os magros (corredores de maratonas)  os obesos (lutadores de sumô) os feios (maioria absoluta) e os bonitos que de tão raros são caçados por agências de modelos etc. A  figura de Rei Momo tem que ser exercida obrigatoriamente por um gordo e não por um boyzinho desnudo e musculoso. A coroa não lhe pertence. Estamos com isso descaracterizando o nosso folclore, os nossos folguedos, a nossa história. O carnaval de Pernambuco passou por uma fase de enorme decadência. O triste mela-mela afastou muita gente das ruas, os clubes deixaram de fazer seus famosos bailes com orquestras locais e do sul. O Galo da Madrugada com o intransigente Enéas Freire retomou a nossa festa autêntica. Voltaram as fantasias, crianças e velhos nos blocos, o Recife antigo em festa, turistas de todas as partes do Brasil e do mundo nos visitando e deixando nossa economia aquecida. Alguns não carnavalescos quiseram deturpar Olinda com os Ensaboados e Mangados, logo reprimidos e extintos. Caixas de som recolhidas pela polícia para que os blocos pudessem manter o que Pitombeiras e Elefante e Ceroulas criaram. O carnaval multicultural não me soa bem. Maracatu, Blocos, caboclinhos, Boi,clubes de frevo isso sim. Mas já estão entrando outras coisas como o forró (todo nosso e gostoso) o terrível brega e o rock que tem o ano todo para eles. A idéia de pólos em todos os bairros é ótima, mas abrir carnaval com shows de artistas do sul cheira mal. O Marco Zero é palco pernambucano.  Que venha todo o Brasil nos ver e reverenciar os nossos valores beijando a mão do Rei Momo Gordo, o autêntico Rei do Carnaval.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

A RELAÇÃO MÉDICO PACIENTE


FERNANDO AZEVEDO


- Bom dia
- Bom dia, como vai?
- Dr. Fernando quem me recomendou o senhor foi Lucia, mãe de Bruna e Heitor
- Ah! Que bom, agradeça a ela e diga que estou com saudade dos pimpolhos que já estão ficando grandinhos e somem daqui. Mas o que é que há com o filhote?
-Dr. Fernando ele está bem, mas eu queria que o senhor cuidasse dele a partir de hoje
– Lógico. é uma honra, mas quem cuidava dele?
- Sempre que ele adoecia eu ia para as emergências e de vez em quando eu o levava para o médico do meu plano.
- Mas quem era?
- Era um gordo, meio careca, que tem o consultório atrás do edifício Holiday.
Não pensem que estão lendo ficção. Não estou inventando nada a não ser os nomes, mas essa tem sido uma coisa muito freqüente. Não pode existir esse tipo de relação entre o Pediatra e a família. Não pode existir o “gordo meio careca” e sim Fulano de Tal com nome e sobrenome, endereço e telefone e agora e-mail ou face-book, pois se não houver esse relacionamento a criança está mal assistida e prejudicada  na sua saúde evidentemente. A relação médico paciente dependendo do temperamento de um ou outro pode ser até formal, “profissional” como se costuma chamar. Com outros não, forma-se vínculo forte de amizade o que é uma delícia, mas o que não pode é haver distância entre os dois pois a confiança se quebra, a criança assistida por diversas pessoas não cria amizade com seu Pediatra . Existem momentos em que a criança não pode ser atendida por absoluta impossibilidade na agenda ou férias, por exemplo. Ai  os serviços de urgência devem ser usados mas logo depois que retornem aos seus Pediatras para seguimento. Esse é o modelo. 

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Matéria Publicada no Diário de Pernambuco

A obesidade na criança e adolescente 
Fernando Azevedo
Recife, terça-feira, 26 de abril de 2011
Estou aos 47 anos de profissão tendo que fazer check-up em crianças e, sobretudo adolescentes, visando diagnosticar distúrbios metabólicos, assunto antes tratado em clÍnica de adultos na sua maioria. É crescente a obesidade infanto-juvenil no nosso país, fruto de hábitos alimentares errados e sedentarismo. O erro alimentar eu entendo. As crianças nordestinas, sobretudo, não têm o hábito de comer saladas de verduras, de saborear uma fruta, comer vegetais precedendo ou acompanhando uma refeição, usar frutas como lanche, conter o uso do sal etc., é difícil e frustrante como resultado. Os pais comumente não dão exemplo. São da geração fast-food e vamos e venhamos, tudo que engorda é gostoso e depois do primeiro biscoito recheado... O que mais me espanta, no entanto não é isso. 

O que me aterroriza é a criança sedentária. Onde já se viu isso? Um vulcão que tem que estar permanentemente em erupção, apresenta-se com sua lava presa e em silêncio? Mas vamos analisar porque é sedentária. Para ir ao colégio mesmo que more perto o status não permite chegar a pé ou os pais têm que trabalhar e aproveitam a saída para deixar o filho na escola. Também pesa o fator segurança. No colégio quatro a cinco horas sentado e folga somente para um lanche onde a cantina oferece frituras e refrigerantes. Levar uma fruta de casa é pagar um mico para o resto do curso. Sentado, espera a condução escolar ou os pais. Volta geralmente à tarde para aulas de inglês ou outras (preparação para o futuro) onde sentado fica. Mais um lanchinho e a gloriosa volta para casa onde encontra-se com seu melhor amigo, o computador, lembrando que no caminho vem jogando com esses computadorezinhos portáteis que não sei o nome.

 À noite a TV por assinatura com desenho animado etc., isolado no seu quarto, deitado, movimentando só o dedo polegar para acionar o controle remoto. A atividade física é mínima e se gosta de esportes, perdeu com as transformações sociais e o desaparecimento dos quintais, dos campos de pelada. Nos clubes não encontra o esporte lúdico, recreativo, só a competição interessa. Os condomínios hoje têm a preocupação de oferecer aos moradores quadras, piscinas, mas crianças cansam com a rotina e sobretudo nas férias varam a noite nos games sabendo que podem dormir 12 horas no dia seguinte quando justamente nessa época poderiam exercer maior atividade física. As Academias da Cidade representam uma excelente proposta contra o sedentarismo do adulto e idoso, principais frequentadores, mas esse problema tem que ter seu combate na infância. “Ai que saudade que tenho da aurora da minha vida, da minha infância querida que os anos não trazem mais” (Casimiro de Abreu). Tempo em que os meninos e meninas tinham apelidos que mostravam que o s vulcões da mocidade estavam em erupção contínua: Pixoto, Magrelo, Macarrão, Fred Cordão, Olivia Palito, Caga Sibite, Piaba, Filé de Borboleta. Colesterol? Que diabo era isso?

Fernando Azevedo
Médico Pediatra
fj-azevedo@uol.com.br

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

O XIXI NA CAMA

O XIXI NA CAMA

FERNANDO AZEVEDO

Botem isso na cabeça. Fazer xixi na cama não é culpa da criança ou do adolescente, portanto vamos ajudá-lo. Existe herança. Será que você também foi assim? Se não fizermos isso haverá um impacto significativo no comportamento, no bem estar social e emocional, no otimismo, haverá vergonha, humilhação,e baixa auto-estima.A freqüência diminui com a idade e é maior ate os 4 anos e mais nos meninos. Coisas fundamentais: proteger a cama usando um forro lavável no colchão, fraldas descartáveis, identificar causas desencadeantes. Treinar a bexiga, que é um músculo, urinando e interrompendo a micção várias vezes, usar o banheiro em intervalos regulares durante o dia para criar reflexos.Suportar ao máximo a retenção da urina para só depois fazer xixi. O uso de liquido durante o dia deve ser livre, mas restringido a noite, oferecendo uma dieta mais solida.Existem contradições a esse respeito. Fazer xixi antes de deitar, e se os adultos dormem mais tarde levar o pirralho para um ultimo xixi antes de deitá-lo novamente.Dúvidas em relação a esse método também. Existem alarmes sonoros que se colocam na cama e logo que o xixi molha a roupa eles tocam e a criança acorda. Não tenho experiência com eles. Alguns medicamentos podem ser úteis, mas também tem efeitos colaterais. O importante é estimular a criança, fazer um calendário com os dias que molha a cama e que amanhece com a cama seca. Premiar com elogios etc. e ter paciência. Alguns exames são necessários para analisar o sistema urinário, mas geralmente nada se encontra. Tinha um adolescente que fazia xixi na cama e foi fazer intercâmbio nos Estados Unidos. A mãe apavorada! Nunca molhou a cama do gringo.Tudo passa, tudo passará!
Durante anos andei com um major do exército na Praça de Casa Forte e ele abordou o tema pois chegou um recruta que fazia xixi na cama e me perguntou como eu tratava esses casos. Ai expliquei o que a medicina tinha de armas. Ele retrucou e disse que eu não sabia nada. Relatou então que colocou um sargento sentado numa cadeira junto da cama do recruta e a cada meia hora tinha ordem de acordá-lo e mandar pro banheiro. Se a cama amanhecesse molhada o sargento seria preso por 15 dias. O recruta nunca mais mijou na cama. Coisas da caserna. Quem serviu ao exército como eu ( CPOR) sabe que ordem dada e pra ser cumprida.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

VIAGENS – CUIDADOS ESSENCIAIS

VIAGENS – CUIDADOS ESSENCIAIS

FERNANDO AZEVEDO

O sonho de consumo hoje em dia é viajar. Conhecer lugares, conviver com parentes e amigos, aventuras... Mas tome alguns cuidados. 

1. Para prevenir enjôos (crianças e adultos) pode ser usado DRAMIN (gotas solução oral ou comprimidos) Para todos os medicamentos indicados  nessas orientações leiam a bula pois ficará muito extenso referir cada um. Deve ser tomado meia hora antes de iniciar a viagem. 

2. A famosa DIARREIA DOS VIAJANTES deve ser rigorosamente prevenida para que você não estrague o seu passeio e o dos outros. O exagero na alimentação (programas de comidas e bebidas livres) a desorganização de horários, nunca  coma comida de ambulantes, cuidado com gelo servido que pode ter contaminação, frutos do mar crus sobretudo em épocas de calor, ostras na praia nem pensar, legumes e verduras sempre cozidos evitando as saladas cruas, o perigo das maioneses, purês, alimentos à base de batatas e de leite. Tome água mineral com gás de preferência. Em cruzeiros cuidado com o norovirus responsável por epidemias de diarréia. Lave bem as mãos antes de se servir. 

3. Acontecendo vômitos ou diarréia é fundamental começar a reidratação. Você pode levar REHIDRAT envelopes e dissolver em água ou fazer o soro caseiro: 250ml de água. uma colher de sopa de açúcar e uma de café rasa de sal. Vá repondo o que perde. Água pura não hidrata bem. Não tome nada para “parar” a diarréia. Contra vômitos leve VONAU 4mgs(crianças ) e 8 mgs (adultos) ou DIGESAN (gota e comprimidos). A realimentação deve ser com dieta branda tipo sopas, frutas, chás, arroz, etc. e em pequenas porções até ir melhorando e tendo mais fome. Se notar que o estado geral cai pode ser necessário hidratação venosa. Procure médico ou hospital, não fique repetindo remédios que podem intoxicar pela diminuição da urina conseqüente à desidratação.

4. Se você ou seu filho é alérgico, asmático etc. Não se esqueça de levar o que toma sempre (PREDSIM OU PRELONE ,ESPAÇADOR, AEROLIN OU BEROTEC SPRAY, ANTIALÉRGICO ORAL.)

5. Leve sempre antitérmico para febre acima de 38 ou dor, mas só para alívio de sintomas. Procure a razão da febre. Seguro de viagem é fundamental.

6. Em alguns casos é válido levar um antibiótico (crianças que tem amigdalites freqüentes e se reconhece facilmente a doença, otites) mas não pense em usar se não sabe a causa da febre. Converse com seu médico a respeito.

7. Para os “aventureiros”, “trilheiros” cuidado com a água que consumir. Leve para esterilização de água e alimentos soluções à base de cloro encontradas em postos de saúde ou farmácias (hipoclorito de sódio). Repelentes, antialérgicos (POLARAMINE- esse da sono e podem roubar sua barraca) SIGMALIV, DESALEX.

8. Cuidado com o sol excessivo, que pode provocar intermação ou insolação (dor de cabeça, calafrios, febre, vômitos). Use protetor solar evitando assim queimaduras na pele, tome mais líquido, água de coco, use sempre um boné ou chapéu. Cuidado com biritas e lanchas. Não é uma boa combinação e não se esqueça de bóias salva-vidas. 

9. Quem vai para a neve, leve bons agasalhos, proteja os lábios com hidratantes. São comuns doenças respiratórias. Em climas muito secos o nariz também sofre assim como os olhos. Leve soro para hidratação (MAXIDRATE – nariz –  LACRIMA PLUS (olhos)

10. Conheça o sapato que vai usar. Leve o mais velhinho , não se preocupe com elegância onde ninguém lhe conhece.

11. FAÇA UMA BELÍSSIMA VIAGEM E ME CONTE TUDO NA VOLTA.